Em 2011, preocupado com
o crescente número de mulheres que se submetiam a cirurgias estéticas íntimas,
o artista plástico britânico Jamie McCartney decidiu criar uma grande exposição
para mostrar a beleza da diversidade de vulvas. O trabalho, que consistia em
painéis exibindo moldes de gesso com a impressão da vulva de 400 mulheres
reais, também virou um livro, "The Great Wall of Vaginas" ("O
Grande Mural das Vaginas", em tradução livre).
Com mesma preocupação,
e com a intenção de tranquilizar as mulheres em relação às inseguranças quanto
à forma de suas vulvas, a ginecologista e obstetra Caroline Alexandra Pereira,
da Clínica Viváter, de São Paulo (SP), costuma mostrar algumas de suas páginas
às pacientes e explicar que as vulvas têm inúmeras formas e nenhuma é igual a
outra.
"Assim como nossos
olhos, mamas e pés, a vagina e a vulva são únicas. Toda mulher nasce e se
desenvolve com as características gerais, evidentemente, mas com tamanhos,
formas, cores e características variadas", afirma Caroline.
"Falar sobre isso
de forma aberta e descontraída é importante para a mulher entender que não
existe nenhum problema ou padrão. Cada pessoa é de um jeito e nenhum é melhor
ou mais bonito que o outro, são simplesmente variações anatômicas e todas são
normais", assegura a ginecologista e obstetra Erica Mantelli, pós-graduada
em Sexologia Humana pela USP (Universidade de São Paulo).
Vulva e vagina.
É fundamental, aliás,
esclarecer as diferenças entre vulva e vagina. A vulva é a área externa dos
genitais femininos.
Ela inclui os grandes e
os pequenos lábios, o capuz do clitóris, o próprio clitóris e a parte de mucosa
(tecido fino delicado) onde estão as saídas dos ductos de secreção das
glândulas de lubrificação da região, a saída da uretra --canal que se origina
na bexiga e termina na vulva, por onde sai o xixi-- e finalmente o orifício da
vagina, sendo finalizada no períneo, área de pele entre a vulva e o ânus.
"Já a vagina
consiste na estrutura tubular entre a vulva e o útero. Ela mergulha para dentro
do corpo e termina fechada, circundando o orifício externo do colo do útero,
por onde sai a menstruação", completa Caroline.
Segundo Valeria
Walfrido, sexóloga e terapeuta corporal de Recife (PE), vulvas são como
digitais: personalizadas e exclusivas.
Cada uma é uma (até nos
detalhes).
"Há pelos lisos,
encaracolados, encarapinhados, claros, escuros... O formato dos lábios também é
diversificado: os maiores podem ser grandes e encorpados por tecido adiposo,
enquanto os menores variam entre finos, avantajados, protuberantes, rugosos ou
assimétricos.
Já o capuz do clitóris
pode ser caído, enquanto o tamanho e a proeminência do próprio clitóris podem
variar de mulher para mulher, chegando ao ponto de incomodar pelo uso de roupas
justas, ao andar de bike ou até durante a transa. Essas são apenas algumas das
particularidades existentes na área vulvar", explica a especialista.
Ela muda com o tempo.
A mesma mulher pode
apresentar aspectos da vulva diferentes em cada etapa da vida. "Na
infância tem um aspecto, outra na adolescência e outra distinta na vida adulta.
Isso ocorre por causa da idade, da quantidade de colágeno, da flacidez que vai
ocorrendo naturalmente com o envelhecimento, entre outros fatores", conta
Erica Mantelli.
Profundidade também
muda.
A vagina também pode
ter várias profundidades, desde mais curta a mais longa.
"É uma estrutura
elástica que se adapta aos variados tamanhos de pênis e que pode, em algumas
situações, ficar mais larga, atrapalhando o prazer sexual, como após vários
partos normais ou em mulheres mais idosas, causando dor na penetração",
informa Caroline.
"As peculiaridades
ocorrem também pelas variabilidades genéticas na formação e pela influência do
meio no nosso organismo. Sabe-se, por exemplo, que há um tecido linfoide
associado à mucosa vaginal que responde de modo diferente para cada uma, além
de uma microbiota [conjunto dr microorganismos que habitam um ecossistema] que
apresenta diferenças entre as mulheres. O pH vaginal também pode diferir",
fala o ginecologista Renato de Oliveira, da clínica Criogênesis, de São Paulo
(SP).
Seu comportamento
influencia na aparência da vulva.
A vagina ainda sofre a
influência dos hábitos de vida, como o tipo de depilação, uso de roupa (mais
larga ou não) e alterações hormonais. As cores "íntimas" também
diferem de uma mulher para outra, inclusive durante o período fértil ou quando
ocorre a excitação.
Isso acontece até no
decorrer da gestação, no momento do parto e na fase pós-parto e, especialmente,
durante a menopausa, quando diminuem os hormônios responsáveis pela produção de
melanina.
Cirurgia plástica.
Vale lembrar que, mesmo
que não existam motivos científicos para acreditar num "padrão de
beleza" da vulva e/ou da vagina", o fato é que para algumas mulheres
determinadas características anatômicas podem causar desconforto e abalos
concretos na autoestima.
É o caso de pequenos
lábios mais proeminentes, por exemplo, que provocam incômodo e até dor na hora
do sexo. Nessas circunstâncias, o ideal é que a mulher realize uma avaliação
com o ginecologista para analisar a necessidade e a viabilidade de uma cirurgia
plástica íntima.
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