FONTE: Leonardo Aguiar, TRIBUNA DA BAHIA.
Publicado pelo Jolivi, site parceiro do Tribuna da
Bahia.
Eu
quero compartilhar como a minha blusa preferida, uma instituição para cegos e
uma freira ajudaram meu corpo a produzir naturalmente o melhor hormônio
protetor da minha saúde.
Blusa da Nasa.
Em
2015, fiz um curso de autoconhecimento e tive uma experiência muito interessante.
Uma das tarefas do curso era escolher a peça de roupa que eu mais gostava e
levar para a aula. Sem nem pensar muito, abri o armário e tirei uma
camiseta velha. Mas, de fato, não tinha apreço por ela.
Aí.
lembrei do meu amuleto da sorte. Talvez não tivesse pensado nele como uma
vestimenta porque era justamente o que aquela blusa representava para mim: uma
guinada na minha vida.
Mas, se
o dever de casa era para pegar algo de vestir que eu gostava muito, a escolha
estava feita: levaria para aula meu casaco azul de neve, que me acompanhou
durante minha viagem à NASA para discutir a medicina do futuro.
Chegando,
quase tremi de nervoso quando o professor disse que aquela peça selecionada
deveria ser ofertada à primeira pessoa que eu esbarrasse na rua, desde que
fosse um desconhecido. Lá fui eu.
Encontrei
um grupo de andarilhos e chamei o rapaz mais magrinho do grupo. Dei o casaco a
ele, sem contar o quanto aquela blusa representava para mim. Recebi um dos
abraços mais fortes de toda minha vida.
Ele partiu. Eu
fiquei inundado de uma das substâncias mais poderosas para a saúde.
A turma de cegos.
Em
2013, eu conheci a ACEVALI, uma ONG que ajuda na reinserção dos deficientes
visuais na sociedade, por meio de aulas de Braille, informática, locomoção,
artesanato e esportes.
Eu e
meus alunos de medicina da Universidade de Blumenau organizamos um trote
solidário e vendamos alguns estudantes da turma para passarem um dia como cegos
e viverem a experiência que o deficiente visual encontra no dia a dia.
Eram
sempre dois alunos: um vendado e outro que era o guia. Decidimos fazer o trote
solidário para beneficiar aquela instituição. Depois que a comunidade foi
sensibilizada pela entrega dos alunos, conseguimos arrecadar R$ 44 mil reais
para os diretores da ACEVALI. E, mais uma vez, eu e meus alunos fomos
privilegiados de desfrutar o hormônio mais protetor da saúde.
A freira.
No
começo do ano passado conheci a irmã Daiene. A freira me contou que tinha um
sonho de criar um café dentro da Casa Santa Ana, local que abriga moradores de
rua. O “espaço café” seria uma forma dos visitantes interagirem com os
moradores da casa.
Essa
história ficou na minha memória, e um belo dia surgiu a oportunidade de
realizar esse projeto. Levei esse sonho da freira para o Curso de Arquitetura
da Universidade de Blumenau e eles abraçaram a ideia.
O
projeto ficou incrível e a comunidade se engajou fazendo doações. No início do
segundo semestre o café foi inaugurado, servindo – a todos os colaboradores
daquele sonho – doses cavalares de um complexo de moléculas que protege o
coração e a depressão.
Como estas ações protegem a saúde?
Se você
não consegue detectar o elo entre todas essas passagens e como elas protegem o
corpo, eu te conto. Todas essas histórias têm em comum o alinhamento de
propósito de várias pessoas ao redor da generosidade, doação e engajamento com
a comunidade onde estão inseridos.
E a
generosidade, amigo leitor, é um dos pontos de partida bem eficiente para
liberar aocitocina, também chamada de hormônio do amor. Esta substância é tão
importante para a proteção do corpo e da mente que, muitos cientistas
inclusive, têm feito uso dela para tratar problemas aparentemente sem solução,
entre eles dor crônica e depressão profunda.
As
razões disso é que a ocitocina é produzida no cérebro, e faz com que todas as
partes deste órgão sejam estimuladas na sua presença.
Analgésico bom para o coração.
As
pesquisas mostram ainda que este hormônio, liberado também durante a
amamentação, relação sexual e namoro, é capaz de promover uma queda da pressão
arterial, relaxamento do corpo e melhora da circulação sanguínea.
Este
comportamento reativo na presença da ocitocina seria protetor do sistema
cardiovascular, prevenindo contra infartos e acidentes vasculares cerebrais
(AVC´s ou derrames – popularmente chamando), por exemplo.
Mas o
fato de induzir uma espécie de anestesia do sistema nervoso central, no
entanto, é o que credita a este hormônio uma capacidade importante para ser uma
arma natural contra a dor crônica, sem causa aparente e extremamente
incapacitante. Esta condição é chamada na medicina de fibromialgia (já
ouviu esta palavra em algum lugar, certo?).
Amor contra dor.
Estimativas
da Faculdade de Saúde Pública de São Paulo indicam que três em cada dez pessoas
vivenciam ou já vivenciaram as sequelas da fibromialgia. Esta doença é de
difícil diagnóstico, já que não existe um exame específico para detectá-la.
Para
fechar o quadro, caracterizamos a fibromialgia quando a dor não é sequela de
uma artrite, lesão muscular ou problema circulatório e mesmo assim ela
persiste.
Um dos
primeiros pesquisadores que passou a investigar a influência da ocitocina na
melhora dos quadros de dor foi o médico Jorge Flechas, que atua na Flórida –
nos Estados Unidos – na área de saúde familiar.
Quando
esteve no Brasil – há uns cinco anos atrás – para falar de seu projeto de
pesquisa, Flechas afirmou qual foi o ponto de partida que o fez investigar o
poder do hormônio do amor contra dor.
Segundo
ele, foram as grávidas. Isso porque ele detectou que, mulheres enquadradas no
critério de fibromialgia, paravam de sentir dor crônica após o parto e durante
a amamentação.
Uma das
hipóteses é que o aleitamento libera esta substância poderosa chamada ocitocina
e fazia com que o cérebro voltasse a funcionar em normalidade.
José
Alexandre Crippa, neurocientista da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão
Preto, também já fez declarações apaixonadas sobre o hormônio do amor.
Em um
dos seus textos ele disse que: “As pessoas que são mais generosas, solidarias e
altruístas têm melhor qualidade de vida, têm menores taxas de depressão e
ansiedade, tendem a viver mais anos, e tendem a apresentar menores doenças ou
condições medicas gerais”.
Ok, como conseguir?
Saber
que a generosidade, a amamentação e a própria relação sexual são fontes de um
hormônio poderoso contra dor não é a solução para todos os problemas. Até
porque – se você pratica um ato de generosidade só pensando nos benefícios
próprios que vai conseguir – isso deixa de ser, por consequência, generosidade
em si.
Mas
saber identificar a influência do hormônio da ocitocina – com o aval da ciência
– é uma forma de mostrar o quanto as nossas atitudes são extremamente
influentes em nosso quadro de dor, ora funcionando como gatilho dos sintomas
doloridos, ora nos inundando de substâncias protetoras.
Isso
fica também em evidência quando identificamos que uma das coisas mais nocivas e
letais para o corpo é o excesso de estresse, que enferruja literalmente as nossas
células em um processo chamado oxidação, e faz com que fiquemos
inflamados. A dor, sabemos, é a voz da inflamação. E a ocitocina, tudo
indica, um dos princípios da cura.
Além da autoajuda.
Sim! É
evidente que praticar o bem – em um ciclo tipo “gentileza gera gentileza” – é
uma arma importante para que o nosso corpo fique protegido e carregado de
ocitocina. Mas a saúde natural – por meio da alimentação – também pode
ajudar. Isto porque os alimentos também são antídotos para espantar o estresse
e nos estimular, inclusive, a praticar o bem.
Isso é
fisiológico e vai muito além da autoajuda. Então quais são as minhas
recomendações de alimentos?
Cereais: eles
têm farta quantidade de fibras e vitaminas essenciais, além de facilitarem a
passagem do triptofano, substância essencial para a formação dos hormônios do
bem-estar. Aposte nos grãos integrais e insira aveia na salada, por exemplo.
Ovo: ingerir
uma unidade, de uma a duas vezes por semana, ajuda a manter o nível de
triptofano no organismo. Considerado um alimento completo, tem vitaminas do
Complexo B fundamentais para o bom funcionamento do cérebro.
Cacau: é ele
quem dá toda a fama para o chocolate. Por isso, se for consumir o doce, prefira
sempre os chocolates 75% ou mais de cacau. Um tablete por semana, pequeno,
ajuda a dar energia – além de ter ação oxidante.
Banana: fruta
ideal para substituir as barras de cereal. Além da vitamina B6, do magnésio e
do potássio, ela também é rica em triptofano e por isso expulsa o estresse.
Também contribui com vitamina B6, magnésio e potássio – nutrientes que
estimulam a produção de serotonina e ajudam a diminuir ansiedade e irritação. A
frutose (açúcar encontrado na fruta) chega rapidamente à corrente sanguínea e
dá pique extra. Consuma uma banana todo dia.
Abacate: é
rico em gorduras boas e magnésio – essenciais na síntese de serotonina – uma
substância também fundamental para a geração de energia e o bem-estar. Não
tenha medo da gordura dele, e inclua em saladas, como acompanhamento de carnes,
ou mesmo no café da manhã.
Brócolis, couve e espinafre: fontes de ácido fólico e já existem estudos que mostram que
a deficiência está associada à depressão e a outros transtornos de humor. O
consumo diário é o indicado, mas caso não seja possível, tente ao menos 3 vezes
por semana.
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