Adepta de terapias
alternativas, a britânica Claire Stone é uma das muitas mulheres que passaram a
praticar a vaporização vaginal nos últimos anos.
A prática consiste em
sentar-se sobre um recipiente com água quente misturada com ervas aromáticas,
permitindo que a região genital receba um "banho de vapor". Ela ficou
conhecida por ser divulgada pela atriz americana Gwyneth Paltrow. A atriz tem
um site de estilo de vida que frequentemente dá dicas sobre tendências de saúde
- muitas delas controversas.
Para Claire Stone, a
vaporização não é apenas um tratamento, mas um negócio: ela oferece a prática a
suas clientes em um spa no Reino Unido.
Stone afirma que a
prática tem "propriedades desintoxicantes, de tonificação, de limpeza do
útero e de reequilíbrio hormonal".
Médicos e
pesquisadores, no entanto, afirmam que não há nenhuma evidência científica de
que a vaporização tenha algum benefício para a saúde - e que, dependendo do
caso, ela pode até fazer mal.
Embora não seja
aprovada por agências de saúde britânicas, a vaporização costuma custar por
volta de 35 libras (R$ 185) no Reino Unido. Nos Estados Unidos, custa mais ou
menos US$ 50 (R$ 200) e também não é aprovada pela agência regulatória. No
Brasil, kits de ervas para fazer a vaporização em casa custam a partir de R$
10.
Em algumas culturas,
esses banhos de vapor já eram bastante comuns, como na Nigéria e na Coreia do
Sul.
Agora, passaram a ser
oferecidos em spas e salões de beleza em todo o mundo.
O
que diz a ciência.
"Não há evidências
que demonstrem que as vaporizações vaginais tenham algum benefício",
explica à BBC a médica Virginia Beckett, do Royal College de Obstetras e
Ginecologistas.
"A vagina e o
útero se mantém limpos sozinhos", explica outra especialista, a médica
Suzy Elneil, especialista de urinoginecologia do hospital do University
College, em Londres.
Além disso, a vagina
tem uma série de bactérias "do bem", que são naturais ao corpo e
essenciais para o bom funcionamento do sistema genital feminino. "Eu não consigo
pensar em nenhuma circunstância em que inserir água em qualquer estado na
vagina seja positivo, porque ela simplesmente leva tudo embora - incluindo as
boas bactérias", explica o professor Ronnie Lamont, do Royal College de
Obstetras e Ginecologistas.
É importante não
confundir a vagina (parte interna que liga o útero com o exterior) com a vulva
e os lábios, que ficam do lado de fora - estes sim, precisam de limpeza, que,
de acordo com os médicos, deve ser feita de preferência com água e um sabonete
neutro.
Outro suposto benefício
que não faz sentido, segundo os especialistas, é o de "reequilíbrio
hormonal".
Hormônios são
substâncias produzidas por glândulas no cérebro e órgãos como o pâncreas e os
ovários. Eles viajam pela corrente sanguínea e têm efeitos específicos nos
órgãos para os quais são destinados. Os especialistas explicam que existem
substâncias que afetam a sua produção, mas que elas não podem ser absorvidas
pelas paredes da vagina no contato com o vapor.
Os especialistas também
duvidam que os vapores ajudem a "tonificar a vagina", ou seja,
fortalecê-la. "A tonificação vem dos músculos", explica Beckett.
Além disso, há riscos
ao esquentar a vagina: ela normalmente é mantida na temperatura do corpo (37º
C), que é perfeita para seu funcionamento saudável. Esquentá-la aumenta o risco
de proliferação de bactérias "ruins" e fungos, como os que causam a
candidíase.
Efeito
placebo.
Se não há efeitos
positivos comprovados, como explicar relatos de mulheres que dizem ter
percebido melhoras após passar pela experiência?
Uma das possíveis
explicações é o efeito placebo: quando um paciente ingere um remédio ou faz uma
terapia que é inerte - sem que ele o saiba - e que apresenta efeitos graças aos
efeitos psicológicos da crença do paciente de que ele está a ser tratado.
O efeito placebo é um
efeito psicológico real e muito comum. Cientistas usam placebos em experimentos
para avaliar eficácia de tratamentos: o remédio precisa ter um efeito maior do
que o de um placebo.
Claire Stone, que
oferece o tratamento no Reino Unido, diz que isso não é um impedimento para o
tratamento. "Inclusive se for só um placebo, se funciona, por que
não?", questiona.

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