Quantas pessoas que
você conhece consomem bebida alcoólica, nem que seja só um espumante nas festas
de fim de ano? E entre os seus conhecidos, quantos você diria que têm algum
problema com o álcool? Se você comparar os números, verá que existe uma
diferença grande. Só uma parcela dos consumidores frequentes desenvolve algum
transtorno relacionado ao álcool, embora muita gente demore para perceber o
problema e assumi-lo para os outros.
Mas um estudo
recém-publicado mostra que a transição do consumo eventual para o abuso de
álcool pode ser mais rápida do que as pessoas imaginam. Além disso, quanto mais
frequente é o consumo numa população, ou seja, quanto maior a base de
indivíduos em risco, mais cedo os transtornos tendem a aparecer. Isso é
preocupante, uma vez que dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS)
apontam para o aumento do uso de álcool em diversas regiões do globo.
O trabalho, publicado
no periódico Alcohol and Alcoholism, contou com 13 mil indivíduos da
Nova Zelândia, acompanhados por diversos anos. Do total, 94,6% já tinham bebido
e 85% bebia com regularidade. Transtornos relacionados ao álcool, como abuso ou
dependência, foram identificados em 16% de todos os participantes, o que é um
número considerável.
O dado que os autores
consideraram mais preocupante, porém, é que, para cada aumento de 10% no número
de pessoas que usavam álcool com regularidade em cada grupo dividido por faixa
etária e gênero, maior a probabilidade de surgirem transtornos associados à
bebida no ano seguinte.
Entre os jovens, uma
população para a qual a influência dos pares no consumo é ainda mais forte,
segundo evidências científicas, a maioria passou do uso eventual para o uso
problemático em pouco tempo. Aos 18 anos, quase 80% bebiam às vezes e 57%,
regularmente. Daqueles que desenvolveram um transtorno, 50% passaram a ter o
problema aos 20 anos de idade e 70%, aos 25 anos.
Outro achado importante
dos pesquisadores é que os transtornos foram duradouros – 45% das vítimas ainda
preenchiam os critérios diganósticos dez anos depois. Os homens, em geral,
foram mais propensos ao problema e também os que tiveram mais dificuldade para
vencê-lo mais tarde.
Na Nova Zelândia, o
consumo de bebida não é tão alto quanto na Europa, mas é um pouco mais alto que
no Brasil, segundo o ranking da OMS. Aqui, a média é de 7,8 litros por pessoa
por ano, acima da média mundial, de 6,4 litros. E a entidade alerta que até
2025 a taxa vai subir para 8,3 litros. Com mais gente bebendo mais, os
transtornos serão mais frequentes.
Para os autores do
estudo, coordenados pela médica Charlene Rapsey, da Universidade de Otago, está
na hora de a sociedade assumir a responsabilidade, coletivamente, para reduzir
os prejuízos causados pelo uso do álcool. E o esforço precisa ser concentrado
na população com menos de 25 anos.
Depende das instituições
a elaboração de políticas públicas de restrição à venda e propaganda de bebida,
mas as atitudes de cada um também contam. Ainda que você não conheça muita
gente com problemas graves por causa da bebida, você pode influenciar outras
pessoas.
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