quarta-feira, 30 de abril de 2014

TRABALHO POR PRAZER...

FONTE: Ana Paula Lima e Emile Conceição (emile.conceicao@redebahia.com.br), CORREIO DA BAHIA.
Testadora de produtos eróticos fala sobre como é fazer esse controle de qualidade.
“O melhor jeito de testar um vibrador é encostá-lo na ponta do nariz. O que provocar mais vibração, mais cosquinha é o que vai funcionar melhor com a gente”. Este é um conselho de quem entende do assunto. Mariana Blac, 28 anos, foi testadora de produtos eróticos por um ano.

Jornalista formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), ela começou a exercer a atividade pouco comum, em 2012, ao superar 7 mil candidatos que disputavam a vaga oferecida pelo site Sexônico. O portal precisava de alguém que produzisse e atualizasse um blog com resenhas críticas sobre os produtos vendidos. “Ainda assim eu ia continuar na área de produção de conteúdo”, justifica para explicar o fato de o trabalho ainda ter uma pequena relação com o jornalismo. 
Das mãos do carteiro Mariana recebia uma caixa contendo alguns produtos. À noite levava-os para o quarto, examinava-os, e em seguida escolhia qual iria usar. Para “criar um clima” colocava uma música, mas nada específico. Gostava de sintonizar uma rádio qualquer e deixar que o destino ditasse a trilha sonora que iria embalar sua noite, e só então iniciava a jornada de trabalho.
Para se concentrar melhor na sua atividade, ela fazia um exercício mental: tentava lembrar suas melhores noites a dois. Caetano Veloso tem razão: “o pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar?”. Mais que aliados, os pensamentos ajudavam nas preliminares, tão importantes para evitar desconfortos, que influenciariam o resultado do teste. 
Após alguns experimentos, era a hora de fazer o parecer sobre o produto: escrever sobre as impressões e sensações experimentadas ao longo de horas de trabalho. “À medida que você for empurrando, vá aumentando a velocidade de rotação aos poucos”, aconselhou em uma de suas resenhas sobre o vibrador Rabbit. 
A carreira deu tão certo que ela chegou a testar 22 produtos durante o ano que trabalhou para o Sexônico. Mariana testava em média dois produtos por mês, às vezes demorava mais tempo com um determinado objeto, como as bolinhas de pompoarismo. Para observar a eficácia dos apetrechos, ela teve que utilizá-los durante três meses. 
Depois dos experimentos a testadora avaliava as características dos produtos como o formato e a matéria-prima e, claro, se ele era capaz de fazer tudo o rótulo prometia. Ela usou de tudo um pouco, géis, vibradores e até um boneco inflável. O “pseudo-homem”, com um pênis de plástico, apesar de um pouco estático, proporcionou boas surpresas a Mariana. “Eu tinha certeza que seria um teste totalmente fracassado, mas realmente o brinquedo funciona. É super bacana, divertido e lúdico também. É possível fazer várias brincadeiras com ele (risos)”, elogia.
Boneco inflável 
O teste com o homem de plástico ocorreu depois da Mostra Internacional de Bonecas Infláveis. Durante o evento Mariana escolheu o modelo que mais lhe agradou: o “Construtor”. Pegou a caixa e a levou para casa. A noite dos dois não começou bem. Quando chegou ao prédio em que morava, ao passar pelo portão, sem querer, deixou a embalagem cair. Para azar dela o pênis de plástico se desprendeu e saiu rolando pela calçada. A cena constrangedora foi presenciada pelo porteiro e o entregador de pizza que ficaram um pouco assustados, mas não recriminaram Mariana. 
Ao final o balanço foi positivo: “o pênis tem tamanho e consistência perfeitos, apesar de ser de plástico. Além disso, o boneco não fica molenga enquanto você “cavalga” em cima dele”, relata.
Porém, quando perguntada sobre o brinquedinho que tornou o trabalho ainda mais prazeroso, ela responde sem pestanejar: “o Rabbit”. Ela até admite que o apetrecho deixou a desejar no primeiro “encontro”, porém, depois de algumas tentativas, finalmente descobriu os prazeres que o vibrador de orelhinhasé capaz de proporcionar, Mariana relata que o vibrador foi a ela ejacular, sensação rara entre as mulheres. Depois do uso ela chegou até a repensar os planos para o futuro. Antes de conhecer as peripécias que o Rabbit pretendia casar e se conformar com a monotonia de transas periódicas com o mesmo companheiro. Depois do vibrador... “Estou pra ver o homem que vai me convencer a deixar meu Rabbit de lado!”. 
Detalhes 
Ser testadora de produtos eróticos exige mais dedicação do que se pensa. Afinal os testes não levam em consideração apenas a diversão que os sex toys (brinquedos sexuais) - como também são conhecidos os objetos que ajudam a estimular a imaginação dos casais - são capazes de gerar. As características do brinquedo como o material utilizado na fabricação e o formato que eles têm também devem ser avaliadas com riqueza de detalhes. 
Mariana afirma que sempre tratou o trabalho com muita seriedade e que não sofreu preconceito de amigos e familiares quando decidiu trabalhar como testadora. “Quando eu consegui a vaga e falei para meus pais, eles me disseram que se eu fosse trabalhar com seriedade, tratar o assunto de maneira jornalística, não existiria problema”, relata. 
Agnóstica, Mariana conta que no início os familiares mais religiosos estranharam a atividade escolhido por ela, mas acabaram entendendo que se tratava de um trabalho sério. Talvez a famosa integrante da família de Mariana não fosse tão tolerante. Lúcia de Jesus dos Santos, a irmã Lúcia,prima da avó de Mariana, foi uma das três crianças que presenciaram a aparição de Nossa Senhora, na cidade de Fátima, Portugal, em 1917. Mas como não chegou a conhecer a tia-avó, ela não teve maiores problemas.
Mariana explica que não escondia a profissão de testadora, mas quando perguntada explicava apenas que era jornalista. O nome de batismo ela também decidiu preservar. O “Mariana” foi sugestão de um amigo, já o “Blac” vem do nome Black, que ela já gostava e considerava sonoro.
Quando trabalhava para o Sexônico, Mariana tinha carteira assinada e ganhava R$ 2.000, por mês. O portal ainda continua contratando profissionais, os interessados tem que entrar portal preencher um formulário e esperar o contato dos recrutadores. 

Há um ano longe do trabalho almejado por muita gente, a jornalista/testadora, não descarta a possibilidade de retornar ao ofício. “Por enquanto eu faço a assessoria da Loja do Prazer, mas existe a possibilidade de voltar a fazer os testes”. A sabedoria popular diz que quem trabalha com o que gosta, vive de férias. No caso de Mariana, férias sempre prazerosas. “Eu trabalho com prazer, literalmente”, conclui.

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