FONTE: , http://www.isaudebahia.com.br
Eles são plurais e
estão na vida de todos. Vamos falar sobre o sofrimento?
Hoje ouvimos muitas pessoas dizerem que estão com depressão, ansiosas ou
deprimidas. Estar triste não é a mesma coisa de estar com depressão. Para
entender melhor o assunto, o iSaúde Bahia conversou com a psicóloga e
professora do curso de Psicologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde
Pública, Ana Aparecida Martinelli Braga. Confira esse bate-papo.
iSaúde Bahia - Como é
definido o "estado de sofrimento"?
Ana Aparecida
Martinelli Braga - Podemos
dizer, de forma geral, que um sujeito que sofre é aquele que tem um desconforto
com o seu funcionamento, com a sua existência.
iSB - Existem outros
sofrimentos (psíquicos) além da tristeza?
Ana Aparecida
Martinelli Braga - Sim, o
sofrimento psíquico é muito particular. Ainda que possamos nomeá-los muitas
vezes em categorias nosográficas ou diagnósticas, os sofrimentos são plurais,
pois a dor de existir para cada sujeito constitui-se de um modo. Sugiro a
leitura do texto clássico de Freud "Luto e Melancolia", escrito em
1915, publicado em 1917.
iSB - Qual a relação do
sofrimento com o desejo?
Ana Aparecida
Martinelli Braga - Várias seriam as possibilidades de pensarmos essa pergunta, mas podemos
refletir a partir da ideia de que todo sujeito desejante sofre, na medida em
que o sofrimento é inerente ao existir, o mal-estar está posto ("O
Mal-Estar na Civilização"-1930).
iSB - A felicidade
seria a satisfação do desejo?
Ana Aparecida
Martinelli Braga - Essa seria uma afirmação equivocada, pois o desejo de desejar, por
exemplo, faz o sujeito estar sempre em busca de realizá-lo, contudo, nunca
tendo esse objetivo atingido plenamente, mas podemos pensar a felicidade como
um estado fugaz de satisfação ilusória do desejo, que logo se mostra
"furado".
iSB - Por que a
psicanálise não acredita na felicidade?
Ana Aparecida
Martinelli Braga - A
psicanálise não propõe felicidade, na medida em que, se pensarmos a felicidade
como um estado de completude, sem faltas, não há funcionamento do sujeito de
desejo.
iSB - Alguns
autores afirmam que o sofrimento é uma etapa no caminho para a felicidade. Isso
procede?
Ana Aparecida
Martinelli Braga - Diante do que conversamos acima, isso não procederia, pois a felicidade
não é atingível, ao menos nessa ideia de paraíso que, uma vez atingido, para
sempre se tem.
iSB - Qual a importância
do autoconhecimento no processo de conquista do bem-estar (felicidade)?
Ana Aparecida
Martinelli Braga - Diria que um sujeito que sofre e que se questiona sobre o seu sofrimento
é um sujeito que pode se propor a um trabalho de análise. Porém, em um trabalho
clínico psicanalítico, ainda que se conheça melhor, esse não é o objetivo, o
sujeito vai mudando de posição frente às suas questões, para saber lidar melhor
com elas, que, se não forem mais aquelas iniciais, certamente serão outras.
iSB - Como não
confundir conformação com aceitação da realidade? Ser conformado é ser feliz?
Ana Aparecida
Martinelli Braga - Uau! Talvez para alguns, mas, de fato, penso que devemos sempre
tomar as questões do sujeito a partir dele mesmo, e, nesse sentido, o psicanalista,
já dizia Freud, deve atender cada paciente como se fosse o primeiro.
Autor(es).
Ana Aparecida
Nascimento Martinelli Braga.
Psicanalista, Mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas (UFBA).
Especialista em Psicologia Clínica (PUC/RJ). Graduada em Psicologia (UFBA).
Docente da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.
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