FONTE: Elioenai Paes, TRIBUNA DA BAHIA.
Farmacêutica explica que antibióticos destroem a
flora intestinal responsável pela reabsorção do estrogênio; usar preservativo
durante um período evita gravidez inesperada.
Mulheres
que tomam pílula anticoncepcional devem ficar atentas quando estão com algum
problema de saúde que exija o uso de antibióticos. A razão? Esses
antimicrobianos podem cortar ou diminuir o efeito da pílula. O resultado pode
ser uma gravidez indesejada.
Quando
um médico receita um antibiótico, não dá para não tomar. Afinal, se houve a
recomendação é porque existem bactérias maléficas circulando no corpo, causando
alguma doença. Deixar de tomar pode levar à morte. Por outro lado, o
antibiótico pode oferecer risco à mulher que toma pílula e que não
deseja engravidar.
Resolver o problema é simples.
Basta
usar um método anticoncepcional de barreira (preservativo feminino e masculino,
diafragma, esponja contraceptiva e espermicida) durante o uso do
antimicrobiano e também uma semana depois, sem parar de tomar a pílula.
Essa é a forma mais segura e que evita uma concepção fora dos planos.
“Esse
assunto é polêmico, mas os casos acontecem, por isso todo cuidado é pouco”,
alerta Amouni Mourad, assessora técnica do Conselho Regional de Farmácia de São
Paulo e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Os
antibióticos de largo espectro, aqueles que conseguem matar mais tipos de
bactérias, são os mais perigosos, segundo a farmacêutica. Nessa lista estão
penicilina, amoxilina, eritromicina, tetraciclina e rifampicina.
Para
entender melhor porque um antibiótico pode colocar em risco a eficácia da
pílula, é preciso saber como eles agem no organismo. Os antibióticos, explica
Amouni, destroem a microbiota intestinal, mais conhecida por flora bacteriana.
Essa flora é importante para o anticoncepcional funcionar.
“Existem,
naturalmente, bactérias no intestino. Os antibióticos matam as patogênicas,
causadoras da doença, mas também destroem as outras bactérias do intestino”,
diz. Essas bactérias que habitam o intestino são responsáveis pela reativação
do estrogênio. Sem o trabalho delas, o estrogênio simplesmente é eliminado do
corpo e a mulher pode ficar desprotegida e engravidar.
Amouni
esclarece que esse fenômeno não vai necessariamente acontecer com todas as
mulheres que tomarem antibióticos com pílulas anticoncepcionais, mas que “todo
o cuidado é pouco” para quem não deseja engravidar.
A
recomendação é, mesmo tomando a pílula diariamente, usar um método
anticoncepcional de barreira durante o uso do antibiótico e continuar usando ao
menos uma semana depois de interromper o remédio. Amouni é ainda mais
conservadora e diz que o mais seguro, na verdade, é usar preservativo
durante um mês.
Entenda porque a flora intestinal protege contra a gravidez
indesejada.
Quando
a mulher toma a pílula, ela vai para o estômago e é absorvida pelo trato
gastrointestinal. Depois disso, cai na corrente sanguínea e vai para o órgão
responsável pela metabolização do remédio: o fígado.
Cerca
de metade desse estrogênio que chegou ao fígado é ativado e começa a proteger a
mulher contra uma gravidez. A outra metade, no entanto, se transforma em compostos
sem nenhuma ação contraceptiva, são excretados pela bile e vão para o
intestino.
É nesse
momento que as bactérias da flora intestinal entram em ação: elas produzem uma
enzima que transforma esses compostos que o fígado não aproveitou em estrogênio
ativo novamente que, por sua vez, cai na corrente sanguínea e continua
protegendo a mulher contra uma gravidez, até a tomada da nova pílula.
Se o
antibiótico já estiver exterminado essas bactérias, não há a produção dessa
enzima que reativa o estrogênio “anulado” pelo fígado e esse estrogênio é
eliminado do corpo. A mulher, então, fica desprotegida.
Para que arriscar?
Antigamente,
as doses hormonais dos contraceptivos orais eram altíssimas, então o risco de
interação com os antibióticos era menor, já que havia uma quantidade maior de
estrogênio circulando.
Amouni
explica que essas altas doses ajudavam na contracepção e não sofriam
interferência de antibióticos, mas, em contrapartida, causavam reações adversas
mais severas. As dosagens, com o tempo, foram diminuindo, mas a eficácia da
pílula depende do bom funcionamento do fígado e da harmonia na flora
intestinal.
“Há
casos nos Estados Unidos em que a mulher tomou antibiótico por causa de um
tratamento dentário e engravidou por causa disso. O dentista foi processado”,
conta a farmacêutica.
Ela diz
que cada mulher tem o seu metabolismo próprio, então não é certeza de todas vão
engravidar se tomar antibiótico junto com a pílula. Amouni, no entanto, chama a
atenção para o uso do preservativo pelo período do tratamento com antibiótico e
por uma semana depois, no mínimo. “Pronto, com isso a mulher já se garante. Pra
que arriscar?”
Antibiótico para tuberculose é ainda mais arriscado.
Amouni
explica que a rifampicina, um antibiótico de largo espectro usado comumente no
tratamento contra a tuberculose, além de poder cortar o efeito da pílula por
causa da destruição da flora bacteriana, ele também acelera o metabolismo de
eliminação do remédio, fazendo com que o estrogênio seja eliminado mais rapidamente.
Os
anticonvulsivantes também aceleram o metabolismo de eliminação do estrogênio.
Com isso, em vez de ele ficar circulando no organismo e protegendo a mulher até
a tomada da próxima pílula, ele é eliminado, e a mulher pode ter uma gravidez
inesperada.
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