FONTE: Paula Moura, Colaboração para o UOL (noticias.uol.com.br).
A cada 10 microgramas
de poluição por material particulado fino no ar, o risco de morte por câncer
aumenta em 22%, revela estudo feito em Hong Kong divulgado nesta sexta-feira
(29) na revista Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention.
Porcentagem ainda mais grave foi identificada para o risco de morte por câncer
de mama em mulheres: 80%.
Outra parte do corpo
bastante afetada pela poluição é o aparelho digestivo. O aumento registrado foi
de 42% para o risco de morte por câncer no trato digestivo superior e de 35%
para órgãos do sistema digestivo, como fígado, vesícula biliar e pâncreas. Nos
homens, o aumento foi de 36% do risco de morrer por câncer de pulmão.
"Junto com
outros estudos, ajuda a corroborar a tese de que a poluição do ar é um fator de
causa do câncer não somente de pulmão", diz Paulo Saldiva, médico
especialista em poluição e pesquisador da USP (Universidade de São Paulo).
"Mas não é
definitivo, pois esses estudos precisam ser realizados em várias cidades do
mundo ou em várias cidades em um país. Ele confirma a poluição como hipótese
causadora, mas ainda não há um consenso para órgãos que não sejam o
pulmão". Há estudos preliminares que também associam a poluição ao câncer
de bexiga, explica.
Brasil x Hong Kong.
A média anual de
partículas no ar em Hong Kong é de 55 microgramas, segundo estudo realizado em
2013 pela Universidade Xi'an Jiaotong. No Brasil, a medição das partículas
começou a ser realizada nos últimos anos e não abrange todas as cidades. Em São
Paulo, a média é de 25 a 30 microgramas, aponta Saldiva. No Rio de Janeiro, em
2013 a média anual foi de 20,5 microgramas, de acordo com o Instituto de Saúde
e Sustentabilidade. O recomendado pela Organização Mundial de Saúde é 10
microgramas.
O foco dos estudos
brasileiros na maior parte das vezes é o material particular de tamanho 10
micrômetros, relata Laís Fajersztajn, doutoranda da Faculdade de Medicina da
USP e autora
de estudo sobre a poluição no mundo.
Isso, segundo ela, provavelmente acontece pelo monitoramento ainda restrito do
material particulado fino no país. A pesquisa inglesa trabalhou com partículas
de 2,5 micrômetros.
"No Brasil,
ainda se mede mais o material particular de tamanho 10, que é maior e, por
isso, pode ser filtrado pelas narinas e outros mecanismos naturais de
defesa", diz. "Quanto menor a partícula, ela consegue penetrar mais
profundamente no sistema respiratório e é mais prejudicial para a saúde",
salienta.
Mais de 66 mil pessoas
acompanhadas na pesquisa.
G. Neil Thomas,
epidemiologista da Universidade de Birmighan, e seus colegas conduziram a
pesquisa com 66.280 pessoas que tinham 65 anos ao serem recrutadas entre 1998 e
2001. Os pesquisadores não tiveram acesso a dados sobre se essas pessoas
tiveram câncer antes do programa. As pessoas foram analisadas até 2011, e as
causas de mortes foram confirmadas por registros locais.
A concentração anual
de material particulado fino (MP) no ambiente --ou matéria com diâmetro
aerodinâmico de menos de 2,5 micrômetros-- na casa das pessoas foram estimadas
usando dados de satélite e monitores fixos locais. Os pesquisadores levaram em
conta o uso de tabaco pelas pessoas observadas e também excluíram mortes que
ocorreram em três anos de controle para doenças que também podem provocar
câncer.
Entre as possíveis
explicações para a associação entre MP 2,5 e o câncer estão os defeitos na
reparação do DNA, alterações na resposta imunológica do corpo ou inflamação que
desencadeia angiogênese - o crescimento de veias que permitem que os tumores se
espalhem. No caso do sistema digestivo, a poluição por metais pesados pode
afetar a microbioma das mucosas do intestino e influenciar o desenvolvimento do
câncer.
"As implicações
para outras cidades do mundo é que o nível de matéria fina de 2,5 deve ser
reduzido o mais rápido possível", disse Thomas. "A poluição do ar
continua certamente sendo uma preocupação de saúde pública que é possível de
ser modificada".
De onde vêm as partículas
finas no Brasil?
A principal fonte
urbanade partículas finas são os veículos, metade delas vêm dos que usam
diesel. "10% da frota é abastecida com diesel e contribui com metade da
poluição por partículas finas", aponta Saldiva. Outras fontes são
partículas do solo em suspensão e o atrito da freada de veículos próximo a
faróis e lombadas.
Júlio Chiquetto,
doutorando em geografia física da Universidade de São Paulo, que estuda a
relação entre uso e ocupação do solo e poluição do ar, aponta que além das
partículas emitidas por veículos, algumas cidades apresentam outros tipos de
fontes deste tipo de poluente.
Belo Horizonte, por
exemplo, tem o acréscimo de material particulado fino proveniente da mineração,
enquanto Curitiba tem das indústrias de construção. Em locais que utilizam a
energia térmica, a emissão por indústrias é mais significativa do que em locais
com indústrias alimentadas pela fonte hidrelétrica.
De acordo com
Saldiva, menos de 3% das cidades brasileiras tem algum tipo de medida de
poluição, nem mesmo Brasília realiza essa medição.
Outros fatores de risco.
Não se pode esquecer
outros fatores de risco para o câncer, como herança genética, ressalta Saldiva.
Hábitos como dieta também influenciam assim como os locais frequentados.
"Um taxista em São Paulo está exposto a uma média de mais de o dobro do
que a população geral. Então ele tem em torno de 60 microgramas de
exposição", diz Saldiva. Pessoas que passam muito tempo no deslocamento
para o trabalho também são mais afetadas pela poluição.
O médico lembra que
dentro de cada cidade existe uma enorme variação, dependendo do local de
moradia, da proximidade de indústrias ou rodovias e vias de auto-tráfico e
também dos hábitos pessoais. "A dieta tem papel importante em relação ao
trato digestivo, assim como a obesidade e a história familiar de câncer de mama
tem grande papel em câncer de mama", afirma.
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