FONTE: , (mulher.uol.com.br).
Por que fazemos
música? Uma das teorias mais duradouras a respeito do assunto foi proposta pelo
naturalista britânico Charles Darwin, que sugeriu que, assim como no caso do
canto dos pássaros, o principal motivo para a música humana é o sexo. Os seres
humanos fazem música há pelo menos 40 mil anos. Os instrumentos mais antigos
conhecidos são flautas feitas com ossos ocos de animais.
"As notas musicais e o ritmo foram adquiridos, a princípio, pelos ancestrais masculinos e femininos da humanidade, com o propósito de cativar o sexo oposto", escreveu Darwin em "A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo".
"As notas musicais e o ritmo foram adquiridos, a princípio, pelos ancestrais masculinos e femininos da humanidade, com o propósito de cativar o sexo oposto", escreveu Darwin em "A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo".
Agora
apareceram evidências que parecem apoiar sua hipótese, em um estudo do
psicólogo Benjamin Charlton, da Universidade de Sussex em Brighton, na
Inglaterra. Em um experimento realizado com mais de 1.400 mulheres, ele
comprovou que durante o ciclo menstrual delas --mais precisamente em seu ponto
mais fértil--, elas expressavam mais interesse sexual em compositores de música
mais complexa.
Divulgado
na publicação científica "Proceedings of the Royal Society", o
resultado do estudo reforça a hipótese de que a música pode indicar
características genéticas desejáveis, fazendo com que os melhores compositores
também sejam considerados melhores parceiros sexuais.
Na atual
novela das nove, "Em Família" (Globo), o personagem Laerte, vivido
pelo ator Gabriel Braga Nunes, feitiça as mulheres da trama com sua flauta
transversal. O músico despertou o interesse da jovem Luíza (Bruna Marquezine)
com seu instrumento e suas canções clássicas, o que virou motivo de discórdia
com Helena (Julia Lemmertz), mãe da garota.
Fora da trama, as vendas de flautas até disparam no mercado. A loja Eclipse & Arte Som, no centro de São Paulo, vendeu quase tantas flautas no primeiro mês de exibição da novela das nove da Globo quanto em todo o ano de 2013.
Fora da trama, as vendas de flautas até disparam no mercado. A loja Eclipse & Arte Som, no centro de São Paulo, vendeu quase tantas flautas no primeiro mês de exibição da novela das nove da Globo quanto em todo o ano de 2013.
Traço humano.
Todas as culturas faziam música, até mesmo as que não dominavam a linguagem escrita. Cientistas consideram que a musicalidade é um traço humano universal. No entanto, ao contrário de hábitos como cozinhar, cultivar, falar ou criar uma família, fazer música não traz nenhum benefício óbvio ou tangível aos seres humanos.
Todas as culturas faziam música, até mesmo as que não dominavam a linguagem escrita. Cientistas consideram que a musicalidade é um traço humano universal. No entanto, ao contrário de hábitos como cozinhar, cultivar, falar ou criar uma família, fazer música não traz nenhum benefício óbvio ou tangível aos seres humanos.
Há muitas ideias sobre o porquê de a música ter surgido entre nossos
ancestrais. Alguns pesquisadores acreditam que a música começou como forma de
promover a coesão social, um papel "tribal" que persiste ainda hoje.
Outros, que ela começou com as canções que estabeleciam a comunicação entre
mães e filhos, uma derivação dos acalantos aos bebês que todos os povos do
mundo praticam.
E há também os que pensam que a música e a linguagem já estiveram
fundidos em uma forma de comunicação composta, chamada de "musilinguagem",
da qual a música se dividiu como veículo de emoções, enquanto a linguagem se
transformou em significado semântico.
Sobrevivência do mais sexy.
Sobrevivência do mais sexy.
A noção de Darwin de música como agente de seleção natural continua
sendo uma das teorias preferidas da comunidade científica. Ele considerava a
relação sexual como auxiliar da seleção natural: era a "sobrevivência do
mais sexy", sem importar que os atributos sexuais tivessem outras
vantagens para a sobrevivência.
De acordo com este pensamento, a habilidade de cantar e de criar música
funcionaria como a cauda do pavão real: inútil e até mesmo um tanto incômoda,
mas que chama a atenção. É possível que tais exibições sexuais forneçam pistas
verdadeiras sobre a genética dos indivíduos. O pavão real macho, por exemplo,
poderia estar dizendo: "Sou tão musculoso que posso sobreviver mesmo
carregando esta coisa absurda".
Da mesma forma, um músico capaz de criar harmonias complexas e bonitas
poderia estar mostrando seu conhecimento, destreza e vigor superiores. Por essa
lógica, apaixonar-se por um músico habilidoso teria sentido, evolutivamente.
As estrelas do rock e do pop estão rodeadas de admiradores sexualmente
interessados por elas e isso não é só um fenômeno moderno. As apresentações do
pianista, compositor e maestro húngaro Franz Liszt extasiavam as mulheres na
década de 1840, durante a chamada "Lisztomania".
Um estudo britânico publicado em 2000 afirmou que, em concertos de
música clássica, havia consideravelmente mais mulheres nas cadeiras mais próximas
das orquestras predominantemente masculinas, do que nas filas mais afastadas. E
anedotas do mundo da música parecem sugerir que a qualidade da performance
musical declina depois do sexo.
O trompetista Miles Davis, por exemplo, teria dito que muitos músicos ficam sem praticar sexo horas antes de grandes shows, para manter o alto nível de sua performance.
E caso você esteja pensando que ser músico não ajudou muito na sobrevivência de Jimi Hendrix, Jim Morrison ou Kurt Cobain, considere que o próprio Darwin afirmou que algumas aves macho acabam morrendo de exaustão, quando cantam durante a época de procriação. O risco valeria a pena, em nome de se tornar um modelo de comportamento sexual.
Uma possível origem de seleção sexual da música também poderia ajudar a
explicar o aparente impulso de diversidade, criatividade e novidade de muitos
cantos de pássaros macho que desenvolvem grandes e variados repertórios, em um
esforço para produzir o sinal de acasalamento mais eficiente.
E o exagero da cauda do pavão real --resultado de uma tendência já
comprovada de extravagância na seleção de características sexuais-- não parece
semelhante às torres de amplificadores e alto-falantes, à pirotecnia, aos
trajes escalafobéticos em shows musicais? Resumindo, o pavão não poderia
explicar o fenômeno que é a banda Kiss?
Mas parte do problema é que a ideia de Darwin é muito atraente e nos
convida a achar que anedotas podem ser evidências científicas. As canções nas
culturas anteriores à escrita não são os equivalentes tribais a "Let's
Spend the Night Together", dos Rolling Stones (Vamos passar a noite
juntos, em tradução livre).
As músicas dos aborígenes australianos, por exemplo, expressam os
sentimentos do cantor como membro da comunidade. A maioria da música ocidental,
na Idade Média, era praticada por monges supostamente celibatários. E em
algumas sociedades africanas, os músicos são considerados preguiçosos e pouco
confiáveis. Portanto, maus candidatos ao casamento.
Provas científicas realmente válidas sobre a seleção sexual na música
são, até hoje, escassas e ambíguas. Se as mulheres escolhem companheiros
sexuais com base em traços criativos ou artísticos, se esperaria que suas
preferências mudassem durante o período mais fértil. Um estudo americano de
2006 de fato afirma que homens aparentemente criativos eram favorecidos neste
momento.
Ciclo da atração.
Então o que esta pesquisa mais recente traz de novo? Benjamin Charlton
imaginou que a complexidade da música de um compositor masculino poderia ser
considerada um indicador de sua criatividade e capacidade para aprender
comportamentos complexos. Isso, portanto, poderia também afetar a escolha
sexual feminina.
Em 2012, um de seus experimentos comprovou que a ovulação não parece
afetar as preferências das mulheres pela complexidade da música propriamente
dita. Mas e suas preferências pelos compositores?
Desta vez, Charlton dividiu seu grupo de 1.465 adultas participantes do
estudo em mulheres com alto e com baixo risco de concepção no momento dos
testes, segundo a informação que elas deram sobre seu ciclo reprodutivo. Em
seguida, ele pediu que elas escutassem determinadas melodias curtas, compostas
para o experimento, de diversos graus de complexidade.
Primeiro, pediu a algumas das participantes que qualificassem a
complexidade da melodia, para ter certeza de que elas podiam identificar este
traço. Depois, perguntou a um grupo diferente qual dos supostos compositores
(homens) de um par de melodias (uma mais e uma menos complexa) elas prefeririam
como companheiro sexual a curto ou a longo prazo.
Um número significativo de mulheres mostrou maior preferência pelo compositor das peças mais complexas, mas somente entre as mulheres com alto risco de concepção e somente como companheiro de curto prazo.
Parece que algo conectado ao ciclo reprodutivo das mulheres realmente
modificava suas preferências nessa situação. Mas o quê? Segundo Charlton, os
resultados "apoiam a opinião de que as mulheres usam (ou usavam
ancestralmente) a capacidade dos compositores masculinos para criar música
complexa como critério para eleger parceiros".
Isso, por sua vez, sugere que a própria complexidade musical surgiu de
uma espécie de "corrida armamentista", em que os músicos se
esforçavam cada vez mais por provar sua habilidade e cortejar uma companheira.
No entanto, apesar de serem interessantes, os resultados de Charlton estão
longe de serem conclusivos.
A música mais complexa que existe, segundo estudos, é o gamelão
indonésio, que é uma das músicas tradicionais mais sociais, devocionais e não
sexualizadas do mundo. Também há poucas evidências que sugiram que a música
tenha demonstrado uma tendência consistente de se tornar cada vez mais
complexa.
Além disso, é muito difícil separar as preferências de um ouvinte por um
compositor de suas preferências pela música real. Neste caso, parece haver um
pico de "complexidade preferida", depois da qual a preferência
diminui. Quando a música dos Beatles se tornou mais complexa, por exemplo, suas
vendas caíram.
E ainda nem entramos no assunto
obscuro de como os revestimentos culturais influenciam as suposições que as
mulheres poderiam fazer sobre os compositores fictícios do estudo, baseando-se
apenas em um pequeno fragmento de "suas" melodias. Ainda há muito
trabalho a fazer. Se a música é o alimento do amor, que continue tocando.
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