segunda-feira, 28 de março de 2016

OBESIDADE INFANTIL PODE ESTAR MESMO MASCARANDO UMA SÉRIA DE PROBLEMAS...

FONTE: Ana Paula Henkel, atleta olímpica, TRIBUNA DA BAHIA.

Texto publicado pelo site Jolivi, parceiro da Tribuna da Bahia.


A ideia de escrever sobre isso surgiu enquanto eu lia um artigo sobre a tão falada obesidade infantil.

Então, pensei em trazer esta temática já que acredito que todos nós estamos cercados por crianças. Sejam filhos, sobrinhos, netos ou mesmo os filhos de amigos.

Também me dei conta que, para a gente mudar este cenário, preciso mesmo da sua ajuda e da sua atenção.

Sem titubear, passou da hora de falar sobre isso.
Vamos lá.

Existem tantos aspectos que podem ser abordados dentro da obesidade na infância, mas em tudo que eu leio detecto um ponto em comum.

Veja só. De uma forma ou de outra, as crianças que sofrem com esse problema irão conviver com as consequências dele durante anos, da adolescência e até mesmo na vida adulta.

Então, é fato que - ainda que você não tenha um filho ou não conviva com nenhuma criança de forma próxima - pode se beneficiar com o assunto de hoje caso tenha sido um dos rechonchudos quando menino.

Mais: se você hoje está sofrendo com o excesso de peso – nada menos do que 60% da população está nesta condição mostra o Ministério da Saúde – a origem disso tudo pode ter sido o padrão alimentar errático da sua infância.

Antes de mergulhar no texto, uma breve explicaçãozinha.

Eu escrevi, logicamente, pela minha perspectiva e ótica.

Escrevi como atleta, mãe e testemunha de amigos que dedicam boa parte do tempo aos filhos queridos, que, por muitas vezes, sofrem calados e angustiados com este problema.

Antes de mais nada, temos de ter em mente que cada caso merece uma abordagem diferente e única.

Assim como nós adultos, toda criança tem a sua individualidade, e as receitas pré-fabricadas, que prometem a solução e o emagrecimento, devem ser evitadas.

E todas as crianças que estão acima do peso normal para a idade - que podem ser identificadas na curva de crescimento ou mesmo apontadas por profissionais da área da saúde, como pediatras e professores de educação física - devem ser levadas a um especialista para uma avaliação completa.

Isso porque, as dietas açucaradas e gordurosas que engordam as nossas crianças também fazem com que elas convivam com problemas típicos de idosos, como doenças no coração e pressão alta, precisando de intervenções imediatas.

Obesidade é doença.
Acredito que, antes de apontarmos o dedo para os pais, para sanar realmente o problema, devemos entender as causas desta doença.

Sim leitor, a obesidade é uma doença.

As últimas informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nos contam que 1 em cada 3 brasileirinhos está com peso inapropriado para a altura.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) , mais de 42 milhões de pequenos, com menos de 5 anos, estão acima do peso no mundo. Sendo que 35 milhões estão nos países em desenvolvimento, como o Brasil.

E fica o alerta, pois outras 92 milhões de crianças fazem parte da estatística de risco para sobrepeso e obesidade.

É muito preocupante, e eu te pergunto: será que essas crianças não podem estar passando por algum distúrbio de ansiedade? Depressão? Desequilíbrio hormonal?

Não seria simplista demais creditar todo este cenário à gula infantil?

Existem muitos aspectos nesta esfera, que devem ser discutidos com um médico ou mesmo com psicólogos.

Volto a repetir: o envolvimento de toda a família e uma reflexão profunda sobre as causas da obesidade são os melhores ingredientes desta dieta.

O meu olhar.
Bem, vamos ao que eu vejo, fora do mundo médico.

Uma coisa que noto em muitos adultos, que me pedem ajuda em dietas, é a falta de planejamento em suas refeições.

A rapidez com que sentam à mesa (quando sentam!) e a pressa para terminar de comer também chamam a minha atenção.

Não há interação familiar.

Não há cuidado, tudo é muito automático.

Há apenas a ânsia dos garotos e garotas em terminar a refeição e voltar para seus laptops, tablets, jogos, TVs. Isso quando não levam estes eletroeletrônicos à mesa.

100 anos? Meu sonho.
Tá, isso você deve estar careca de saber, mas como resolver?
Você já ouviu falar nas “zonas azuis” do mundo?
Não? Vou te contar um pouco sobre elas.
Estas regiões são famosas – e também observadas e estudadas por diversos pesquisadores – porque o percentual de habitantes que ultrapassa os 100 anos é admirável e fora dos padrões.

As zonas azuis são 5.
-- 
Ilhas de Okinawa, no Japão;
-- Loma Linda, na Califórnia (EUA);
-- Península de Nicoya, na Costa Rica;
-- Icária, na Grécia;
-- Sardenha, na Itália.

E sabe o que essas populações têm em comum?

Dietas saudáveis e boas práticas de vida.

Todos nós sabemos que a combinação de hábitos saudáveis e a genética é fator decisivo quando falamos dessas pessoas centenárias e com saúde.

Mas sei também que, com o marketing das indústrias alimentícias, que vendem bolachas em saquinho dizendo ser a coisa mais saudável do mundo, a gente anda meio confuso em saber o que é uma alimentação boa.

Mas olha que legal o que as zonas azuis nos ensinam!

Além de identificarem que a alimentação nestas localidades é composta por “comida de verdade” em vez de ensacados e plastificados, os pesquisadores encontraram mais explicações para o padrão alimentar tão bom.

Para essa “turma” viver por tantos anos sem sobrepeso e sem doenças, eles costumam estampar um largo sorriso no rosto. Além disso, tan tan taaaam... eles são adeptos de, ao menos, uma refeição “demorada” por dia.

Sim. Este movimento de passar um bom tempo à mesa ao velho estilo italiano - com a família reunida, muita conversa, interação e, consequentemente, uma “dose cavalar” de serotonina (o hormônio do bem-estar) - traz um tempero terapêutico para a dieta dos homens mais saudáveis do mundo.

Em terra de “fast food”, acho que você já começou a pescar onde quero chegar, não é?

A culpa é de quem?
Eu não quero, em hipótese alguma, jogar alguma culpa nos pais por estarem passando por alguma situação onde a obesidade infantil é presente.

Não.

Porém, é bem verdade que as crianças de hoje estão sempre a mil, sem tempo para nada, encaixando uma atividade na outra, com muito pouco tempo para uma refeição calma, um bate-papo sobre o último jogo de vôlei e um espaço onde seja possível a interação.

Minha questão é que, neste ritmo, de não poder parar por um só minuto, a nutrição paga um preço alto demais, e um dos indícios é a ausência de sorrisos, conversas bobas, e comprometimento com tempo de qualidade com sua família.

Olha, lógico que entendo que temos que produzir, vencer, ganhar dinheiro para prover nossos filhos, ser exemplo de luta... claro!

Mas não é possível que em 7 dias ou 168 horas na semana, você não consiga encontrar apenas uma - uma ou duas horas apenas - para sentar com calma e mostrar o quanto, apesar da loucura do nosso dia a dia, você se importa com a alimentação e vida de seus filhos.

E dividir a refeição.

Sei que quando a gente propõe mudanças, há dúvidas sobre a forma de aplicá-las.

Então, vamos!

Direto para os 3 toques do dia.

1º toque: Institua o “Dia D”.
É assim. Institua o dia da refeição em família e para esta data faça pratos simples, nada muito elaborado.

Chame a família para a cozinha e façam vocês mesmos as receitas escolhidas. Ponham a mão na massa!

Porém, nessas horas e neste dia D, não vale se importar com as notas, se a lição de casa já está feita ou não, com a aula de piano ou o curso de inglês!

Os pais são os exemplos dos seus filhos. Veja só, se você adora ler e as crianças te veem lendo com frequência, pode ter certeza de que uma sementinha literária foi plantada ali.

E o mesmo vale para a alimentação. Então, se você também é do tipo “junk” (expressão americana que caracteriza o indivíduo que se alimenta de porcarias), se proponha a experimentar sabores naturais na frente dos seus filhos.

Abuse de saladas e produtos “in natura”, especialmente as frutas. Tente as menos usuais, como jaca, lichia, que sempre impressionam as crianças.

Se já forem maiores, peça que eles pensem em sugestões de cardápio, e torne o processo divertido. E evite os alimentos ultraprocessados e cheios de veneno, ops, açúcar.

O sucesso em casa do Dia D é um belo ravioli integral com carne, com brócolis, berinjela e pimentão. É uma massa que tem baixo índice glicêmico.

2º toque: “Desça” ao nível etário de seus filhos! Fale do que eles gostam!
Pode ser videogames, revistinhas, filmes... o que eles quiserem!

Você vai ver como em pouco tempo eles estarão te contando coisas que nunca te passaram pela cabeça, e que estavam e estão acontecendo com eles.

Na minha casa foi assim. Vou contar!

Trocamos a correria de toda terça-feira à noite (mesmo sendo dia de semana, mas é um dia sem atividades extras das crianças) por uma noite calma e junta da família.

Se gritos ou alguma confusão invadem nossa terça, é porque estamos envolvidos, jogando algum jogo, falando bobagens ou rindo de algum filme que vemos juntos na televisão.

Tá bom Ana, você tem uma família de comercial de margarina!

Hahahaha....

Claro que não!

Não vou mentir. No começo foi difícil, lógico!

Um filho “aborrescente” que ficava emburrado essa 1 hora sentado à mesa. Uma enteada de 10 anos que não parava de perguntar e gritar coisas ao filho emburrado, que por sua vez, ficava mais emburrado ainda! O marido querendo explicar porque o acordo entre a NASA e a Casa Branca...

AH! EU TINHA VONTADE DE GRITAR “PÁRA QUE EU QUERO DESCER!” (HAHAHA!).

Mas aí...

Depois de algumas semanas de calvário, achando que a 3ª Guerra Mundial começaria pela minha casa, ouvindo que a Barbie Skate não existe mais, que o Barack Obama assinou a lei tal, e tendo como resposta o silêncio absoluto do meu filho, as coisas começaram a mudar...

O caos começou a virar uma rotina deliciosa às terças. Agora, quando os pais estão “ocupados demais”, são as crianças que chamam nossa atenção!

Além disso, passei a sentir outros efeitos.

Minha enteada era a “formiga-mór” da casa: açúcar era o seu vício. Claro que ela ainda come um chocolate aqui e outro ali, mas hoje é a primeira a dizer na segunda ou terça-feira: “o que vamos comprar para cozinhar amanhã?” Ela que não comia uma fruta e verdura, agora é a dona quitandinha! Rs.

3º toque: amor e resiliência nas metas curtas (vale para os relacionamentos também).
Por último leitor, pare e pense.

Eu não insisto com você que as mudanças na sua rotina ou na dieta devem ser feitas aos poucos, mesmo quando temos que persistir para alcançar algo sólido?


Então, o mesmo acontece com essas rotinas familiares e compromissos domésticos. O amor, o cuidado e o carinho, estão por natureza embutidos na persistência e na resiliência.

Claro que todos merecemos nosso silêncio, nossa hora de sossego. Às vezes, entretanto, considere suas opções e escolhas.

Você precisa reler aquele relatório de trabalho agora?

Uma boa dieta para nós e nossos filhos começa com hábitos saudáveis, não apenas nutricionais, mas também mentais, emocionais e psicológicos.

Portanto, meu recado de hoje não é para olhar para a obesidade infantil, ou qualquer outro problema familiar em uma única camada apenas.

Assim como algumas frutas, o segredo está no meio.

O problema da obesidade infantil pode ser melhor talhado quando os filhos não sentem medo ou vergonha de se expor aos pais.

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