FONTE: Paula Moura, Colaboração
para o UOL, (noticias.uol.com.br).
Existem muitos mitos
relacionados ao suicídio e o desconhecimento atrapalha a prevenção, assim como
tratar o tema como tabu ou pecado. A pessoa que pensa em se suicidar pode estar
pedindo ajuda e isso é feito de diversas formas antes que ela acabe por
tirar a própria vida. Portanto, é um mito dizer que quem vai se suicidar não
diz que vai fazê-lo, dizem os especialistas ouvidos pelo UOL.
"Uma pessoa que
pensa em se matar faz algum comentário com alguém próximo, diz que não está
aguentando, que está cansado", diz Teng Chei Tung, psiquiatra da
Universidade de São Paulo. "Também começa a preparar bens pessoais
para distribuir, por exemplo. O mais importante a desconfiar é o discurso
de falta de esperança."
De modo geral é
possível notar mudanças no padrão de comportamento. Pode haver isolamento
social, ou mesmo haver menção a ideias de por fim à vida. Mas isso nem sempre
é levado a sério, destaca o professor Neury Botega, da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas). "Quando se pensa em suicídio,
devemos considerar que "cão que ladra, morde". É incorreto pensar tão
somente que a pessoa que ameaça só quer chamar a atenção. Isso pode ser até uma
dimensão, mas não a totalidade do comportamento."
Valor do desabafo.
Alexandrina Meleiro,
professora da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora da Comissão de
Estudos e Prevenção de Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria,
ressalta que, segundo a Organização Mundial da Saúde, 70% das pessoas se sentem
aliviadas quando compartilham pensamentos e desejos suicidas.
"Tem-se a
impressão de que falar de suicídio vai incentivar a pessoa a se suicidar, mas
não, a pessoa vai se sentir confortável em verbalizar o que está pensando e não
tem coragem de dividir com alguém. Ao receberem ajuda, geralmente acabam
desistindo de se suicidar" Alexandrina Meleiro, professora da USP.
No Brasil, o Rio
Grande do Sul é o Estado com maior taxa de suicídios, e após a tragédia da
boate Kiss, os atendimentos no CVV (Centro de Valorização da Vida)
duplicaram, conta Jorge Brandão, um dos fundadores do CVV de
Santa Maria. Mas o número de suicídios caiu de 23 para 18, segundo jornal
Diário de Santa Maria. Isso indica que falar sobre o tema pode ajudar a pessoa
a mudar de ideia.
"Nosso trabalho
é atender sem preconceito, respeitar a dor, que é única, sem fazer comparações
ou dar conselhos, estamos lá para a pessoa desabafar, conversar", diz
Brandão. "O importante é ouvir a pessoa, sem interromper, sem comparar,
encarar com atenção. Ter tempo para o outro está cada dia mais raro."
Em setembro, mês da
prevenção mundial ao suicídio, a ligação para o CVV no Rio Grande do Sul
(número 188) passou a ser gratuita como um projeto que pode ser ampliado para o
país (número 141). Atualmente, a pessoa paga pela ligação. O serviço também
atende via Skype, e-mail e chat (cvv.org.br).
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