Apesar de até agora
muitos médicos recomendarem que pacientes com diabetes tipo 2 cortem gorduras
da sua alimentação, alguns estudos recentes têm mostrado que a baixa ingestão
de carboidratos --as chamadas dietas low carb -- podem ser mais eficazes para o
controle da doença. Isso significa tirar do cardápio pães, bolos e massas,
por exemplo.
“Para diabetes tipo 2,
temos vários trabalhos mostrando que dietas low carb apresentam um resultado
melhor. Alguns deles dizem que não há diferença quanto à redução de peso
[quando comparado à dieta com baixo teor de gordura], mas houve bons efeitos
quanto ao grau de inflamação, que é uma das questões para esses pacientes,
especialmente por conta do risco de doenças cardiovasculares”, disse Simone
Silvestre Miranda, médica nutróloga do Hospital Felicio Rocho, em apresentação
no último sábado (29) durante o 22º Congresso Brasileiro de Nutrologia.
Em sua palestra, a
médica citou um estudo conduzido por
pesquisadores da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Linköping,
na Suécia, que comparou os efeitos de uma dieta tradicional com baixo teor de
gordura com os colhidos em pacientes que reduziram a ingestão de carboidratos.
Os resultados mostraram
que os dois grupos tiveram perda de peso semelhante após seis meses de
dieta. A grande diferença entre os dois é que o segundo, que cortou
carboidratos, melhorou significativamente o seu estado inflamatório.
Isso é uma boa notícia
porque esse processo inflamatório, em pacientes com diabetes, atinge as
artérias e contribui para o desenvolvimento de complicações associadas à
doença, como problemas no coração, rins e cérebro, além da dificuldade de
cicatrização em membros inferiores.
Além disso, estratégias
para lidar com a doença são cada vez mais importantes por conta do aumento do
número desses pacientes. Só no Brasil, o Ministério da Saúde afirma que o
diagnóstico de diabetes cresceu em 61,8% em dez anos: passando de 5,5% em 2006
para 8,9% da população em 2016.
Do total de pacientes,
cerca de 90% tem diabetes tipo 2, que está associado a sedentarismo, obesidade,
má alimentação e histórico familiar. Nesses casos, o organismo desenvolve uma
dificuldade para utilizar a insulina que está sendo produzida, e o tratamento
costuma envolver mudanças na alimentação, o uso de medicamentos e a prática de
exercícios físicos. E, em geral, o diagnóstico vem junto com a constatação de
que o paciente precisa perder peso.
Bons resultados em
outros estudos.
Em um artigo de revisão publicado
no periódico Nutrición Hospitalaria em 2017, um grupo de especialistas
da Universidade de Granada, na Espanha, também defendeu que as dietas com
redução de carboidratos têm melhores resultados quanto ao controle glicêmico, a
diminuição de peso corporal e melhora de marcadores de risco cardiovascular em
pacientes com diabetes tipo 2. O texto, no entanto, diz que ainda são
necessárias novas pesquisas para avaliar os impactos a longo prazo na saúde
desses pacientes.
Outro estudo
que mostrou resultados animadores foi o publicado em 2014 no periódico Diabetes
Care e realizado na Austrália. A pesquisa comparou os efeitos da alimentação em
pacientes obesos com diabetes tipo 2 que foram divididos em dois grupos: um
submetido a uma dieta com baixo teor de carboidrato e outro com redução da
ingestão de gorduras.
Após 24 meses de dieta,
a redução do uso de medicamentos para o controle da doença foi duas vezes maior
no grupo que adotou a dieta low carb.
“Este trabalho traz
nova luz às orientações dietéticas aos pacientes com diabetes tipo 2, ainda que
sejam necessárias avaliações com maior número de pessoas e com análise dos
efeitos a longo prazo”, disse a médica endocrinologista Cristina Alba Lalli ao comentar
o artigo no podcast da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes).
Estudos realizados por
mais tempo ainda são importantes porque uma das principais barreiras para as
dietas low carb é sua manutenção a longo prazo?, principalmente quando o
corte de carboidratos é muito grande. “Alguns pacientes têm constipação, dor de
cabeça, halitose, cãibras, sensação de fraqueza, dificuldade de concentração.
Então têm pessoas que se adaptam muito bem à low carb e outras não”, disse a
médica Simone Miranda durante o Congresso.
Dieta low carb não é
indicada para diabetes tipo 1.
Apesar de beneficiar os
pacientes com diabetes tipo 2, a SBD não recomenda dietas com baixo teor de
carboidratos para quem tem o tipo 1 da doença, especialmente entre crianças e
adolescentes.
“Tal procedimento traz
potencial risco à saúde e ao desenvolvimento normal da criança e do
adolescente, não havendo ainda evidência de sua eficácia e segurança em
pacientes com diabetes tipo 1”, diz a entidade em nota.
Neste grupo, o sistema
imunológico ataca as células do pâncreas e pouca ou nenhuma insulina é liberada
pelo corpo. O controle da doença é feito com uso de insulina, medicamentos,
planejamento alimentar e atividades físicas.
Um dos problemas comuns
aos pacientes com diabetes tipo 1 é a hipoglicemia, o que pode ser agravado
pela dieta low carb. Em crianças e adolescentes, o corte de carboidratos pode
ainda afetar o crescimento.
“Fontes saudáveis de
carboidratos devem ser priorizadas e incentivadas [para esses pacientes], como
pães e cereais integrais, leguminosas (ervilhas, feijões e lentilhas), frutas,
legumes e laticínios com baixo teor de gordura (para crianças maiores de 2
anos), evitando-se fontes de carboidratos que contenham altas concentrações de
gorduras, açúcares e sódio”, indica a SBD.
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