Uma pesquisa conduzida
por especialistas da Fiocruz-BA (Fundação Oswaldo Cruz da Bahia) revela: casos
de infecção causada pelo vírus da zika foram identificados em bebês que
nasceram sem sintomas da doença ou alterações causadas por ela, como a
microcefalia.
O estudo foi realizado
em 2016, depois da ocorrência da epidemia do vírus na capital baiana em 2015.
Salvador foi uma das primeiras cidades a registrar o nascimento de bebês com
microcefalia e uma das mais afetadas no país, como lembra a infectologista
Isadora Siqueira, que é pesquisadora da Fiocruz Bahia.
Ela é a autora
principal do trabalho, que foi publicado no início deste ano na revista
científica International Journal of Gynecology and Obstetrics.
A iniciativa foi levada
a cabo na maternidade Professor José Maria Magalhães Netto, que é pública.
"Convidávamos todas as mães que iam ter bebê lá e apresentaram suspeita de
zika", conta Isadora. Na época ainda não havia um exame para confirmar a
enfermidade, daí dava-se atenção ao relato de sintomas como febre e manchas
vermelhas pelo corpo, o exantema.
No total, foram
avaliados 151 bebês recém-nascidos. Foram coletadas amostras de tecido
placentário, sangue, sangue do cordão umbilical e urina dos bebês para detectar
a presença do vírus.
Os resultados mostraram
que 21% deles, ou 32, tinham microcefalia, sendo que cinco foram considerados
como grave. Nesses pequenos, foram identificados anticorpos para o
microrganismo. Eles também foram submetidos a um exame de imagem, o ultrassom
transfontanela, para checar se existia alguma alteração cerebral compatível com
a redução anormal da cabeça.
Das 119 crianças que
nasceram com o crânio simétrico e arredondado, 17 foram diagnosticadas com a
infecção congênita. Em quatro, o resultado positivo veio do exame de sangue e
nos outros 13, dos testes de urina.
"O diagnóstico no
bebê é difícil", diz Isadora Siqueira. Isso porque a gestante pode se
contaminar, o vírus passar pela placenta, causar estragos no feto, mas o bebê
vem à tona sem o microrganismo.
Daí a necessidade de se
fazer um acompanhamento multidisciplinar dessas crianças depois do nascimento,
sobretudo do seu desenvolvimento neurológico.
Estudos da Fiocruz na
Bahia e no Rio de Janeiro mostraram que 30% desses meninos e meninas
assintomáticos ao nascerem podem apresentar linguagem e cognição prejudicadas.
"O vírus talvez
tenha feito um dano mais discreto", fala a pesquisadora. Em caso de atraso
na fala e afins, pode ser útil a assistência de um fonoaudiólogo.
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