Cerca de 30% dos jovens brasileiros com idades entre 18 a
24 anos consomem diariamente refrigerante. É o que mostram os dados do
levantamento Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas
por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, realizado
anualmente desde de 2006 com o objetivo de monitorar os fatores de
risco que podem ocasionar doenças crônicas no Brasil. Mas esta não é a única
estatística alarmante: os hábitos alimentares desta parcela populacional
mais nova preocupam: cerca de 28,5% dos indivíduos consultados também ingerem
doces em grande quantidade.
Carolina Arbache, nutricionista da Natue, acredita que os
hábitos alimentares das pessoas nesta faixa etária sejam tão ruins porque não
há uma preocupação recorrente com a saúde. "O costume de frequentar fast foods, comer guloseimas
foi algo excessivamente reforçado nas últimas décadas. É por isso que cada vez
mais as pessoas se viciam no açúcar, que já foi algo até associado por alguns
estudiosos ao vício por drogas", afirma. "Este consumo está
diretamente associado ao consumo de produtos industrializados que contêm grande
quantidade da substância e que não necessariamente são doces, como é o caso do
molho de tomate e o ketchup", completa a especialista.
A pesquisa ouviu 54 mil brasileiros, e os resultados
foram divulgados pelo Ministério no Dia Mundial da Saúde, último 7 de abril. O
consumo desenfreado de produtos que contêm açúcar industrializado acaba
colaborando para um crescimento significativo da parcela de brasileiros adultos
portadores de diabetes – desde 2006, o número cresceu de 5,5% para 7,4%. Mas o
Brasil não é exceção quando o assunto é a má alimentação: em nível mundial, a
quantidade de diabéticos quadruplicou desde a década de 80. A Organização
Mundial da Saúde (OMS), contava com 108 milhões de pessoas em idade adulta que
sofriam de diabetes em 1980; no ano de 2014, os dados assumiram assustadores
422 milhões.
Um dos principais fatores para o desenvolvimento de
doenças como o diabetes está intimamente relacionado à má alimentação. E,
pasme, o problema não se concentra apenas naquele que é branco, já velho
conhecido de todos nós. De acordo com Carolina, a frutose, que nada mais é que
o açúcar retirado da fruta, também é algo a se prestar atenção: "Quando
ingerido com a fruta não é considerado um problema, mas quando isolado para
compor o sabor artificial de uma bolacha ou barrinha de cereal, por
exemplo."
Outros carboidratos refinados como a farinha de trigo
branca também são responsáveis por provocarem os chamados "picos de
glicose" na nossa corrente sanguínea, e é aí que mora o problema:
"Conforme a recorrência desses picos aumenta, o corpo vai criando uma
resistência à insulina, hormônio que o nosso corpo utiliza para fixar a glicose
que ingerimos para produzir energia." Portanto, é necessária uma
quantidade muito maior do hormônio para suprir a ingestão exacerbada de açúcares,
o que pode evoluir o quadro de resistência para o padrão mais comum de
diabetes, conhecido como o tipo II.
Malefícios do refrigerante.
É por essas e outras razões que tomar refrigerantes
diariamente não é uma atitude aconselhável. Em apenas um copo da bebida,
pode-se encontrar 25g de açúcar – quantidade indicada para consumo diário –
caso você escolha por ingerir uma latinha de 350ml, serão 40g, já ultrapassando
o valor considerado saudável por dia. Mas não se engane, trocar o original pelo
light ou zero, não é uma vantagem, mas justamente o contrário. "O produto
pode não conter a substância em si, mas possui muito mais sódio, capaz de causar
desidratação, além de outras substâncias, como os adoçantes aspartame ou
ciclamato de sódio – tão perigosos para nós que sequer sabemos o risco para a
nossa saúde. Mas uma certeza existe: eles não diminuem o risco de doenças
crônicas", argumenta a nutricionista. Sucos de caixinha convencionais
também não são eleitos os melhores substitutos: alguns possuem ainda mais
açúcar, podendo chegar de 45g a 50g por embalagem.
Questão de hábito.
E para quem acha que já acabou por aqui, saiba que pode
piorar. Pense que cerca de 30% das crianças ingeriram refrigerante antes
de completarem 2 anos de idade, segundo os dados da Pesquisa Nacional de Saúde
(PNS), realizada em parceria com o IBGE. Muito provavelmente esteja aqui um dos
principais catalisadores do vício da geração mais nova por açúcar. Para lutar
contra essa corrente, o ideal é que se evite a ingestão de qualquer tipo de
açúcar até o segundo ano do bebê. Mas para aquelas que estão em um
desafio intenso para diminuir quantidade, Carolina aconselha: "Diminuir a
oferta e dar opções de outras bebidas saudáveis e deliciosas como sucos
e chás gelados é uma boa ideia. E nunca associar o consumo de
refrigerantes com alguma recompensa".
Por mais que o preço seja menor, que você goste
de "sentir o gosto de algo" quando está almoçando, a dica para
aqueles que relutam em deixar de lado os refris é parar aos poucos.
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