FONTE: Gretchen Reynolds, The New York
Times, (estilo.uol.com.br).
Ratinhos nascidos de mães que corriam durante a
gravidez se transformam em cobaias que adoram correr quando chegam à idade
adulta, de acordo com um novo experimento, ao passo que os filhotes de mães
sedentárias têm uma atitude menos entusiasmada em relação aos exercícios
físicos.
Embora exista um mundo de diferenças entre ratos
e pessoas, as descobertas do novo estudo indicam a possibilidade de que, até
certo grau, nossa vontade de nos exercitar possa ser influenciada pelos hábitos
de nossas mães durante a gravidez e que isso pode se revelar desde o útero.
A maioria das pessoas já deve ter percebido que
as famílias têm hábitos de exercício similares, uma situação que foi confirmada
em estudos envolvendo pessoas e animais. Filhos de pais sedentários geralmente
são inativos, ao passo que os pais que são fisicamente ativos geralmente têm
filhos que se movem mais e fazem mais exercícios.
Logicamente, o ambiente familiar influencia os
níveis de atividade; as crianças aprendem com os pais e os imitam.
Contudo, pesquisas recentes sugerem que existem
outras influências biológicas mais profundas em jogo, incluindo a genética. Uma
série de estudos identificou diversos trechos de DNA que, quando presentes, predispõem
a pessoa a ser ativa, ao passo que outras variações genéticas podem levar a
pessoa a preferir ficar parada.
Contudo, os cientistas também começaram a se
preocupar com o papel de um processo conhecido como programação
desenvolvimental. De acordo com essa teoria, o corpo do feto e até mesmo seu
DNA podem ser afetados pelo ambiente do útero e pelos primeiros momentos de
vida. Essas mudanças, por sua vez, podem influenciar a saúde e o risco de
certas doenças.
Ratos nascidos de mães que ficaram obesas e com o
metabolismo doente durante a gravidez, por exemplo, têm mais chances de ter
sobrepeso e diabetes quando ficarem adultos, se comparados a ratos
geneticamente idênticos de mães que mantiveram o peso normal durante a
gravidez.
Contudo, ainda é difícil determinar até que ponto
a programação desenvolvimental pode afetar o desejo de praticar atividades
físicas.
Por isso, no novo estudo, que foi publicado neste
mês pela revista científica “FASEB Journal”, os pesquisadores do Baylor College
of Medicine e da Rice University, em Houston, reuniram fêmeas de rato
geneticamente idênticas, colocando-as em seguida em gaiolas com rodas de
exercício.
Ratos gostam de correr, e a maioria desses
animais correu cerca de 9,7 quilômetros por dia. Depois de uma semana com as
rodinhas, as fêmeas foram colocadas com machos da mesma linhagem genética. Elas
ficaram prenhes em seguida.
Neste momento, metade das fêmeas grávidas perdeu
o acesso às rodinhas e não pode correr livremente durante a gravidez.
As outras continuaram a correr à vontade durante
a gravidez e todas mantiveram a atividade, embora as distâncias percorridas e a
velocidade tenham diminuído com o crescimento dos fetos.
Depois que os filhotes cresceram e desmamaram,
eles foram colocados nas próprias gaiolas, sem rodinhas de exercício à
disposição. As gaiolas ficavam em uma área separada das dos ratos adultos, de
forma que os jovens não acompanhariam a rotina de exercícios das mães nem
tentariam imitá-las.
Contudo, em diversos momentos de suas vidas, essa
segunda geração de ratos passou vários dias em gaiolas com as rodas à
disposição, equipadas com monitores que acompanhavam quanto os animais andavam
fora das rodas.
Durante a infância dos filhotes, os cientistas
perceberam poucas diferenças comportamentais entre os ratos jovens. Porém,
quando os animais chegaram à adolescência, os nascidos de mães ativas começaram
a correr mais, percorrendo mais quilômetros nas rodinhas do que os outros ratos
e se movimentando com maior frequência nas gaiolas, nos momentos em que não
estavam correndo.
Essas diferenças aumentaram à medida que os ratos
envelheciam, o que significa que, quando chegavam à meia-idade, os filhotes de
mães corredoras corriam e se moviam muito mais ao longo do dia do que os outros
ratos, embora todos fossem geneticamente iguais e tivessem a mesma criação.
A implicação mais óbvia desses resultados é a de
que “a atividade física da mãe durante a gravidez provavelmente afeta a
atividade física dos filhotes”, afirmou Robert Waterland, professor de
pediatria e genética da Baylor, além de líder do estudo ao lado dos colegas
Jesse Eclarinal e Shaoyu Zhu.
Em resumo, os filhotes de ratas ativas nasceram
para correr.
Mas é claro que os ratos não são pessoas e esse
estudo não é capaz de nos dizer se uma programação similar pode ocorrer em
nossos bebês se formos ativas durante a gravidez.
O estudo também não foi capaz de explicar de que
forma a prática de atividades físicas durante a gravidez é capaz de afetar o
desenvolvimento do desejo de se exercitar no futuro. De acordo com Waterland,
pode ser que os movimentos físicos da mãe mexessem o útero de uma maneira que
afetava o desenvolvimento cerebral em áreas dedicadas ao controle motor e ao
comportamento ou então que determinadas substâncias bioquímicas produzidas pela
mãe durante os exercícios atravessassem a placenta, afetando a fisiologia do
bebê e as atividades genéticas durante toda a vida.
Ele e seus colegas esperam estudar esses pontos
em pesquisas futuras.
Mas, segundo Waterland, por enquanto, o
importante é que nenhuma mãe interprete esses resultados como uma crítica, caso
ela não se exercite muito durante a gravidez. Qualquer pessoa que já carregou
um filho na barriga sabe como a experiência pode ser exaustiva.
Porém, segundo ele, se uma mulher grávida for
capaz de caminhar, correr, nadar ou praticar outra atividade física –com a
permissão do médico–, ela pode melhorar a própria saúde e também ajudar a
incutir no bebê a paixão pelos exercícios.
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