FONTE: *** Cintia Baio,
Colaboração para o UOL (noticias.uol.com.br).
Você foge de
monstros, é enterrado vivo, cai de um prédio, tenta gritar e não consegue. Por
fim, acorda com o coração disparado, com uma sensação de angústia, assustado e
então percebe que tudo não passou de um (terrível) pesadelo.
Os pesadelos nada
mais são do que sonhos ruins que despertam sensações de medo, angústia,
tristeza e raiva. Pelo menos metade da população mundial tem esse tipo de sonho
esporadicamente e entre 2% a 8% dos adultos sofrem com pesadelos frequentes.
Assim como os sonhos,
os pesadelos costumam acontecer durante a fase mais profunda do sono, conhecida
como REM (sigla em inglês para movimento rápido dos olhos). Esse estágio dura,
em média, meia hora e pode se repetir até seis vezes por noite.
Isso significa que
podemos ter até seis sonhos (ou pesadelos) em uma única noite? Sim, podemos. No
entanto, não é fácil lembrar todos eles ao amanhecer. Só nos lembramos dos
sonhos se, durante o ciclo, despertarmos logo após eles acontecerem. Como os
pesadelos trazem uma carga emocional muito grande é muito comum acordamos assim
que ele termina. Consequentemente, são mais fáceis de lembrar.
O que causa o pesadelo?
As razões pelas quais
os pesadelos acontecem ainda não são claras, mas há algumas possibilidades. Uma
delas é que, assim como os sonhos, eles podem refletir situações que não
conseguimos lidar muito bem diariamente. Estresse, ansiedade, rotina de sono
irregular, uso de medicamentos antidepressivos e para hipertensão podem
aumentar o risco de ter pesadelos.
Pessoas que sofreram
algum tipo de trauma recente, como acidentes, assalto, estupro, morte de uma
pessoa querida, tendem a ter sonhos ruins cuja temática esteja, de alguma
maneira, ligada ao estresse a que foram submetidos. É como se o cérebro
avisasse que elas precisam passar por todo o trauma de novo até superar seu
medo.
Problemas físicos ou
desconfortos durante o sono também podem causar pesadelos. Quem sofre de
apneia, por exemplo, pode incorporar a sensação de falta de ar no sonho. Sabe
aquela velha frase "não dorme de barriga cheia que você terá
pesadelo"? Pois bem, se a alguma coisa não caiu bem ou se o alimento está
dando muito trabalho para ser digerido, é bem provável que essa sensação seja
transportada para os sonhos.
Isso acontece porque
durante o sono REM, mesmo dormindo profundamente, todos os nossos sentidos
ainda estão "funcionando". Com isso, qualquer estímulo externo é
percebido e adicionado ao sonho ou pesadelo.
A partir de que idade
temos pesadelos?
Os sonhos ruins nos
acompanham durante toda a vida. Costumam aparecer por volta dos quatro ou cinco
anos e serem mais intensos durante a infância por conta da maturação cerebral
ainda estar em fase de consolidação.
Na fase adulta,
tendem a ser bem menos frequentes, mas acontecem com maior intensidade quando
alguma coisa na vida não vai bem: aumento dos níveis de estresse, ansiedade
diante de uma situação nova, traumas etc.
E quais são os temas que mais
se repetem nos pesadelos?
Uma pesquisa feita
pela Universidade de Montreal, no Canadá, a partir da narrativa de cerca de dez
mil sonhos, mostrou que a agressão física é o tema mais frequente relatado em
pesadelos, citado por 31,5% dos entrevistados. Morte, preocupações com saúde e
ameaças são outros temas recorrentes.
De acordo com o
estudo, os homens costumam ter mais pesadelos com temas envolvendo desastres e
calamidades, como inundações, terremotos e guerra. Já temas que envolvem
conflitos interpessoais são duas vezes mais frequentes nos pesadelos das
mulheres.
A partir das
entrevistas, os pesquisadores concluíram que o medo não é sempre um fator que
faz parte dos pesadelos. Segundo os cientistas, o medo é quase nulo nos sonhos
ruins e é descrito em apenas um terço dos pesadelos. O que se faz sentir em vez
disso é tristeza, confusão, culpa, desgosto etc.
É possível evitar os
pesadelos?
Segundo os
especialistas, os pesadelos não precisam ser encarados como algo prejudicial a
saúde. Quando esporádicos, eles podem até ajudar a resolver algumas questões e
superar medos. O problema é quando passam a ser constantes.
No mundo, de 2% a 8%
das pessoas dizem ter pesadelos constantes, mais de uma vez por semana e, em
alguns casos, mais de um a cada noite de sono. Metade das crianças entre 3 e 6
anos também tem sonhos ruins constantemente.
O tratamento
dependerá das causas do excesso de pesadelos. O médico irá investigar se existe
alguma anormalidade física ou se a pessoa está passando por muitos problemas
que causam situações estressantes.
A partir daí, o
tratamento varia desde terapia até medicação para controlar a ansiedade. Em
alguns casos, os pacientes podem ser treinados para terem sonhos lúcidos, ou
seja, conseguirem ter consciência de que estão sonhando e, ainda, ter a
capacidade de mudar os rumos do pesadelo.
*** Fontes: Luciano Ribeiro, neurologista do Instituto do Sono, e
Rosana Cardoso Alves, neurologista especializada em Medicina do Sono do
laboratório Fleury.