FONTE: iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
Atingir os 100 anos ou mais é
para poucos, mas no Brasil isso pode
ser considerada uma tarefa hercúlea. Se por um lado o país se tornou mais
longevo - a expectativa de vida passou dos parcos 59,6 anos, na década de 1970,
para 74,8 anos, em 2010 -, por outro, houve o decréscimo de 1,4% na população
de centenários na última década.
Pesquisadores estão tentando entender
por que é tão difícil se tornar um centenário no País. O geriatra Ângelo Bós,
do Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUC-RS, acredita que o motivo da
dificuldade do brasileiro superar a
barreira dos 100 anos esteja na falta de atendimento especializado. “Velhice
não é doença, logo ninguém deveria morrer de velho. Precisamos levar em
consideração que existe uma dificuldade de dar assistência às pessoas com mais
de 90”, afirma.
Bós investigou a situação. Em 2000, havia
261 mil pessoas com mais de 90 anos no Brasil. Dez anos depois, apenas 24.236
estavam vivas, apenas 9,3% sobreviveram. “Todo mundo vai morrer, mas os dados
mostram que 14,2% destes centenariáveis morreram sem assistência médica e
11,12%, de causas desconhecidas. Eu não posso dizer que eles não teriam morrido
se tivessem assistência, mas poderiam ter sofrido menos”, disse. Neste mesmo
período, entre 2000 e 2010, houve um aumento de 81% na população de 90 a 94
anos e de 75% entre os que têm entre 95 e 99 anos.
Para ampliar o número dos que rompem a
barreira de um século de existência, é preciso avançar na capacitação de
profissionais e nos investimentos dos governos para atender os longevos em suas
especificidades. “Com 70 anos, se a pessoa não se sente bem ela vai ao posto de
saúde. Com 80, ela vai depender do auxílio de um parente. Aos 90, além de precisar
de transporte, ela já tem filhos idosos. Aos cem, quem vai cuidar dessa
pessoa?”, diz Bós.
A base do problema.
A falta de centenários pode ser ainda um reflexo da saúde dos idosos brasileiros. Um
estudo realizado em Porto Alegre mostrou que nonagenários ingerem apenas 60% da
quantidade de proteína que deveriam. Em São Paulo, uma pesquisa com pessoas com
60 anos ou mais mostrou que a maioria apresentava doenças como hipertensão
arterial, obesidade, câncer, doenças cardiovasculares e artrite.
O estudo feito com 2.143 idosos mostrou que
em dez anos, a incapacidade por doenças cresceu 78,5% entre os homens e 39,2%
entre as mulheres entre 2000 e 2010. Se por um lado houve um aumento de dois
anos na expectativa de vida, é preciso considerar que houve uma perda de até
três anos de vida saudável.
"Isso significa que houve um
ganho de expectativa de vida, mas a qualidade de vida
não melhorou”, afirma o autor do estudo, Alessandro Campolina, geriatra e
pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Ele
explica que caso as doenças mais comuns entre os idosos, como diabetes e
hipertensão, fossem controladas, os homens ganhariam até seis anos de
expectativa de vida sem incapacidade.
"Muitas vezes o que vemos é a crença de
que a pessoa já está velha, não vale a pena fazer determinado tratamento ou
cirurgia. Estas pessoas também precisam de tratamentos”, completa Bós.
É claro que há um fator genético para ser
tornar um centenário, mas ainda não se chegou a conclusão de quanto isto realmente
interfere. Campolina explica que é difícil determinar com precisão quanto a
genética determina na longevidade das pessoas. “Temos vários estudos sobre isso
e os resultados são discrepantes. A maioria diz que o componente ambiental
impacta mais que o genético. Em termos de doenças como câncer, doenças
cardiovasculares e diabetes, o ambiente prevalece e pode inclusive ativar genes
ligados à doença”, explica.
Problemas à vista.
Para Campolina, o cenário de maior
expectativa de vida e menor qualidade de vida mostra que será necessário um
maior investimento ao atendimento ao idoso, além de dar mais atenção à medicina
preventiva. “As pessoas estão vivendo mais e vivendo mais tempo doentes. Mesmo
nas faixas etárias mais avançadas, se doenças forem prevenidas há melhoria.
Estudos mostram que tratamentos de hipertensão em pacientes com 80 anos valem.
Sempre vale prevenir e controlar”, diz.
No entanto, não é o que está sendo feito.
Dos R$ 28,5 milhões destinados ao Ministério da Saúde para a implementação da
política Nacional do Idoso, apenas R$ 14,8 milhões foram usados. A preocupação
aumenta, quando se leva em conta que nos próximos 30 anos, a população
brasileira passará por um rápido envelhecimento.
De acordo com as projeções da Organização
Mundial de Saúde (OMS), no ano de 2025 o Brasil será o sexto país do mundo com
o maior número de pessoas idosas. Em 2050 os idosos deverão representar 24,5%
da população mundial e 14,2% da população brasileira.
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