terça-feira, 2 de outubro de 2018

CORTAR CARBOIDRATO É MELHOR QUE REDUZIR GORDURA EM QUEM TEM DIABETES TIPO 2...


FONTE: Marcelle Souza, Colaboração para o UOL VivaBem,https://vivabem.uol.com.br



Apesar de até agora muitos médicos recomendarem que pacientes com diabetes tipo 2 cortem gorduras da sua alimentação, alguns estudos recentes têm mostrado que a baixa ingestão de carboidratos --as chamadas dietas low carb -- podem ser mais eficazes para o controle da doença. Isso significa tirar do cardápio pães, bolos e massas, por exemplo.

“Para diabetes tipo 2, temos vários trabalhos mostrando que dietas low carb apresentam um resultado melhor. Alguns deles dizem que não há diferença quanto à redução de peso [quando comparado à dieta com baixo teor de gordura], mas houve bons efeitos quanto ao grau de inflamação, que é uma das questões para esses pacientes, especialmente por conta do risco de doenças cardiovasculares”, disse Simone Silvestre Miranda, médica nutróloga do Hospital Felicio Rocho, em apresentação no último sábado (29) durante o 22º Congresso Brasileiro de Nutrologia.

Em sua palestra, a médica citou um estudo conduzido por pesquisadores da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Linköping, na Suécia, que comparou os efeitos de uma dieta tradicional com baixo teor de gordura com os colhidos em pacientes que reduziram a ingestão de carboidratos.

Os resultados mostraram que os dois grupos tiveram perda de peso semelhante após seis meses de dieta. A grande diferença entre os dois é que o segundo, que cortou carboidratos, melhorou significativamente o seu estado inflamatório.

Isso é uma boa notícia porque esse processo inflamatório, em pacientes com diabetes, atinge as artérias e contribui para o desenvolvimento de complicações associadas à doença, como problemas no coração, rins e cérebro, além da dificuldade de cicatrização em membros inferiores.

Além disso, estratégias para lidar com a doença são cada vez mais importantes por conta do aumento do número desses pacientes. Só no Brasil, o Ministério da Saúde afirma que o diagnóstico de diabetes cresceu em 61,8% em dez anos: passando de 5,5% em 2006 para 8,9% da população em 2016.

Do total de pacientes, cerca de 90% tem diabetes tipo 2, que está associado a sedentarismo, obesidade, má alimentação e histórico familiar. Nesses casos, o organismo desenvolve uma dificuldade para utilizar a insulina que está sendo produzida, e o tratamento costuma envolver mudanças na alimentação, o uso de medicamentos e a prática de exercícios físicos. E, em geral, o diagnóstico vem junto com a constatação de que o paciente precisa perder peso.

Bons resultados em outros estudos.
Em um artigo de revisão publicado no periódico Nutrición Hospitalaria em 2017, um grupo de especialistas da Universidade de Granada, na Espanha, também defendeu que as dietas com redução de carboidratos têm melhores resultados quanto ao controle glicêmico, a diminuição de peso corporal e melhora de marcadores de risco cardiovascular em pacientes com diabetes tipo 2. O texto, no entanto, diz que ainda são necessárias novas pesquisas para avaliar os impactos a longo prazo na saúde desses pacientes.

Outro estudo que mostrou resultados animadores foi o publicado em 2014 no periódico Diabetes Care e realizado na Austrália. A pesquisa comparou os efeitos da alimentação em pacientes obesos com diabetes tipo 2 que foram divididos em dois grupos: um submetido a uma dieta com baixo teor de carboidrato e outro com redução da ingestão de gorduras.

Após 24 meses de dieta, a redução do uso de medicamentos para o controle da doença foi duas vezes maior no grupo que adotou a dieta low carb.

“Este trabalho traz nova luz às orientações dietéticas aos pacientes com diabetes tipo 2, ainda que sejam necessárias avaliações com maior número de pessoas e com análise dos efeitos a longo prazo”, disse a médica endocrinologista Cristina Alba Lalli ao comentar o artigo no podcast da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes).

Estudos realizados por mais tempo ainda são importantes porque uma das principais barreiras para as dietas low carb é sua manutenção a longo prazo?, principalmente quando o corte de carboidratos é muito grande. “Alguns pacientes têm constipação, dor de cabeça, halitose, cãibras, sensação de fraqueza, dificuldade de concentração. Então têm pessoas que se adaptam muito bem à low carb e outras não”, disse a médica Simone Miranda durante o Congresso.

Dieta low carb não é indicada para diabetes tipo 1.
Apesar de beneficiar os pacientes com diabetes tipo 2, a SBD não recomenda dietas com baixo teor de carboidratos para quem tem o tipo 1 da doença, especialmente entre crianças e adolescentes.

“Tal procedimento traz potencial risco à saúde e ao desenvolvimento normal da criança e do adolescente, não havendo ainda evidência de sua eficácia e segurança em pacientes com diabetes tipo 1”, diz a entidade em nota.

Neste grupo, o sistema imunológico ataca as células do pâncreas e pouca ou nenhuma insulina é liberada pelo corpo. O controle da doença é feito com uso de insulina, medicamentos, planejamento alimentar e atividades físicas.

Um dos problemas comuns aos pacientes com diabetes tipo 1 é a hipoglicemia, o que pode ser agravado pela dieta low carb. Em crianças e adolescentes, o corte de carboidratos pode ainda afetar o crescimento.

“Fontes saudáveis de carboidratos devem ser priorizadas e incentivadas [para esses pacientes], como pães e cereais integrais, leguminosas (ervilhas, feijões e lentilhas), frutas, legumes e laticínios com baixo teor de gordura (para crianças maiores de 2 anos), evitando-se fontes de carboidratos que contenham altas concentrações de gorduras, açúcares e sódio”, indica a SBD.

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