FONTE: Daniela Carasco, do UOL, em São Paulo, (http://estilo.uol.com.br).
O baixo uso de preservativos entre mulheres
homossexuais é um assunto que precisa ser mais debatido. A ideia do sexo
lésbico sem complicação foi derrubada recentemente pela pesquisa Mosaico 2.0,
que, ao mapear o perfil sexual do brasileiro, identificou altas taxas de
transmissão de DSTs entre mulheres.
Segundo José Carlos Riechelmann, médico sexologista
e presidente do Comitê Científico de Sexualidade Humana da Associação Paulista
de Medicina, “existe um senso comum disseminado, inclusive entre as lésbicas,
de que doenças sexualmente transmissíveis só se dão em relações
heterossexuais”. Isso é um engano.
Há 13 anos, um balanço feito pela rede de saúde
pública de São Paulo já havia identificado que até 60% das mulheres lésbicas e
bissexuais do Estado já contraíram DSTs.
“Ainda há quem pense que ser lésbica é quase um
sinônimo de ser virgem, por conta de uma falsa ideia de ausência de
penetração”, diz o especialista. “Isso é falta de conhecimento.”
Atenção aos brinquedos eróticos.
No sexo entre duas mulheres, os brinquedos eróticos
são muito bem-vindos. E é aí que os cuidados devem ser redobrados. O
compartilhamento dos vibradores entre parceiras, assim como a penetração anal
seguida da vaginal, aumentam os riscos de transmissão de DSTs entre o casal.
Além do uso de preservativo feminino, o
especialista aconselha que o acessório seja higienizado a cada troca. Até porque,
depois de ser usado no ânus, ele pode carregar micro-organismos intestinais,
que causam o desequilíbrio da flora vaginal, abrindo espaço para infecções.
As doenças mais comuns.
Riechelmann chama atenção para três graves surtos.
“O HPV virou uma epidemia que não para de crescer. Ele é o principal
responsável pelo aparecimento do câncer de colo de útero [terceiro câncer que
mais atinge mulheres no Brasil]. Houve também um aumento na disseminação de
sífilis e, infelizmente, de aids”, conta. “A falsa propaganda sobre a
eficiência do coquetel retroviral tem feito as pessoas dispensarem a camisinha.
Isso é bastante grave.”
Por isso, a proteção é valiosa. Entre as opções
mais seguras, segundo o especialista, estão a camisinha feminina que deixa uma
borda externa e protege todo o canal vaginal com o látex, luva cirúrgica para o
toque e também o plástico-filme –o mesmo usado para embalar alimentos. “Esse
último é muito aconselhado para práticas de sexo oral. Como a película é muito
fina, ele não impacta na sensibilidade e ainda protege, já que o HIV e a
sífilis são facilmente transmitidos pela boca”, explica o médico.
Sexo na menstruação.
O sangue expelido durante o ciclo menstrual não
deve ser tratado como sujo e transar
durante a menstruação está liberado. O que pode haver, segundo Riechelmann, é uma
vulnerabilidade maior de contaminação na ausência de um preservativo pela baixa
imunidade.
Nessa fase, o sistema imunológico das mulheres fica
naturalmente mais fragilizado, deixando o ambiente mais suscetível a doenças.
“Por isso, é uma época favorável aos corrimentos infecciosos, infecção urinária
de repetição, candidíase e micoses vaginais. Casos mais graves de infecção
pélvica, apesar de raras --cerca de 1% de chances--, podem até levar à
internação.”
Sofrimento psíquico é fator de
risco.
Preconceito e rejeição são, sem dúvida, dois
agravantes quando o assunto é DSTs em lésbicas. A sobrecarga emocional deixa a
saúde mais frágil, levando facilmente a um diagnóstico de depressão, que vem
acompanhada não só de um abalo psicológico, como também imunológico. “Trata-se
de uma doença psicossomática”, alerta o especialista. E, assim como na
menstruação, esse cenário abre espaço para infecções.
Isso só reforça a necessidade do acompanhamento
médico frequente. Hoje, porém, uma das maiores queixas das mulheres lésbicas é
o despreparo
dos ginecologistas na hora de atendê-las. Riechelmann concorda. “Falta capacitação,
principalmente, no que diz respeito a um atendimento mais sensível. A primeira
consulta deve ser de conversa e os exames ginecológicos precisam ser realizados
sem pressa e com delicadeza, para que não haja ansiedade por parte da
paciente.”
O conselho do especialista às pacientes é para que digam
sua orientação sexual logo na chegada ao consultório. “A reação imediata do
especialista vai deixar claro se vale a pena seguir com aquele acompanhamento
ou partir para outro.”
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