segunda-feira, 28 de março de 2016

VEJA POR QUE O OVO ESTÁ PASSANDO DE VILÃO PARA MOCINHO NOS CARDÁPIOS...

FONTE: Daniel Amstalden, TRIBUNA DA BAHIA.

Texto publicado pelo site Jolivi, parceiro da Tribuna da Bahia.


Se tem um alimento que foi malhado nos últimos anos e gozou de má fama, este foi o ovo.

Frito, cozido, de codorna. Os adeptos da cozinha saudável quase se benziam quando a receita diária incluía este ingrediente.

Já, em mais um destes exemplos das contradições da vida, a versão em chocolate do mesmo ovo ganhou status de tradição.

Se por um lado virou ofensa sugerir ovo de segunda à sexta-feira para quem quer que fosse, tornou-se sinal de carinho presentear com doces em formato oval amigos e familiares.

Confesso que, apesar de saber que há um trabalho forte da indústria alimentícia para transformar alguns ótimos alimentos em vilões, fiquei meio receoso em defender o ovo.

Fui consultar então o Dr. Carlos Schlischka, nosso médico consultor e que investiga os nutrientes e os alimentos bons para o nosso desempenho e envelhecimento saudável.

Encontrei um habeas corpus definitivo para o ovo. Mas só para um deles. Continue conosco e surpreenda-se também.

Vamos primeiro aos 8 itens abordados por Dr. Carlos.
1) Os ovos são usados na alimentação humana há milhares de anos com a domesticação das galinhas, e a seleção forçada em cativeiro de raças poedeiras.

2) É considerado um excelente alimento pela sua composição, acessibilidade e baixo custo. É uma fonte barata de proteína animal de boa qualidade, já que a proteína do ovo (albumina) é considerada referência para comparação do valor nutricional das proteínas de outros alimentos.

3) Além disso, os ovos contêm todos os aminoácidos essenciais em proporção adequada. Aminoácidos essenciais são aqueles que o corpo humano é incapaz de sintetizar, mas são fundamentais para o funcionamento do organismo.

4) A clara do ovo é composta somente de albumina e água. A albumina tem alta capacidade digestiva. Consiste em 60% do peso total do ovo.

5) A gema é rica em carotenos, daí a sua cor alaranjada. Os carotenos são precursores da vitamina A. Corresponde a aproximadamente 30% do peso total do ovo.

6) A gema também é rica ainda em vitaminas do complexo B, especialmente Biotina (B7) e Riboflavina (B2) e também vitaminas A e D (lipossolúveis). O consumo de 1 ovo ao dia preenche 40% das necessidades diárias humanas de Riboflavina e 20% das de Biotina.

7) Também está na gema a fonte de colina, precursora da acetil-colina, um dos mais importantes neurotransmissores do sistema nervoso, com efeitos positivos sobre a memória.

8) O ovo ainda é pobre em carboidrato, o que significa que o seu consumo amplia a sensação de saciedade.

Então minha gente, por que deram cartão vermelho para o ovo que é tão bom, bonito e barato?
Porque era fácil culpá-lo pelos males cardíacos...

Se a gente faz uma busca para encontrar os argumentos dos que atacam o ovo, as doenças cardíacas sempre ganham um destaque.

Fiquei pensando que, nas últimas 3 décadas, caiu de forma vertiginosa o consumo de carne e ovos, e a chamada “fábrica de produtos fit” ganhou espaço para reinar como produtora de artigos essenciais para a saúde.

O que quero dizer é que a gente ganhou um medo danado de comer ovos mexidos pela manhã (coisa de norte-americano obeso – só que não !) e nos acostumamos a trocá-lo por uma barra de cereal ou um suco de caixinha, sem que isso representasse perigo...

Mas que belo erro, não?

A derrubada de um mito.
Segundo o que Dr. Carlos me contou, uma das maiores bobagens foi associar o ovo ao colesterol.

“Sabemos que em torno de 90% a 95% do colesterol é produzido no nosso organismo, pelo fígado, pois é uma gordura que serve como base para a síntese dos hormônios de extrema importância, como a testosterona por exemplo”, disse ele.

“O colesterol ingerido por meio dos alimentos é muito pouco. A quantidade é irrelevante para classificar qualquer comida como indutora de colesterol”, afirmou, e para meu espanto continuou.

“Além disso, o ovo tem uma substância natural denominada “lecitina”, que dificulta a absorção do colesterol pelo intestino e é utilizada em medicamentos fitoterápicos com o objetivo de diminuir a absorção do colesterol em excesso na dieta. Portanto, o próprio ovo já contém em sua composição a substância que limita a absorção do temido (?) colesterol”, finalizou para derrubar um dos mitos da alimentação saudável.

Já disse aqui e repito. O colesterol não é este bicho papão que andam dizendo por aí, mas o Dr. Carlos volta nas próximas newsletters com este assunto.

99% anjo e só aquele 1% vagabundo.
A verdade, meu amigo leitor, é que os estudos têm demonstrado que o ovo não é um bandido, e que merece o papel de mocinho na sua Páscoa, Semana Santa, Carnaval e no ano inteiro.

“Não está provado que a ingestão de 1 ou mais ovos ao dia seja responsável pelo aumento de incidência de doenças cardiovasculares. As restrições no consumo são feitas somente para pessoas já portadoras de tais doenças, ou pertencentes ao grupo de risco, como os diabéticos”, alertou o consultor.

Mas nem nestes casos, o que está proibido é o alimento em si. Parafraseando o “filósofo” Wesley Safadão, o ovo tem tudo para ser 99% anjo. O seu preparo é que traz a “carga” de vagabundo.

“A maneira de preparo é o mais importante”, alerta Dr. Carlos. “No caso, os ovos fritos acarretam mais risco não por causa dos seus teores em colesterol, mas sim da degradação pelo calor extremo da gordura utilizada na fritura. Neste processo o ovo sofre alterações como a oxidação, e a transformação de componentes em gordura trans - estas sim responsáveis pela formação de placas nas paredes das artérias.”

Galinha ou codorna, e também tem aquilo lá....
Bom, estamos combinados que o ovo é considerado um ótimo e saudável “fast food”. Para quem está tentando vencer de uma vez por todas a barriga de chope ele também é ótimo, já que “é altamente sacietógeno. Isto é, diminui a sensação de fome”, explicou o Dr. Carlos Schilischika.

Perguntei sobre a recomendação de quantidade a ser consumida e Dr. Carlos pediu para que eu usasse aquele ingrediente tão raro nos dias atuais chamado “bom senso”.

“É lógico que qualquer alimento consumido em excesso pode causar problemas para a saúde. Em média, recomenda-se no máximo 1 ovo ao dia para pessoas que já são portadoras de problemas do metabolismo, como diabéticos, por exemplo”.

“Logicamente a limitação da quantidade dependerá também do grau de acometimento do organismo pela doença. Para jovens ou atletas, por exemplo, o consumo pode ser mais liberal. Tudo depende do bom senso”, entendido e anotado Doutor.

Resolvi perguntar, então, sobre as diferenças entre o ovo de galinha e de codorna. Dr. Carlos então me explicou que o segundo tem mais concentrações de nutrientes e, talvez por isso, tenha recebido o rótulo de ser “bom para aquilo”.

Claro que por ser saudável, o ovo – seja ele qual for – deve ser incluído no cardápio de todos os que querem melhorar o desempenho, seja ele o sexual ou da saúde em si. 
Nosso consultor então consultou a tabela de alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e preparou este quadro comparativo entre o ovo de galinha e o de codorna.

Pelas informações fica claro que ambos são ótimos, com a diferença que ninguém “frita” o segundo, né?

Fonte: Tabela Brasileira de Composição de Alimentos - TACO, 2011.

Ovo de chocolate: liberado?

E o chocolate? E os ovos de chocolate? Amanhã é domingo de Páscoa, Daniel...

É, eu sei...

Saudáveis os ovos de Páscoa não são. Nenhum deles. Nem os amargos e nem os meio-amargos.

Dr. Carlos foi categórico: “os ovos de Páscoa são fabricados com chocolate ao leite (em pó ou condensado), açúcar em grande quantidade, levam vários aditivos para torná-los saborosos, aromatizados, etc.”

Mas nosso consultor não é radical. “Devem ser consumidos, como todas as sobremesas que contêm açúcar, de maneira parcimoniosa.”

Então meu amigo, divida seu ovo de Páscoa. Um pedaço para você, e o restante para os seus familiares.

Prefira os que são feitos de açúcares como o sorbitol e o xilitol - que são muito pouco absorvidos.

E, caso se considere um “chocólatra”, pense que o chocolate de verdade não é nada doce. Na verdade, o cacau puro – que é sim o mais saudável - é muito amargo e rende caretas até a quem diz ser seu amante mais fiel.

Adoradores de chocolate costumam ser viciados em açúcar. E na verdade, acho que os “chocólatras” não existem mesmo. Os que existem são os “açucólatras”.

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