FONTE: Ana Paula
Lima e Emile
Conceição ( ),
CORREIO
DA BAHIA.
Testadora de
produtos eróticos fala sobre como é fazer esse controle de qualidade.
“O melhor jeito de testar um vibrador é encostá-lo na ponta
do nariz. O que provocar mais vibração, mais cosquinha é o que vai funcionar
melhor com a gente”. Este é um conselho de quem entende do assunto. Mariana
Blac, 28 anos, foi testadora de produtos eróticos por um ano.
Jornalista formada pela Universidade Federal de Juiz de
Fora (MG), ela começou a exercer a atividade pouco comum, em 2012, ao superar 7
mil candidatos que disputavam a vaga oferecida pelo site Sexônico. O portal
precisava de alguém que produzisse e atualizasse um blog com resenhas críticas
sobre os produtos vendidos. “Ainda assim eu ia continuar na área de produção de
conteúdo”, justifica para explicar o fato de o trabalho ainda ter uma pequena
relação com o jornalismo.
Das mãos do carteiro Mariana recebia uma caixa contendo
alguns produtos. À noite levava-os para o quarto, examinava-os, e em seguida
escolhia qual iria usar. Para “criar um clima” colocava uma música, mas nada
específico. Gostava de sintonizar uma rádio qualquer e deixar que o destino
ditasse a trilha sonora que iria embalar sua noite, e só então iniciava a
jornada de trabalho.
Para se concentrar melhor na sua atividade, ela fazia um
exercício mental: tentava lembrar suas melhores noites a dois. Caetano Veloso
tem razão: “o pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa
quando começa a pensar?”. Mais que aliados, os pensamentos ajudavam nas
preliminares, tão importantes para evitar desconfortos, que influenciariam o
resultado do teste.
Após alguns experimentos, era a hora de fazer o parecer
sobre o produto: escrever sobre as impressões e sensações experimentadas ao
longo de horas de trabalho. “À medida que você for empurrando, vá aumentando a
velocidade de rotação aos poucos”, aconselhou em uma de suas resenhas sobre o
vibrador Rabbit.
A carreira deu tão certo que ela chegou a testar 22 produtos
durante o ano que trabalhou para o Sexônico. Mariana testava em média dois
produtos por mês, às vezes demorava mais tempo com um determinado objeto, como
as bolinhas de pompoarismo. Para observar a eficácia dos apetrechos, ela teve
que utilizá-los durante três meses.
Depois dos experimentos a testadora avaliava as
características dos produtos como o formato e a matéria-prima e, claro, se ele
era capaz de fazer tudo o rótulo prometia. Ela usou de tudo um pouco, géis,
vibradores e até um boneco inflável. O “pseudo-homem”, com um pênis de
plástico, apesar de um pouco estático, proporcionou boas surpresas a Mariana.
“Eu tinha certeza que seria um teste totalmente fracassado, mas realmente o
brinquedo funciona. É super bacana, divertido e lúdico também. É possível fazer
várias brincadeiras com ele (risos)”, elogia.
Boneco inflável
O teste com o homem de plástico ocorreu depois da Mostra
Internacional de Bonecas Infláveis. Durante o evento Mariana escolheu o modelo
que mais lhe agradou: o “Construtor”. Pegou a caixa e a levou para casa. A
noite dos dois não começou bem. Quando chegou ao prédio em que morava, ao
passar pelo portão, sem querer, deixou a embalagem cair. Para azar dela o pênis
de plástico se desprendeu e saiu rolando pela calçada. A cena constrangedora
foi presenciada pelo porteiro e o entregador de pizza que ficaram um pouco
assustados, mas não recriminaram Mariana.
Ao final o balanço foi positivo: “o pênis tem tamanho e
consistência perfeitos, apesar de ser de plástico. Além disso, o boneco não
fica molenga enquanto você “cavalga” em cima dele”, relata.
Porém, quando perguntada sobre o brinquedinho que tornou
o trabalho ainda mais prazeroso, ela responde sem pestanejar: “o Rabbit”. Ela
até admite que o apetrecho deixou a desejar no primeiro “encontro”, porém,
depois de algumas tentativas, finalmente descobriu os prazeres que o vibrador
de orelhinhasé capaz de proporcionar, Mariana relata que o vibrador foi a ela
ejacular, sensação rara entre as mulheres. Depois do uso ela chegou até a
repensar os planos para o futuro. Antes de conhecer as peripécias que o Rabbit
pretendia casar e se conformar com a monotonia de transas periódicas com o
mesmo companheiro. Depois do vibrador... “Estou pra ver o homem que vai me
convencer a deixar meu Rabbit de lado!”.
Detalhes
Ser testadora de produtos eróticos exige mais dedicação
do que se pensa. Afinal os testes não levam em consideração apenas a diversão
que os sex toys (brinquedos sexuais) - como também são conhecidos os objetos
que ajudam a estimular a imaginação dos casais - são capazes de gerar. As
características do brinquedo como o material utilizado na fabricação e o
formato que eles têm também devem ser avaliadas com riqueza de detalhes.
Mariana afirma que sempre tratou o trabalho com muita
seriedade e que não sofreu preconceito de amigos e familiares quando decidiu
trabalhar como testadora. “Quando eu consegui a vaga e falei para meus pais,
eles me disseram que se eu fosse trabalhar com seriedade, tratar o assunto de
maneira jornalística, não existiria problema”, relata.
Agnóstica, Mariana conta que no início os familiares mais
religiosos estranharam a atividade escolhido por ela, mas acabaram entendendo
que se tratava de um trabalho sério. Talvez a famosa integrante da família de
Mariana não fosse tão tolerante. Lúcia de Jesus dos Santos, a irmã Lúcia,prima
da avó de Mariana, foi uma das três crianças que presenciaram a aparição de
Nossa Senhora, na cidade de Fátima, Portugal, em 1917. Mas como não chegou a
conhecer a tia-avó, ela não teve maiores problemas.
Mariana explica que não escondia a profissão de
testadora, mas quando perguntada explicava apenas que era jornalista. O nome de
batismo ela também decidiu preservar. O “Mariana” foi sugestão de um amigo, já
o “Blac” vem do nome Black, que ela já gostava e considerava sonoro.
Quando trabalhava para o Sexônico, Mariana tinha carteira
assinada e ganhava R$ 2.000, por mês. O portal ainda continua contratando
profissionais, os interessados tem que entrar portal preencher um formulário e
esperar o contato dos recrutadores.
Há um ano longe do trabalho almejado por muita gente, a
jornalista/testadora, não descarta a possibilidade de retornar ao ofício. “Por
enquanto eu faço a assessoria da Loja do Prazer, mas existe a possibilidade de
voltar a fazer os testes”. A sabedoria popular diz que quem trabalha com o que
gosta, vive de férias. No caso de Mariana, férias sempre prazerosas. “Eu
trabalho com prazer, literalmente”, conclui.
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