FONTE: *** Alexandre Faisal, (http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br).
A disfunção sexual
feminina (FSD) é uma desordem ginecológica descrita como alteração em pelo
menos um dos domínios principais da função sexual , incluindo excitação e
orgasmo. O impacto negativo sobre o casal e sobre a qualidade de vida da mulher
é enorme. Em geral resulta de somatória de eventos fisiológicos, emocionais ou
interpessoais. Causas de FSD de ordem anatômica/biológica incluem a mutilação
genital, endometriose, câncer ginecológico, incontinência urinária, alterações
endócrinas e doenças degenerativas e vasculares. Dentre as causas psicológicas
sobressaem a depressão e uso de drogas psicoativas. Como se trata de problema
frequente, demanda o reconhecimento e ação de profissionais de saúde por meio
de tratamentos médicos e psicológicos. Saber qual a magnitude do problema no
Brasil foi o tem de uma revisão sistemática conduzida por pesquisadores da
Universidade Estadual de Santa Catarina. Trata-se do primeiro estudo deste tipo
no país, usando apenas publicações nacionais.
A pesquisa encontrou
113 artigos sobre o tema, dos quais 20 foram usados para estimar a prevalência
das disfunções sexuais femininas. Questionários validados avaliaram os
diferentes problemas sexuais. Vamos aos principais resultados: a disfunção
sexual feminina variou de 13,3% a 79,3% nesta população: sendo que problemas de
baixa libido ocorreu entre 11% a 75%, problemas de excitação entre 8% a 68%,
lubrificação de 29,0% para 41%, e orgasmo de 18% a55%, e satisfação de 3,3%
para 42%; Dispareunia foi bastante comum também (1,2% a 56%). De imediato chama
atenção a divergências entre os estudos, atribuída aos métodos de avaliação e
as diferenças entre as populações avaliadas. De qualquer modo, o que se observa
é alta prevalência de disfunção sexual feminina no Brasil, ocorrendo em 2/3 das
mulheres brasileiras. Outra associação merece um comentário. Ser casado não
implica apresentar distúrbios da função sexual. Estudos prévios já sugeriam que
queixas sexuais são mais frequentes em divorciadas (87%) do que nas casadas
(62%) e até solteiras (66%). Em geral, a presença de um parceiro influencia
positivamente a função sexual das mulheres e as mulheres que consideram seu
relacionamento amoroso excelente apresentam melhores escores do que aquelas que
consideram a relação marital satisfatória.Como se sabe, para as mulheres conta
mais a qualidade dos relacionamentos e sentimentos para com seus parceiros do
que a freqüência da atividade sexual.
Finalmente para quem
se surpreendeu com estes números vale lembrar que estudos em outros países,
tais como U.K., Finlândia, Austrália e Irã mostram também alta prevalência de
disfunção sexual feminina. E no topo da lista de reclamações está o desejo
sexual hipoativo. Não chega a ser um consolo, mas é algo que pode ficar
esquecido. Não por acaso o artigo sugere a adoção de políticas nacionais de
saúde em relação à função sexual. Políticas que promovam a conscientização,
prevenção, diagnóstico precoce e tratamento dessas condições. As mulheres agradecem.
(Wolpe et al. Prevalence of female sexual dysfunction in Brazil: A
systematic review. European Journal of
Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology 211 (2017) 26–32)
Sobre o
autor.
Alexandre Faisal é
ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do
Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. Formado em Psicossomática, pelo
Instituto Sedes Sapientiae, publicou o livro "Ginecologia
Psicossomática" e é co-autor do livro "Segredos de Mulher: diálogos
entre um ginecologista e um psicanalista”. Atualmente é colunista da Rádio USP
(FM 93.7) e da Rádio Bandeirantes (FM 90.9). Já realizou diversas palestras
médicas no país e no exterior. Apresenta palestras culturais e sobre saúde em
empresas e eventos
Sobre o
blog.
Acompanhe os boletins
do "Saúde feminina: um jeito diferente de entender a mulher" que
discutem os assuntos que interessam as mulheres e seus parceiros. Uma abordagem
didática e descontraída das mais recentes pesquisas nacionais e internacionais
sobre temas como gravidez, métodos anticoncepcionais, sexualidade, saúde
mental, menopausa, adolescência, atividades físicas, dieta, relacionamento
conjugal, etc. Aproveite.
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