Filha de mãe alcoólatra, mãe aos 14
anos, baleada duas vezes e presa por vender crack. A história da americana
Patricia Williams faria muito gente chorar --mas, contada por ela, faz rir.
Ms. Pat, como é conhecida, foi de
traficante à comediante. Ela se baseia nas próprias dificuldades de sua vida
para fazer seu repertório.
"O humor me curou, me permitiu
ser livre", diz ela em entrevista à BBC.
Filha de mãe solteira e alcoólatra,
Patrícia foi criada na casa do avô, que vendia álcool ilegalmente. A família
teve que se mudar quando ele atirou em um de seus clientes.
A irmã e os dois irmãos dela acabaram
tendo problemas com álcool e drogas.
Já ela conheceu um homem aos 12 anos
e engravidou pela primeira vez aos 14. Aos 15, teve outro filho. Aos 16, ficou
grávida mas decidiu fazer um aborto.
"Eu estava lutando para
sobreviver, não podia sustentar mais um filho. Não conseguia emprego porque
deveria estar na escola", conta ela.
Ela não sabia, mas o pai das crianças
era um homem casado. E quando ela tinha 15 anos, ele atirou nela.
"Cresci com minha mãe, que
estava numa relação abusiva com meu pai, me dizendo 'se um homem não te bate,
ele não te ama'."
Um dia, conta, o namorado chegou com
uma arma. Ele alega que não tinha a intenção de atirar contra ela, mas a arma
disparou e a atingiu na cabeça.
"Ele correu e me deixou lá,
sangrando no chão."
Vendedora de crack.
Depois disso, para sustentar os
filhos, ela começou a vender crack, por volta de 1987. Ganhava entre US$ 5 mil
e US$ 10 mil por dia com o negócio: comprou carro, apartamento e conseguiu
cuidar dos filhos.
"Nunca usei drogas. Cresci numa
casa com abuso de álcool e drogas e dizia 'nunca vou ser como vocês'."
Patricia diz que nunca pensou em ser
presa porque era menor de idade.
Mas, assim que fez 18 anos, a polícia
bateu em sua porta. Ela se declarou culpada e foi condenada, mas ficou fora da
prisão devido a uma condicional.
Ela diz, porém, que sabia que, assim
que fosse liberada sob condicional, voltaria a vender crack, "a única
coisa que sabia fazer".
Isso de fato ocorreu e, ao violar a
condicional, acabou sendo presa. Os seis meses de cadeia, diz, a fizeram
pensar.
"Estar na prisão me deu tempo
para refletir sobre a minha vida. Porque minha vida aconteceu muito rápido,
quando eu estava na 7ª série, eu já tinha um filho, nunca tive tempo para
desacelerar e ver como minha vida estava sem controle."
Logo que saiu da prisão, começou a
namorar um homem que havia saído do serviço militar.
Humor.
Mas aí, outra bomba: usuária de
crack, a irmã de Patricia perdeu a guarda de seus quatro filhos, que foram
entregues a ela que, na época, tinha entre 18 e 19 anos.
"Quando cheguei em casa, ele
estava com as malas prontas. Mas ele não foi, ele ficou e acabou sendo um pai
para seis filhos", diz Patricia.
Depois disso ela começou a trabalhar
no McDonald's, voltou para a escola e trabalhou também na General Motors.
Mas foi uma ida ao serviço de
seguridade social que a fez começar a carreira como comediante.
"Eu sempre ia ao serviço social
e contava várias das minhas histórias para que as pessoas ficassem com pena de
mim. Sempre funcionava com as mulheres brancas, mas uma vez peguei uma negra e
ela caiu na gargalhada e disse que eu deveria ser comediante, que eu tinha
histórias como as do (também comediante) Richard Pryor."
Ela diz que suas primeiras apresentações
de stand-up comedy a deixaram nervosa.
"É assustador, porque quando
você se abre você permite que as pessoas te julguem. Quando eu vendia crack, eu
costumava colocar a droga na calcinha da minha filha. Nem todo mundo leva isso
na boa. Mas eu consigo olhar pra isso agora e rir. Eu sempre digo que era uma
mãe horrível, mas eu tinha 15 anos, o que você esperava?"
Uma das piadas que costuma fazer em
seus espetáculos é sobre quando foi baleada na rua.
"Isso foi engraçado. Sabem o que
aprendi com isso? Que ter dois mamilos é algo superestimado", diz, aos
risos.
"Se há algo na sua vida que te
causa sofrimento, quando você aprende a rir disso, você passa a ter controle. O
humor me curou, me permitiu ser livre", diz ela.
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