FONTE: Aretha Yarak, Colaboração para o UOL, em São Paulo, (http://noticias.uol.com.br).
O toque é algo
bastante poderoso nas sensações humanas. E toda vez que alguém faz cócegas em
você, é difícil evitar as risadas desconfortáveis e um reflexo quase imediato
para tentar deter a pessoa. Embora muito já se tenha estudado sobre o assunto,
as cócegas ainda são um pequeno mistério para a ciência.
A sensação de cócegas
é um fenômeno complexo, que envolve uma variedade de elementos neurológicos e
sensoriais.
Seu significado
evolutivo, no entanto, permanece sem uma resposta definitiva. Enquanto uma
parcela dos cientistas acredita que elas fazem parte do nosso sistema de
defesa, nos protegendo contra pequenos animais que tocam nossa pele, como
aranhas e mosquitos, outros acreditam que ela tem um relevante papel social.
Um importante
argumento para a tese da autodefesa é o de que sentimos vontade de rir apenas
quando sabemos que é um outro ser humano fazendo cócegas na gente. Se fosse um
animal, dificilmente sentiríamos vontade de rir.
E por que não
conseguimos fazer cócegas em nós mesmo? Isso acontece porque o cerebelo, o centro
de controle motor cerebral, já sabe o movimento que você irá fazer e qual será
a sensação na pele antes mesmo de você se tocar. O cérebro fica de sobreaviso e
bloqueia essa sensação de medo infundada.
Para o neurocientista
americano Robert R. Provine, autor do livro Laughter: A Scientific
Investigation (Risada: uma investigação científica, em tradução livre), as
cócegas fazem parte de um mecanismo social de criação de vínculos entre
companheiros e que ajuda a fortalecer as relações familiares e entre amigos.
"Ela é uma das primeiras formas de comunicação entre bebês e seus
cuidadores", conta.
Em 1984, o psiquiatra
norte-americano Donald Black, da Universidade de Iowa, apontou para um fato
interessante sobre esse mecanismo de aprendizagem. Segundo o pesquisador, as
regiões mais sensíveis às cócegas (pescoço e costelas) são também as mais
vulneráveis em um combate. Na opinião de Black, as crianças estariam aprendendo
como defender essas áreas de um jeito bastante seguro durante as brincadeiras
com cócegas.
Por que algumas pessoas
sentem mais cócegas do que outras?
Porque existe uma
variedade de níveis de sensibilidade entre as pessoas. Isso significa que o
mesmo estímulo pode causar uma sensação leve, mediana ou moderada, a depender
de como o sistema nervoso de cada um processa essa informação.
Em linhas gerais,
funciona assim: as terminações nervosas presentes na epiderme (camada mais
superficial da pele) captam a o estímulo do ambiente. Em seguida, essa
informação é transmitida em forma de estímulo elétrico até chegar no cérebro,
onde será processada.
Existem algumas variações genéticas que fazem com que um
neurônio dispare mais ou menos informações, e isso reflete na sensibilidade da
pessoa."
Essas diferenças
estão relacionadas a um mecanismo que envolve abertura de canais de sódio e
potássio, importantíssimos para a transmissão do impulso nervoso. "Quanto
mais canais abertos, mais impulso vai passar e maior será a sensação",
explica o neurologista.
Os níveis de
sensações costumam ser elencados em limiares, geralmente em relação à sensação
de dor: pessoas que sentem menos um mesmo estímulo têm limiares mais altos.
"A cócegas funciona segundo um mecanismo similar, mas relacionada ao
estímulo da terminação tátil. Ele pode sofrer esse mesmo tipo de variação entre
os indivíduos", explica.
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