Médicos e cientistas
tinham arrumado um ótimo raciocínio para explicar como a suplementação com
cálcio e vitamina D poderia ajudar a prevenir fraturas.
A lógica,
resumidamente, seria a seguinte:
1) Por uma série
de fatores, como falta de atividade muscular (exercícios) ou carência hormonal,
o organismo para de construir osso. Mais precisamente esse tecido se
desmineraliza, perdendo cálcio, a matéria-prima;
2) Com baixa
densidade mineral –que pode ser mensurada em exames de imagem–, o osso se torna
frágil, fácil de quebrar após quedas, por exemplo;
3) Uma solução
possível, portanto, seria devolver a matéria-prima F–o cálcio– e arrumar um
jeito de fomentar a fixação dele no osso;
4) Aí surge a
vitamina D, um hormônio naturalmente produzido durante a exposição solar e que,
ao que tudo indica, seria um fator importante para a mineralização óssea.
O problema é que, na
prática, provavelmente não adianta incentivar o uso de cálcio e de vitamina D
para prevenir fraturas. Um estudo publicado na revista médica “Jama”, feito com
dados de vários outros –uma meta-análise–, mostrou que não há evidência
científica suficiente para apostar nesse caminho.
Um dos critérios
fundamentais para que os estudos entrassem na conta é a presença de grupos
controles, que foram comparados aos grupos tratados para averiguar o efeito das
doses. Ao todo, dados de 33 trabalhos foram compilados, totalizando 51.145
participantes.
A conclusão: nenhum
suplemento (cálcio, vitamina D ou a combinação dos dois) está associado a um
menor risco de fraturas, independentemente da dose, do sexo do paciente, do
histórico de fraturas, da ingestão de cálcio na dieta ou na concentração
sanguínea de vitamina D.
MORTALIDADE.
A substância, nos
últimos anos, tem ganhado espaço graças, especialmente, à medicina laboratorial.
Dificilmente alguém descobre que possui baixos índices de vitamina D sem um
exame.
Qual seria a faixa
ideal de concentração de vitamina D sanguínea é algo que ainda, vez ou outra,
entra em discussão –a pessoa pode sofrer por anos dessa “deficiência” e ter uma
saúde normal, mas há tentativas interessantes de se estabelecer parâmetros.
Um estudo alemão de
2012 (publicado no periódico “The American Journal of Clinical Nutrition”)
analisou 5.562 mortes em meio a dados de cerca de 60 mil pacientes com o
objetivo de investigar se a falta de vitamina D pode matar.
A conclusão é
afirmativa: existe, sim, a chance de a morte chegar mais rápido para quem tem
índices baixos. O nível sanguíneo de 25(OH)D, metabólito ativo da vitamina D
comumente dosado, que garante proteção máxima seria alguma coisa entre 75
nmol/L e 87,5 nmol/L (metade das pessoas investigadas tinham concentração menor
que 27,5 nmol/L).
Na prática, ponto
para a suplementação com a vitamina. Algumas explicações possíveis para tamanha
importância são os papéis desempenhados pelo hormônio no cérebro, prevenindo
distúrbios cognitivos, e também na manutenção do sistema imunológico.
Quanto às fraturas,
pelo jeito, o negócio é praticar atividades físicas adequadas para cada faixa
etária –com cuidado.
PERFIL
Gabriel Alves é
repórter da Folha e escreve principalmente sobre ciência e
saúde.
Formou-se no ano de
2007 em biomedicina pela Unifesp, onde também fez doutorado na área de ciências
biológicas. Além de pesquisar, sempre gostou de dar aulas. Estudou ainda um
pouco de matemática e de estatística.
Em 2014 acabou dando
o pontapé inicial em sua carreira jornalística, tratando de temas que vão do
átomo à doença de Alzheimer.
Por meio do blog Cadê
a Cura? tem o objetivo de falar de um assunto que interessa a (quase) todo
mundo –doenças–, trazendo discussões que nem sempre aparecem por aí.
Alguma dúvida,
sugestão ou crítica? Escreva para o cadeacura (arroba) gmail (ponto) com.
Siga-me no Facebook:
Nenhum comentário:
Postar um comentário