Vejo constantemente no
meu consultório pessoas com quadros depressivos com sintomas ansiosos e outras
com transtornos ansiosos e sintomas depressivos associados. Há também aqueles
que têm os dois quadros concomitantes. Essas últimas são denominadas
comorbidades, ou seja, duas doenças juntas que coexistem simultaneamente na
mesma pessoa.
Essa associação de
depressão e ansiedade é mais comum do que imaginam. É comum você escutar na rua
alguém que já fez tratamento para pânico, ou que conhece algum parente que
"trata ansiedade", ou mesmo alguém que já teve depressão. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou ano passado que o Brasil tem cerca
de 18 milhões de pessoas com transtornos ansiosos, ou seja, cerca de 9,3% da
população. Em relação à depressão, a OMS descreveu que há 5,8% da população com
o transtorno, cerca de 11,5 milhões de pessoas.
Mas como podemos
identificar se tenho as duas, ou se tenho uma com sintomas da outra? A
princípio, o ideal não é identificar o que de fato está ocorrendo, mas sim se
algo está ocorrendo. A caracterização mais específica em termos de diagnóstico
é feita pelo médico psiquiatra. O ideal é reconhecer o que está de errado com
seu corpo e com a sua mente em relação ao seu estado natural e prévio.
Os transtornos de
ansiedade são caracterizados por medo ou preocupações excessivas em
determinadas situações ou mesmo constantemente, além de perturbações
comportamentais relacionadas. Essas pessoas vivem tão preocupadas e tão
ansiosas que sentem que não desligam dos problemas. Sentem que vivem
"ligadas" nos problemas. Ouço dizerem que se preocupam com tudo, se a
saúde dos filhos está bem, se alguém vai adoecer, se alguém vai morrer. Pensam
no trabalho, se podem ser demitidos, se não está incomodando os outros. Enfim,
tudo na vida dessa pessoa gera preocupação, mesmo as coisas mais simples do
cotidiano.
Essa ansiedade caminha
junto com problemas relacionados ao sono, inquietação, sensação de estar com os
nervos à flor da pele, cansaço, sensação de esgotamento físico e mental, falta
de atenção e de concentração, tensão muscular e irritabilidade. Esses sintomas
podem levar à queda na autoestima, angústia gerada pela perda no desempenho
profissional causada pelo cansaço e pela dificuldade de atenção. A inquietação,
nervos à flor da pele e irritabilidade geram brigas familiares e com pessoas
queridas.
Vendo-se nessa
situação, com tantos entraves causados pela sua ansiedade,
a pessoa passa a se sentir triste, desanimada e sem vontade, sintomas típicos
de um quadro depressivo. Temos então, um quadro típico de um Transtorno de Ansiedade Generalizada com
sintomas depressivos.
Há também aquelas
depressões que cursam com sintomas ansiosos. Um bom exemplo é de uma mulher
jovem que perdeu um pouco a sua vaidade, não se vê mais tão bem quanto antes,
tem momentos de tristeza, não quer mais sair com o seu marido, visitar família
e amigos. Parece não ter mais tanto interesse em fazer as coisas que gosta, nem
tem muito prazer nessas atividades. Culpa-se por estar assim, piorando ainda
mais a autoestima e os sintomas depressivos decorrentes. Essa mulher pode
evoluir também com problemas relacionados ao sono, seja por insônia seja por
sonolência excessiva, bem como oscilações de seu apetite.
Esses são sintomas
típicos de um quadro depressivo. Usei o exemplo de uma mulher jovem, pois é o
público mais acometido por esse tipo de situação. Essa mesma mulher, que está
desanimada, sem vontade de fazer as coisas que gosta, triste, querendo ficar
isolada em casa e sentindo culpa por estar assim pode ficar mais irritada. Essa
irritabilidade, associada a preocupação constante por estar com alguma doença
ou fazendo mal para a família, ansiedade frente a ter que trabalhar ou sair de
casa, podem caracterizar um quadro ansioso associado à depressão.
Para nós psiquiatras, a
ocorrência das duas situações ocorre quando vemos pessoas que além da presença
de muitos sintomas depressivos, há o critério para outros tantos sintomas
ansiosos, como por exemplo:
A pessoa apresenta
inquietação psicomotora, nervos à flor da pele, brancos na mente, dificuldade
em iniciar o sono, sentimento de cansaço crônico com fatigabilidade associados
a desânimo, tristeza, pensamentos de morte, angústia, falta de prazer e
interesse nas coisas que gosta. Apresenta também certa indecisão para tomadas
de decisões mais simples e alteração do apetite.
Você pode perceber que
essa é uma situação na qual a pessoa preenche tanto os critérios para o
diagnóstico de depressão quanto de ansiedade. Nas situações anteriores, a
pessoa preenchia critérios para um transtorno, mas não para o outro. Os
sintomas eram bem menos intensos do que a doença manifestante.
Ok, Doutor! Agora
entendi a diferença de um com o outro ou de como elas se relacionam. Mas como
faço para não deixar uma levar à outra?
Há inúmeras formas de
tratar esses quadros acima. A indicação de um psiquiatra em associação com uma
psicóloga é imprescindível, mas não só. Recomendamos também a atividade física,
uma higiene do sono adequada, dieta equilibrada, estímulo para a prática
regular de atividades que sempre foram prazerosas. Ioga, acupuntura e pilates
também ajudam.
Espero tê-los ajudado
na elucidação dos dois quadros e estou à disposição para quaisquer dúvidas.
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