FONTE: Melissa Diniz, Do UOL, em São Paulo, (estilo.uol.com.br).
A insegurança em relação ao parto pode estar ligada
ao medo da anestesia. A melhor maneira de diminuir o sentimento é buscar o
máximo de informações possível. Confira as respostas de Arthur Abib, médico
anestesista do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, em São Paulo, e Fernando
Carneiro, presidente da Sociedade Brasileira de Anestesiologia, no Rio de
Janeiro, para as principais dúvidas das gestantes sobre o tema.
- Qual
a diferença entre anestesia e analgesia?
Analgesia é o ato de promover o
alívio da dor sem perda sensitiva, de consciência ou de mobilidade. Já a
anestesia é o bloqueio de todas as vias de sensibilidade e motoras durante uma
operação, exame diagnóstico ou curativo, havendo ausência completa da dor,
muitas vezes acompanhada de perda de consciência e abolição dos reflexos
motores e sensoriais, dependendo da técnica utilizada.
- Quais
os tipos de anestesia existentes para cada tipo de parto?
Dois métodos são empregados pelos
anestesiologistas: a analgesia para o parto normal e a anestesia para o parto
cesáreo. A analgesia durante o trabalho de parto normal tem como objetivo
aliviar a dor e trazer conforto à parturiente. Nos casos em que a paciente é
colaborativa e responsiva às solicitações, pode ser feita a analgesia
inalatória (pelas vias respiratórias) e a venosa, por meio da introdução do
anestésico na veia. Há também a analgesia feita por meio da coluna vertebral,
que poder ser peridural e raquianalgesia. Normalmente, utiliza-se a técnica de
duplo bloqueio, em que se combina a peridural e a subaracnóidea (ou raqui). Com
isso, ocorre alívio da dor sem bloquear a movimentação das pernas e é possível
levantar-se e caminhar durante o trabalho de parto. Para isso, é introduzido um
cateter peridural na região lombar por onde são administradas doses complementares
de medicação, conforme a fase do trabalho de parto ou a necessidade da
paciente. Na cesárea, pode-se fazer a peridural, a raquianestesia e a combinada
raquiperidural. Em casos raros, é dada a anestesia geral.
- Qual
é o momento certo de tomar anestesia em cada tipo de parto?
O momento ideal irá depender
muito da avaliação da equipe médica e do limiar de dor da paciente durante a
evolução do trabalho de parto, não existindo uma regra estabelecida.
Entretanto, a simples requisição da paciente já deve ser o gatilho para a
indicação, afinal, a meta deve ser o conforto e a segurança para mãe e bebê. O
parto normal com a utilização de técnicas adequadas de analgesia espinhal
apresenta inúmeras vantagens para a mãe e para o feto. Além disso, diminui a sobrecarga
cardiorrespiratória materna, reduz a liberação de hormônios e substâncias
ligadas ao estresse e à dor, o que repercute de forma positiva sobre o feto,
contribuindo para a manutenção de adequado fluxo sanguíneo útero-placentário.
Na cesariana, a anestesia é realizada logo antes do início do procedimento.
- Quais
os riscos da analgesia e da anestesia?
Gestantes que apresentem doenças
que causem alteração da coagulação do sangue ou portadoras de doenças
neurológicas e cardíacas precisam ter uma avaliação rigorosa antes de serem
submetidas à analgesia para o trabalho de parto. Complicações ocasionadas
unicamente pela anestesia são muito raras na literatura mundial, mas podem
ocorrer. Os riscos também podem estar relacionados à própria cirurgia, no caso
da cesárea, e à condição clínica da paciente. Podem ocorrer complicações
respiratórias (falta de ar), cardiovasculares (queda de pressão, arritmias
cardíacas) e alérgicas (reações na pele), frio, tremores, náuseas, entre
outras. Ter disponíveis equipamentos adequados e uma estrutura hospitalar
segura, além de monitoramento da gestante e do feto pela equipe médica, são
imprescindíveis para identificar e tratar precocemente qualquer intercorrência.
- A
anestesia pode ter efeitos sobre o bebê? Quais?
Quando utilizadas obedecendo os
critérios de segurança e qualidade, as técnicas preconizadas para anestesia ou
analgesia obstétrica dificilmente produzem efeitos adversos sobre o bebê.
Entretanto, mãe e feto estão intimamente ligados pela circulação placentária, então,
a depender da droga a ser utilizada, o feto poderá receber quantidades do
medicamento. A maioria das substâncias utilizadas pouco ou quase nada interfere
com o feto. Existem várias publicações científicas, nos mais diversos países,
realizadas por instituições de ensino de renome internacional, que garantem que
esses procedimentos no trabalho de parto não apresentam efeitos colaterais
sobre a vitalidade e o bem-estar fetal.
- Quais
os métodos não farmacológicos para analgesia? Como funcionam?
Os métodos não farmacológicos são
auxiliares na melhora do processo doloroso durante o trabalho de parto. Eles
incluem massagens corporais, exercícios respiratórios, banhos aquecidos,
técnicas de respiração, relaxamento, hidroterapia, andar, mudar de posição,
audioanalgesia (uso de sons e música) e até mesmo acupuntura. No parto
humanizado, eles podem ser realizadas com a presença de uma doula. Em geral,
todos contribuem de alguma forma para reduzir a sensibilidade da paciente à dor
e proporcionar mais conforto.
- Como
são os efeitos da anestesia no pós-parto, há reações?
Poucas pacientes apresentam
prurido (coceira), retenção urinária ou náuseas, que são efeitos decorrentes
das medicações utilizadas para alívio da dor. Entretanto, tais ocorrências são
tratadas de maneira simples com medicamentos. Em geral, acontecem sintomas
leves. Também podem ocorrer tremores e hipotensão postural (queda de pressão ao
se levantar).
- Por
que tantas mulheres têm medo da anestesia? Esse medo se justifica?
Por falta de esclarecimento do que
vem a ser a anestesia. Isso seria facilmente contornado com a consulta
pré-anestésica, na qual a paciente poderia esclarecer suas dúvidas e escolher a
melhor opção para a sua situação, especificamente. O anestesiologista faz parte
de uma equipe que concentra as informações médicas a respeito da paciente.
Portanto, durante esse encontro, é possível que a mulher conte sua história,
antecedentes alérgicos, se teve alguma experiência desagradável com anestesia,
problemas de origem cardiorrespiratória ou de outros sistemas orgânicos. O
exame físico é fundamental para dar mais tranquilidade e confiança no
procedimento. O medo também pode ser diminuído se a relação entre o médico
anestesista e a gestante for cercada de empatia, respeito, educação, atenção e
explicações do que será realizado. Essa prática médica deve ser sempre
estimulada, seja qual for a via de parto, normal ou cesariana.
- Qual
a dúvida mais comum entre as gestantes?
Um equívoco bastante comum é
achar que a analgesia pode prejudicar a dilatação do colo do útero durante o
trabalho de parto. Contudo, se realizada de forma adequada, ela pouco interfere
e é, inclusive, benéfica na evolução da dilatação do colo uterino. Assim, a
analgesia mantém a capacidade da gestante de atuar de forma ativa para o
nascimento do seu filho por meio dos esforços expulsivos.
- Os
métodos de anestesia hoje são mais seguros do que no passado?
Com certeza. Isso se deve ao
melhor conhecimento da fisiologia da gestação, monitorização mais avançada e
drogas com características que são mais adequadas para as mães e seus bebês.
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