FONTE: Thamires Andrade, Do UOL, (http://estilo.uol.com.br).
Elfriede Galera, 61 anos, tinha um plano para sua
aposentadoria: dar uma volta ao mundo no veleiro que ela e o marido, Jadyr,
estavam construindo. Em 2010, Frida, como é chamada, recebeu um diagnóstico de
câncer de mama metastático e teve um apagão. "Sempre ouvi que metástase
era igual a morte. Mas meu médico disse que eu ia conseguir viver com qualidade
de vida e essa notícia já me deixou feliz", conta.
Frida vive há mais de sete anos com a doença e
fez algumas adaptações em seus planos. Agora, a meta dela e do marido é, com o auxílio de um
financiamento coletivo, subir a costa brasileira e fazer ações em hospitais
para falar sobre a prevenção do câncer de mama e mostrar que é possível viver
com metástase.
"Claro que tenho efeitos colaterais
permanentes das quimioterapias que fiz, tenho neuropatia (dormência nos nervos)
nos dedos e nas pontas dos pés, mas faço atividade física para amenizar. Hoje,
vivo intensamente e faço tudo que eu gosto e me dá prazer. E uma delas é falar
com outros pacientes oncológicos de que nós podemos conviver com o câncer de
forma mais leve", acredita.
Câncer = doença crônica.
Histórias como a de Elfriede têm se tornado
realidade para as pacientes com câncer de mama metastático, que significa que o
câncer que estava originalmente na mama se espalhou para outras partes do
corpo, como ossos e linfonodos. No Brasil, cerca de 13 a 15 mil mulheres
convivem com a doença anualmente e as mudanças no tratamento foram fundamentais
para que o diagnóstico de metástase deixasse de ser uma sentença de morte.
"Hoje, nós podemos dizer que o câncer se
tornou uma doença crônica. Antigamente, quem recebia diagnóstico de metástase
vivia pouco tempo. Era algo agudo. Hoje nós conseguimos manter a paciente com a
doença controlada por longos períodos", explica Pedro de Marchi,
oncologista do Hospital de Câncer de Barretos.
Essa mudança no paradigma da doença é semelhante
com o que aconteceu com o HIV na década de 80. Max Senna Mano, chefe do Grupo de
Câncer de Mama do Icesp (Instituto do Câncer de São Paulo), lembra que,
antigamente, os pacientes morriam de Aids dois meses depois do diagnóstico,
enquanto hoje as pessoas vivem anos com o vírus reprimido com qualidade de
vida.
No caso de câncer de mama, as mulheres já vivem
de 10 a 15 anos com a doença em sua forma crônica. Isso só foi possível graças
ao avanço da medicina personalizada, que é uma classe de medicamentos
desenvolvida para atuar em um alvo específico e controlar o desenvolvimento do
tumor.
Diferentemente da quimioterapia, que mata
qualquer célula, as drogas alvo moleculares atacam apenas as tumorais. “O
medicamento impede que a célula tumoral se reproduza e isso faz com que elas
envelheçam e morram naturalmente”, explica Marchi.
Entraves da medicina personalizada.
Oncologista há mais de 40 anos, Drauzio Varella
acredita que essas dezenas de novas drogas estão colocando a oncologia em um
outro patamar. Mas para ter acesso a essas novas terapias, existem alguns
entraves. Um deles é o exame capaz de detectar a mutação do tumor, que não é
coberto pelo SUS. “Esse teste costuma ser financiado pela indústria
farmacêutica”, fala Marchi.
A outra questão é referente ao custo dessas
medicações. “São drogas caras, que tem um processo de desenvolvimento custoso
e, por isso, entram no mercado com preço alto. Isso faz com que a Anvisa segure
a liberação desses novos medicamentos, pois o impacto financeiro no SUS e na
saúde suplementar vai ser grande”, destaca Drauzio Varella.
E essas drogas que conseguiram elevar a qualidade
de vida das pacientes. “Hoje elas têm a vida mais próxima possível do normal. A
maioria trabalha e toca a vida normalmente, mas com algumas limitações, como
ter que vir no hospital fazer tratamento”, fala Manso.
No entanto, os medicamentos têm sim efeitos
colaterais. “Dependendo da droga, a qualidade de vida não é tão boa. Algumas
provocam diarreias importantes. Se um dia passando mal já é ruim, imagina viver
com isso?”, questiona Drauzio.
Além das drogas anticâncer, Rafael Kaliks,
oncologista membro da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica), também
destaca que houveram avanços no controle da dor das pacientes, principalmente
nas que tinham metástase óssea.
“Agora temos mais drogas para a dor e para
diminuir os efeitos colaterais do tratamento, como as dores neuropáticas que
comprometem os nervos. Também temos uma série de antidepressivos para ajudar no
controle da depressão”, elenca Kaliks.
Mas então essas drogas são capazes de
curar o câncer?
Ainda não dá para dizer isso. As drogas alvo
moleculares, de fato, são um avanço importante para a oncologia, mas o problema
é que, eventualmente, elas param de fazer efeito e aí o oncologista precisa
trocar o protocolo e, muitas vezes, a doença progride.
Segundo Drauzio, o termo 'cura' é muito evitado
pelos oncologistas. “Hoje temos casos de câncer de mama com remissão completa
de cinco anos. Será que esses pacientes não estão curados definitivamente?
Talvez sim, mas a gente é reticente em falar ‘cura’, preferimos remissão. Mas
no futuro acredito que existirão drogas capazes de curar a doença", fala
Drauzio.
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