quinta-feira, 14 de abril de 2016

HIPERTENSÃO PULMONAR ATINGE 10 MIL BRASILEIROS...

FONTE: Yuri Abreu REPÓRTER, TRIBUNA DA BAHIA.



Ela é uma doença rara, que atinge de 8 a 40 milhões de pessoas no mundo.

Ela é uma doença rara, que atinge de 8 a 40 milhões de pessoas no mundo – no Brasil, a estimativa é de que sejam entre 1.600 a 10 mil – e afeta, sobretudo, a qualidade de vida, já que até mesmo atividades simples do dia-a-dia como tomar um banho ou pentear os cabelos dão sensação semelhante, comparando a um atleta profissional, de estar jogando em locais de altas altitudes e sentir uma falta de ar extrema. Trata-se da hipertensão pulmonar (HP).

Ela pode afetar pessoas de todas as idades, mas a maioria dos diagnósticos ocorre entre os 40 e 50 anos, podendo surgir isoladamente – através da formação de coágulos nas artérias do pulmão que, com o passar do tempo, fibrosam – ou acompanhadas de outras enfermidades tais como câncer, embolias pulmonares e infecções crônicas. Se não diagnosticada a tempo, pode levar a morte.
De acordo com o pneumologista do Grupo de Circulação Pulmonar do Instituto do Coração (INCOR) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Caio Fernandes, a HP já é considerada a terceira causa de mortalidade no mundo. “É uma doença prevalente e muito grave. A gente estima que há muitos pacientes que estão rodando por aí sem o devido diagnóstico”, alertou.
Estudos apontam que a deficiência de óxido nítrico, acompanhado de uma disfunção do revestimento interior dos vasos sanguíneos, o endotélio, consiste no principal problema dessa enfermidade. A hipertensão pulmonar tem causas indefinidas, mas alguns pontos podem ser determinantes para o desenvolvimento da doença tais como histórico familiar, problemas cardíacos e esquistossomose. Dentre os sintomas estão falta de ar, cansaço, lábios e pele azulados, além de inchaço nos tornozelos.
De acordo com os especialistas, a HP está divida em cinco tipos, e o tratamento pode ser feito por medicamentos (até então existentes apenas para os pacientes do grupo 1) ou por cirurgia. Contudo, há apenas dois centros especializados para a realização do procedimento localizados em São Paulo, no Incor e na Unifesp. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a classificação do paciente com a enfermidade varia na escala de 1 a 4, que vai desde limitação da atividade física habitual até a presença de fadiga inclusive durante o repouso.
Diagnóstico rápido pode evitar morte prematura.
O problema é que, além da raridade, o desconhecimento com relação a HP pode ser a diferença entre um diagnóstico precoce ou a morte prematura de uma pessoa. De acordo com uma pesquisa – divulgada em uma coletiva de imprensa realizada em São Paulo, na última terça – feita pela Associação Brasileira de Amigos e Familiares de Portadores de Hipertensão Pulmonar (ABRAF), em parceria com a empresa farmacêutica alemã Bayer, cerca de 61% dos baianos não sabem qualquer coisa sobre a Hipertensão Pulmonar Tromboembólica Crônica (HPTEC), um dos tipos de HP. 
Este, especificamente, é um distúrbio que acomete os pulmões e o coração, em que a pressão do sangue nas artérias pulmonares fica acima do normal, sobrecarregando o coração, podendo levar a insuficiência cardíaca e até mesmo o óbito. Para a detecção da doença, alguns exames como ecocardiograma, cintilografia, angiotomografia e angiorressonância devem ser feitos até é que o diagnóstico seja definido. “Mas, é a arteriografia pulmonar é o exame que, de fato, vai confirmar a presença da doença. Contudo, é importante que o paciente passe pelos outros exames anteriormente”, ressaltou Caio Fernandes.
Há dois anos, a paciente Mariana Oliveira convive com a Hipertensão Pulmonar. Tudo começou quando ela sofreu a primeira embolia pulmonar. Ela foi diagnosticada, passou por um tratamento, mas, no final de 2014, ela sofreu novamente com a embolia pulmonar. “Eu tenho o medo de perder o ar durante 24 horas por dia. Eu não tinha quaisquer problemas de saúde. Era uma pessoa ativa e gostava de sair. Hoje estou muito limitada, não posso nem subir lances de escada”, contou.
Em alguns momentos, até mesmo durante o depoimento, Mariana teve de fazer algumas pausas para recuperar o fôlego. “É necessário que a gente conheça mais sobre a doença. Precisamos do apoio de médicos e pessoas que nos ajudem a nos informar melhor. Os pacientes sofrem muito, por não conseguirem realizar simples atividades e os medicamentos são de alto custo”, relatou.
Criada em 2006 com o objetivo de divulgar ainda mais a HP, a ABRAF foi uma forma de, segundo a sua presidente, Paula Menezes, buscar mais informações sobre o assunto. “Minha mãe foi diagnosticada em 2005. Mas antes disseram que até enfisema ela tinha, sendo que nunca foi fumante. Vemos que muitos médicos ainda não tem o devido conhecimento para o diagnóstico correto. É necessário dar a devida dignidade ao paciente”, comentou ela, que chegou a pagar R$ 12 mil por mês para ter acesso a medicação e tentar ajudar a mãe, que acabou falecendo posteriormente.
De acordo com o pneumologista, o tempo médico para diagnóstico é de 14 meses e, 95% dos pacientes geralmente melhoram fazendo o uso de anticoagulantes, mas destacou que o tratamento tem de ser feito em centros de referência. Segundo a ABRAF, na Bahia existem cinco locais onde o acompanhamento pode ser feito, sendo três em Salvador – Hospitais Ana Néri, Santa Izabel e o setor de pneumologia da UFBA – e dois em Itabuna – Policlínica dois de Julho e a Santa Casa de Misericórdia.
Farmacêutica lança terapia para combater a doença.
Durante a coletiva, a Bayer anunciou o lançamento, aqui no Brasil, da medicação Riociguate para o tratamento da HPTEC. A substância faz parte de um grupo de medicamentos estimuladores (GCs) e que atuam no retardamento da progressão da doença, melhora as funções cardíaca e pulmonar e reduz os sintomas da patologia com progressos sustentados a longo prazo.
De acordo com a coordenadora do Serviço de Hipertensão Pulmonar da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, a cardiologista Gisela Meyer, cerca de 261 pessoas participaram do estudos – inclusive brasileiros. Dentre os resultados mais significativos, ela apontou que, após 16 semanas de uso contínuo, os pacientes aumentaram, em média, a distância de caminhada em até 46 metros, além de terem melhorado uma série de parâmetros como a hemodinâmica e o índice cardíaco.
“O resultados mostraram que a droga é segura ao longo dos últimos dois anos de estudo. É o primeiro medicamento com eficácia clínica e foi bem tolerado. Em um ano, a taxa de sobrevida foi de 97%. Muitos dos pacientes que estavam no grau 3 da doença e até chegaram a parar de trabalhar, hoje estão no nível 1 e tem uma melhor qualidade de vida”, explicou a especialista.

Segundo a Bayer, a caixa vem com a quantidade exata de comprimidos para um tratamento mensal – e contínuo –, e que devem ser tomados de 8 em 8 horas, Seu uso aliado a outras substâncias como a Sildenafila (Viagra) é contra indicado. Por outro lado, chamou a atenção o alto custo da medicação: R$ 13 mil, apesar da existência de protocolo clínico para o tratamento da HP no país pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O remédio, no entanto, ainda não está incluído.

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