FONTE: TRIBUNA DA
BAHIA.
Cardiologista e Coordenador do
Serviço de Arritmias do HCor alerta para o consumo em excesso de
anti-inflamatórios, que são vendidos livremente no Brasil, sem a necessidade de
receita médica. Isso faz com que algumas pessoas abusem da medicação ou a
utilizem sem estar realmente precisando.
Por
mais inofensivo que pareçam, os analgésicos de venda livre no país têm seu uso
diretamente associado a arritmias cardíacas e morte súbita.
Um
amplo estudo europeu, realizado na Erasmus University Medical Center in
Rotterdam, na Holanda, e publicado no BMJ Open, importante publicação
científica internacional, com mais de 8 mil pacientes, revelou risco de
fibrilação atrial, o tipo mais comum de arritmia, além de sugerir que esse
risco aumente em até 80% para casos de uso contínuo de analgésicos.
Hoje, a
fibrilação atrial atinge 2,5% da população mundial e, conforme a idade avança,
o problema pode afetar até 10% das pessoas com idade a partir de 70 anos, faixa
etária em que mais se usam os anti-inflamatórios.
De
acordo com o cardiologista e coordenador do Serviço de Arritmias Cardíacas do
HCor, Dr. Enrique Pachón, é importante estar atento a essa relação porque o
anti-inflamatório é vendido livremente no Brasil, sem a necessidade de receita
médica. Isso faz com que algumas pessoas abusem da medicação ou a utilizem sem
estar realmente precisando.
Para
realizar o estudo, os pesquisadores acompanharam por 13 anos 8.423 pacientes
com idade média de 69 anos. Foram controlados fatores de risco como pressão
arterial, colesterol e tabagismo, entre outros fatores de risco cardiovascular,
e ainda assim o risco aumentado continuou sendo registrado em associação ao uso
de analgésicos.
A causa
precisa da relação entre arritmias e uso de analgésicos ainda permanece
incerta, mas os pesquisadores supõem que efeitos como retenção de fluídos e
aumento da pressão arterial possam ser os responsáveis. Ambas as reações
adversas das medicações têm comprovada influência no funcionamento cardíaco.
“Os
analgésicos são medicações muito importantes e seguras, desde que ministradas
de forma responsável e com indicação médica. Problemas ocorrem quando seu uso é
indiscriminado e abusivo”, enfatiza Dr. Enrique Pachón.
Segundo
o cardiologista do HCor, é importante considerar que, quando as pessoas
utilizam esses medicamentos, elas o fazem por estar sentindo dor, e a dor é um
importante fator de estresse orgânico.
Esse
estresse altera o perfil hormonal do paciente e o torna mais vulnerável às
arritmias. Nessa condição, a arritmia está mais relacionada à dor do que ao
próprio medicamento utilizado para controlá-la.
Morte súbita.
As
arritmias cardíacas estão diretamente relacionadas ao risco de morte súbita,
porém, é preciso diferenciar as arritmias benignas das malignas. As benignas
geralmente provocam sintomas desagradáveis como palpitações, mas não colocam o
paciente sob risco de vida. Já as malignas podem levar o paciente à morte
rapidamente.
As
arritmias podem passar despercebidas por não gerarem sintomas em muitos
pacientes, enquanto outros pacientes podem ficar extremamente incomodados mesmo
com arritmias de baixo risco.
Todas
as arritmias têm tratamento, por isso o diagnóstico precoce é tão importante
para evitar suas consequências. Identificar as arritmias é muito importante e
muito fácil. Para tal, a medida do pulso cardíaco, que pode ser realizada
facilmente por qualquer pessoa, traz importantes dados sobre o tipo de
arritmia.
“Quando
o coração bate rápido, acima de 100 batimentos por minuto no repouso, chamamos
de taquicardia. Ao contrário, quando bate abaixo de 50 batimentos por minuto é
a bradicardia e ainda há os casos onde o coração bate de forma irregular,
alternando batimentos rápidos com falhas ou batimentos lentos, que chamamos de
fibrilação atrial”, explica Dr. Pachón.
O risco
estimado de morte súbita entre pessoas com idade até 35 anos é de 0,75 a cada
100 mil homens e de apenas 0,13 a cada 100 mil mulheres, o que representa um
risco reduzido. Acima dessa idade, o número se iguala entre homens e mulheres,
com seis mortes a cada 100 mil pessoas.
Palpitações,
desmaios e tonturas são os sintomas mais frequentes relacionados a arritmias
e/ou problemas cardíacos e que devem servir de alerta caso venham a ocorrer.
Pode haver também confusão mental, fraqueza, pressão baixa e dor no peito.
“Contudo,
muitos casos de arritmia são assintomáticos e, como toda doença silenciosa,
isso aumenta o seu risco. Nos casos graves, o primeiro sintoma da arritmia é a
parada cardíaca, que pode ser fatal”, alerta.
“É importante
salientar que a arritmia mais frequente relatada nesse estudo foi a fibrilação
atrial e que esta arritmia isoladamente tem baixo risco de mortalidade apesar
de ser muito incômoda, mas o risco aumenta exponencialmente quando o paciente
tem outras patologias associadas como a doença coronariana (infarto),
hipertensão, diabetes, insuficiência cardíaca e a presença de outras arritmias
mais complexas”, finaliza Dr. Pachón.
Nenhum comentário:
Postar um comentário