quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O QUE VOCÊ ENTENDE POR ‘ESTADO DE SOFRIMENTO’?...





Eles são plurais e estão na vida de todos. Vamos falar sobre o sofrimento?
Hoje ouvimos muitas pessoas dizerem que estão com depressão, ansiosas ou deprimidas. Estar triste não é a mesma coisa de estar com depressão. Para entender melhor o assunto, o iSaúde Bahia conversou com a psicóloga e professora do curso de Psicologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Ana Aparecida Martinelli Braga. Confira esse bate-papo.


iSaúde Bahia - Como é definido o "estado de sofrimento"?
Ana Aparecida Martinelli Braga - Podemos dizer, de forma geral, que um sujeito que sofre é aquele que tem um desconforto com o seu funcionamento, com a sua existência. 

iSB - Existem outros sofrimentos (psíquicos) além da tristeza?
Ana Aparecida Martinelli Braga - Sim, o sofrimento psíquico é muito particular. Ainda que possamos nomeá-los muitas vezes em categorias nosográficas ou diagnósticas, os sofrimentos são plurais, pois a dor de existir para cada sujeito constitui-se de um modo. Sugiro a leitura do texto clássico de Freud "Luto e Melancolia", escrito em 1915, publicado em 1917.

iSB - Qual a relação do sofrimento com o desejo?
Ana Aparecida Martinelli Braga  -  Várias seriam as possibilidades de pensarmos essa pergunta, mas podemos refletir a partir da ideia de que todo sujeito desejante sofre, na medida em que o sofrimento é inerente ao existir, o mal-estar está posto ("O Mal-Estar na Civilização"-1930).

iSB - A felicidade seria a satisfação do desejo? 
Ana Aparecida Martinelli Braga  -  Essa seria uma afirmação equivocada, pois o desejo de desejar, por exemplo, faz o sujeito estar sempre em busca de realizá-lo, contudo, nunca tendo esse objetivo atingido plenamente, mas podemos pensar a felicidade como um estado fugaz de satisfação ilusória do desejo, que logo se mostra "furado".

iSB - Por que a psicanálise não acredita na felicidade?
Ana Aparecida Martinelli Braga  - A psicanálise não propõe felicidade, na medida em que, se pensarmos a felicidade como um estado de completude, sem faltas, não há funcionamento do sujeito de desejo.

iSB  - Alguns autores afirmam que o sofrimento é uma etapa no caminho para a felicidade. Isso procede?
Ana Aparecida Martinelli Braga  - Diante do que conversamos acima, isso não procederia, pois a felicidade não é atingível, ao menos nessa ideia de paraíso que, uma vez atingido, para sempre se tem.

iSB - Qual a importância do autoconhecimento no processo de conquista do bem-estar (felicidade)?
Ana Aparecida Martinelli Braga  - Diria que um sujeito que sofre e que se questiona sobre o seu sofrimento é um sujeito que pode se propor a um trabalho de análise. Porém, em um trabalho clínico psicanalítico, ainda que se conheça melhor, esse não é o objetivo, o sujeito vai mudando de posição frente às suas questões, para saber lidar melhor com elas, que, se não forem mais aquelas iniciais, certamente serão outras.

iSB  - Como não confundir conformação com aceitação da realidade? Ser conformado é ser feliz?
Ana Aparecida Martinelli Braga  - Uau! Talvez para alguns, mas, de fato, penso que devemos sempre  tomar as questões do sujeito a partir dele mesmo, e, nesse sentido, o psicanalista, já dizia Freud, deve atender cada paciente como se fosse o primeiro.

Autor(es).

Ana Aparecida Nascimento Martinelli Braga.
Psicanalista, Mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas (UFBA). Especialista em Psicologia Clínica (PUC/RJ). Graduada em Psicologia (UFBA). Docente da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.

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