Uma espécie bacteriana multirresistente, causadora de infecções
hospitalares, está se tornando cada vez mais tolerante ao álcool usado para
lavagem das mãos, segundo estudo publicado na revista "Science
Translational Medicine" nesta quarta-feira (1º).
A conclusão foi obtida a partir de amostras colhidas em dois hospitais
australianos. A análise do material sugere que a espécie Enterococcus faecium
está se adaptando a uma das ferramentas mais baratas e populares empregadas no
combate a infecções em instituições de saúde.
Nas últimas décadas, espécies bacterianas cada vez mais resistentes têm
preocupado médicos e enfermeiros de todo o mundo. Os hospitais endurecem os
procedimentos higiênicos para impedir que micróbios perigosos infectem os
pacientes.
As infecções por E. faecium, no entanto, aumentaram, apesar do uso de
desinfetantes à base de álcool isopropílico ou etílico, e atualmente
representam uma das principais causas de infecções em hospitais.
Essa constatação levou a pesquisadora Sacha Pidot e sua equipe a
investigarem se o E. faecium teria desenvolvido resistência aos álcoois usados
na lavagem das mãos. Eles rastrearam 139 amostras isoldas de E. faecium,
coletadas entre 1997 e 2015 de dois hospitais em Melbourne, na Austrália, e
estudaram como cada um sobreviveu à exposição de álcool isopropílico diluído.
Para o estudo, os autores limparam as gaiolas de camundongos com esse
tipo de álcool e espalharam diferentes amostras de E. faecium. Todos os
exemplares coletados depois de 2009 ficaram mais tolerantes ao álcool, em
comparação com as populações de bactéria analisadas antes disso.
A análise do genoma bacteriano revelou que os exemplares tolerantes
acumularam mutações em genes envolvidos no metabolismo que conferiam maior
resistência ao álcool. Assim, as bactérias tolerantes colonizaram melhor o
organismo dos camundongos.
Os autores defendem que essas amostras sejam testadas em hospitais de
outras regiões do mundo antes que qualquer conclusão seja tomada.
Os resultados, no entanto, indicam que os esforços globais para reduzir a
resistência bacteriana devem considerar como os micróbios podem se adaptar não
apenas às drogas, mas também ao álcool e a outros ingredientes usados nos
desinfetantes.
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