Duas condições lideram
as causas de morte de mulheres durante a gravidez ou nos 42 dias seguintes ao
parto, conhecida como morte materna. A primeira delas é a hipertensão
e suas complicações, que podem levar a gestante a um quadro de pré-eclâmpsia. O
segundo lugar do ranking é ocupado pela hemorragia pós-parto. "Nosso maior
desafio no momento é promover ações para conseguir prever, prevenir e tratar
essas duas condições", disse a médica Fernanda Spadotto Baptista, diretora
do Ambulatório de Alto Risco da clínica obstétrica do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP ao Jornal da USP no Ar.
O ideal, diz a
especialista, seria que todas as pacientes que pretendem e planejam engravidar
passassem por uma "avaliação pré-concepcional". Nela seriam
identificados precocemente não somente os riscos de hipertensão, como o de
hemorragia pós-parto e todos os outros agravos de saúde que podem acontecer
durante a gestação. "No caso da hipertensão, o primeiro e maior fator é já
existir um histórico de pré-eclâmpsia. Além disso, fatores genéticos,
hipertensão arterial crônica, obesidade, diabetes
não tratada adequadamente também podem desenvolver quadro de
pré-eclâmpsia", comenta.
Ela ressalta que a
demora em se atender adequadamente a mulher após o parto pode ser fatal.
"Existem primordialmente três motivos para essa demora existir",
pontua. A primeira se dá quando a paciente não percebe que possui algo grave,
algo remediável através de "ações de educação". Além disso, a médica
comenta o problema de infraestrutura estatal que impede fácil acesso ao serviço
de saúde. "A paciente reconhece que está grávida e vai buscar o serviço de
saúde para ser atendida, porém é distante, inacessível", conta.
O último motivo para a
demora do atendimento surge quando a condição da paciente não é reconhecida
como grave pelos agentes de saúde. Ela comenta uma iniciativa da Opas
(Organização Pan-Americana da Saúde) de fornecer treinamento às equipes de
saúde para que consigam agir de forma coordenada e rápida ao se depararem com
situações de emergência — principalmente na primeira hora após o parto.
"Nessa primeira hora há maiores chances de se salvar a mãe; após esse
momento o quadro tende a piorar", explica.
Atualmente, o índice
brasileiro é de 64 mortes maternas a cada 100 mil nascidos vivos. Número bem
menor do que as 140 para cada 100 mil que o País ostentava nos anos 1990, porém
ainda distante da meta estipulada pela ONU (Organização das Nações Unidas) no
Pacto do Milênio, que é de 35 mortes para cada 100 mil nascidos. O Brasil
deveria ter atingido essa marca em 2015, mas houve uma repactuação e o prazo
foi estendido até 2030.
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