FONTE: Portal Brasil, TRIBUNA DA BAHIA.
Um estudo realizado pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre a efetividade da Lei
Maria da Penha (LMP) mostra que a iniciativa, criada em 2006, fez diminuir
em cerca de 10% a taxa de homicídio contra as mulheres dentro das residências.
Apesar de a LMP não ter como foco
o homicídio de mulheres, a pesquisa partiu do pressuposto de que a violência
doméstica ocorre em ciclos, onde muitas vezes há um acirramento no grau de
agressividade envolvida, que, eventualmente, redunda (muitas vezes de forma
inesperada) na morte do cônjuge.
Segundo o estudo divulgado nesta
quarta-feira (04.03), seria razoável imaginar que a lei, ao fazer cessar ciclos
de agressões intrafamiliares, gere também um efeito de segunda ordem para fazer
diminuir os homicídios ocasionados por questões domésticas e de gênero.
O Instituto, no entanto, ressalta
que a efetividade não se deu de maneira uniforme no País, por causa dos
diferentes graus de institucionalização dos serviços protetivos às vítimas de
violência doméstica.
Dados.
Os dados utilizados para a
análise dizem respeito às agressões letais no Brasil e foram obtidos por meio
do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.
Os registros do SIM são
contabilizados com base nas informações das declarações de óbitos fornecidas
pelos Institutos Médicos Legais (IMLs). Além da “causa básica do óbito”, foram
utilizadas as variáveis referentes ao sexo do indivíduo e à data do registro,
bem como o município de ocorrência.
Metodologia.
Por meio de um método conhecido
como modelo de diferenças em diferenças – “em que os números de homicídios
contra as mulheres dentro dos lares foram confrontados com aqueles que
acometeram os homens“– os pesquisadores do Ipea utilizaram dados do Sistema de
Informações sobre Mortalidade do Sistema Único de Saúde (SUS) para estimar
a existência ou não de efeitos da LMP na redução ou contenção do crescimento
dos índices de homicídios cometidos contra as mulheres.
Por exemplo, se o número de
homicídios de homens e mulheres crescerem no período analisado pela pesquisa,
mas o aumento para os homens tiver sido maior, descontando outros fatores de
influência, a efetividade da lei pode ser verificada, pois, se não houvesse a
LMP, o aumento da taxa de homicídio de mulheres seria ainda maior do que a
observada nos dados.
Análise.
A ideia central para a
identificação do modelo é que existem fatores associados à violência
generalizada na sociedade e, em particular, à violência urbana, que afetam de
forma regular os homicídios de homens e mulheres.
Todavia, existem outros fatores
ligados à questão de gênero que afetam apenas os homicídios de mulheres. Foram
estimados vários modelos que explicam os homicídios e os homicídios dentro das
residências, os quais consideraram efeitos fixos locais e temporais, além de
variáveis de controle para a prevalência de armas de fogo e para o consumo de
bebidas alcoólicas nas microrregiões brasileiras.
Os resultados mostraram
unanimemente que a introdução da LMP gerou efeitos estatisticamente
significativos para fazer diminuir os homicídios de mulheres associados à
questão de gênero.
Evolução
dos homicídios.
A evolução da taxa de homicídios
em residência para o Brasil no período entre 2000 e 2011 é apresentada no
gráfico 1.
A análise dos homicídios dentro
das residências é importante, pois, segundo as evidências internacionais e
nacionais, em mais de 90% dos casos, os responsáveis são conhecidos familiares
da vítima, configurando situações tendem a se aproximar mais dos eventos
associados às questões de gênero.
Para
avaliar se um experimento ou uma lei é efetiva ou não, não basta ver se a
variável de interesse (no caso, homicídios nas residências) aumentou ou
diminuiu. É preciso construir um cenário contrafactual. Ou seja, se não
houvesse a lei, as homicídios teriam crescido mais do que o que foi observado?
A resposta é positiva, então, a lei foi efetiva.
O aumento no número de homicídios em residência pode ter sido influenciado por outros fatores socioeconômicos. O modelo de diferenças em diferenças mede o supracitado cenário contrafactual ao comparar a evolução da taxa de homicídios entre homens e mulheres e, além disso, levar em conta especificidades locais (no nível das microrregiões), que podem afetar diferentemente a violência contra homens e mulheres, e tendências temporais, que podem ser resultado de mudanças estruturais e/ou políticas passíveis de afetar as trajetórias de homicídios.
O aumento no número de homicídios em residência pode ter sido influenciado por outros fatores socioeconômicos. O modelo de diferenças em diferenças mede o supracitado cenário contrafactual ao comparar a evolução da taxa de homicídios entre homens e mulheres e, além disso, levar em conta especificidades locais (no nível das microrregiões), que podem afetar diferentemente a violência contra homens e mulheres, e tendências temporais, que podem ser resultado de mudanças estruturais e/ou políticas passíveis de afetar as trajetórias de homicídios.
Ademais, o modelo considera a
evolução da prevalência de armas de fogo e de ingestão de bebidas alcoólicas,
que poderia interferir na regularidade dos homicídios de homens e mulheres.
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