FONTE: Cintia Baio, Colaboração para o UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
"Menino, não ande descalço, o
chão está frio! Vai pegar um resfriado!". Quem nunca ouviu uma frase
parecida com essa, provavelmente da mãe ou da avó? Então, surge a dúvida: é
verdade que andar descalço, sair com o cabelo molhado no vento ou tomar friagem
realmente pode provocar um resfriado?
A resposta direta é não. Gripes e
resfriados (e a maioria das doenças respiratórias) são causadas por vírus e não
por oscilações de temperatura. Mas o frio (ou a friagem) pode causar reações
que contribuem para que o sistema respiratório fique vulnerável aos
"ataques" de vírus causadores do resfriado e da gripe e,
principalmente, iniciem uma crise de rinite alérgica.
Funciona assim: quando os
microrganismos atingem nossas mucosas, o nariz começa a escorrer, tossimos,
temos dificuldades para respirar etc. Mas isso só acontece se houver a presença
desses vírus (e bactérias também). Caso contrário, a única coisa que nosso
corpo sentirá ao ser exposto a um vento frio ou a um sorvete gelado, por
exemplo, será frio.
Até hoje, muitos estudos tentaram
relacionar temperaturas baixas e resfriado, mas nenhum deles conseguiu provar
qualquer ligação. Pesquisadores da Universidade de Virgínia, nos EUA, por
exemplo, inocularam um mesmo vírus causador de resfriados em dois grupos de
voluntários.
Um dos grupos ficou por mais de uma
hora dentro de uma espécie de geladeira e depois mais um tempo fora, só de
cueca. Já os outros permaneceram bem agasalhados e aquecidos. O resultado?
Todos ficaram doentes.
Embora não exista nenhum dado que
afirme que o frio seja o causador da gripe, é correto dizer que no inverno o
número de pessoas gripadas é maior. Quando a temperatura está baixa, é comum
passarmos mais tempo em locais fechados e quentinhos. A aglomeração de pessoas
em um ambiente aquecido é um dos lugares prediletos dos vírus, que vão passando
de um indivíduo para o outro.
Quando a temperatura cai, o ar também
tende a ficar mais seco. Isso contribui para o ressecamento das mucosas do
aparelho respiratório. Esse ressecamento interfere na produção das secreções
com anticorpos que ajudam na defesa do organismo. Com a imunidade comprometida,
a chance do corpo ser "atacado" por microrganismos aumenta.
Além disso, o corpo humano está
constantemente tentando manter a temperatura normal do organismo, através do
hipotálamo. Quando submetido a temperaturas mais baixas (ou a friagem), o corpo
responde com a vasoconstrição, ou seja, a contração dos vasos sanguíneos. Dessa
maneira, a circulação do sangue e, consequentemente, dos anticorpos, fica mais
difícil, expondo o organismo a agentes externos.
De olho na rinite.
Para o clínico geral Paulo Camiz e o
pneumologista Mauro Gomes, a história de andar descalço ou tomar friagem está
muito mais ligada aos processos de rinite alérgica. Esses sim podem piorar com
as mudanças de temperatura.
Ao contrário da gripe e do resfriado,
a doença não está ligada a vírus, mas sim a uma inflamação da mucosa do nariz
que ocorre ao entrar em contato com algum agente causador de alergias,
principalmente os ácaros.
"A variação brusca da
temperatura, principalmente do quente para o frio, pode desencadear um processo
alérgico no sistema respiratório em pessoas sensíveis. Quando pisamos em um
chão frio, por exemplo, nosso organismo pode interpretar que aconteceu essa
variação e então desencadear crises de espirro, coriza e obstrução nasal",
explica Gomes.
Assim como no resfriado, durante uma
crise de rinite alérgica, há uma contração dos vasos sanguíneos do trato
respiratório. "Se o paciente ficar muito tempo com o nariz entupido ou com
uma secreção abundante, a chance de haver uma infecção por algum vírus é
grande", completa Camiz.
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