É melhor evitar o contato.
Beijar, encostar o rosto, os olhos e as mãos são hábitos que, embora possam ser
difíceis de serem controlados em um momento de comoção, não são recomendados. O
motivo é que todo cadáver tem potencial infeccioso e, por entrar em processo de
decomposição, as bactérias se intensificam e podem causar infecções sérias,
principalmente em pessoas que já estão com o sistema imunológico debilitado.
Nesses casos, um simples corte na pele da pessoa que tocou o morto pode
favorecer a entrada de agentes patogênicos em seu organismo da pessoa.
Antes de ser liberado
para o velório, o corpo passa por vários locais (hospital, necrotério,
funerária) que embora possam seguir normas exigentes de higiene, estão
suscetíveis a contaminações. No caixão, o cadáver ainda pode ser contaminado
pelo contato direto de mãos, lágrimas e secreção nasal das pessoas e até de
flores. Isso contribui para a multiplicação de germes, fungos e bactérias, como
as do grupo coliforme e Staphylococcus aureus, que pode causar conjuntivite e
até pneumonia. O risco de ficar doente costuma ser baixo, mas existe. Para se
precaver, se for a um velório, evite encostar o rosto no morto e depois lave as
mãos com água e sabão ou aplique álcool em gel.
É importante saber que,
após a morte, o corpo pode excretar secreções com alto potencial de transmitir
vírus e bactérias e que nem sempre conseguem ser eliminados completamente por
métodos de esterilização e desinfecção, como os que são usados no
embalsamamento. A literatura médica relata que alguns grupos ou classes de
agentes infecciosos podem sobreviver e serem eliminados pelo cadáver até 48
horas depois do óbito. Não chega a ser uma porcentagem alta, mas por serem
resistentes, oferecem riscos de transmissão de doenças como gripe H1N1,
tuberculose e raiva. Nesses casos, a recomendação é que o caixão seja mantido
fechado durante todo o velório e lacrado quando enviado para sepultamento em
outro município ou país que não seja o de origem. Por isso, o responsável pelo
falecido deve ter seu atestado de óbito com as ressalvas feitas pelo médico e,
se possível, também ter acesso prévio a arquivos hospitalares.
Além dessas ameaças
adquiridas por meio de partículas infectadas e saliva, também podem permanecer
ativos no cadáver por alguns dias vírus como o da hepatite
B e C e o HIV, causador da Aids
(mas no caso do HIV não existe risco de infecção pelo simples toque ou beijo,
você sabe), e até por três anos um agente infeccioso chamado príon, que é
resistente a métodos tradicionais de esterilização e pode causar doenças
degenerativas do sistema nervoso central. Quem trabalha com a manipulação de
cadáveres infectados tem maior risco de contágio, que ocorre geralmente por
contato com sangue, fluidos e materiais cirúrgicos não esterilizados. Porém, em
se tratando do HIV, sabe-se que cadáveres contaminados com esse vírus também
podem transmitir mais facilmente infecções oportunistas, como tuberculose por
até dois dias.
*** Fontes: Edimilson
Migowski, infectologista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro);
Marcus Carvalho, odonto-legista e mestre em biologia buco-dental pela Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas); Reginaldo Franklin, médico-legista,
pesquisador forense e atual diretor da Policlínica da Polícia Civil do Estado
do Rio de Janeiro; Susanne Edinger, infectologista pelo Hospital de Clínicas da
UFPR (Universidade Federal do Paraná) e da Cia. da Consulta; e Elie Fiss,
pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
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