São Paulo — Prestes
a lançar uma autobiografia, a modelo Gisele Bündchen conta
em seu livro que já teve pensamentos suicidas e sofreu com síndrome do pânico.
O transtorno, que
atinge cerca de 2% da população brasileira, segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), é caracterizado por
crises recorrentes de pânico. Os sintomas incluem taquicardia, suores,
tremores, falta de ar, dor no peito, náusea, medo de morrer ou de perder o
controle, e pode ser confundido com problemas cardíacos ou Acidente Vascular
Cerebral (AVC).
A crise dura poucos
minutos, segundo especialistas. O problema maior do transtorno é viver com o
medo. A diferença entre uma crise isolada e o transtorno é a frequência
dos sintomas e o quanto eles afetam a vida do paciente.
“Uma das
características da doença é o medo persistente de um novo ataque”, afirma Ana
Paula Carvalho, psiquiatra do Hospital da Clínicas da Universidade de São Paulo
(USP). “Chamamos isso de medo do medo.”
As causas da síndrome
do pânico ainda são um mistério para a medicina. Segundo Ana Paula, elas podem
ser multifatoriais: estresse, fatores ambientais e hábitos de vida não
saudáveis, como fumar e ingerir bebidas alcoólicas.
“Mais de 50% das
pessoas que têm síndrome do pânico também têm outro tipo de transtorno
psiquiátrico, como ansiedade ou depressão”, afirma Ana Paula. De acordo
com a OMS, 9,3% dos brasileiros têm transtorno de ansiedade. A depressão atinge
5,8% da população.
Ao todo, transtornos de
ansiedade e depressão atingem 332 milhões de pessoas no mundo. Para a OMS, o
investimento em tratamento é essencial. Segundo estudo da entidade, de 2016,
cada dólar investido em tratamento poderia dar retorno de 4 dólares em termos
de melhora de saúde e habilidade de trabalho.
No Brasil, o investimento público em saúde mental previsto
para 2018 é de 1,3 bilhão de reais, segundo o Ministério da Saúde.
O atendimento é feito por meio da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial). Os
principais atendimentos em saúde mental são realizados nos 2.550 Centros de Atenção
Psicossocial (Caps) que existem no país.
Tratamento.
Gisele desenvolveu o
problema em 2003, após passar por uma turbulência em um avião pequeno. A partir
de então, a modelo passou a temer túneis, elevadores e qualquer tipo de lugar
fechado.
Segundo Yuri Busin,
psicólogo e diretor do Centro de Atenção à Saúde Mental – Equilíbrio (Casme),
esse tipo de temor é comum em quem tem o transtorno. Tanto uma experiência
traumática quanto outros problemas de saúde mental podem desencadear a síndrome
do pânico.
O tratamento inclui a
psicoterapia e o uso de remédios prescritos. “O medicamento faz a pessoa
se sentir bem e a psicoterapia faz ela entender o problema e modificar a forma
como ela age”, afirma Busin.
Durante uma crise, o
psicólogo aconselha que a pessoa tente se acalmar. “O melhor é se recolher.
Apesar de a sensação ser uma das piores possíveis, ela passa depois de um
tempo”, diz Busin.
A psiquiatra Ana Paula
aconselha quem tiver suspeita de síndrome do pânico deve procurar uma avaliação
de um especialista o mais rapidamente possível. “O tratamento é longo. Quanto
mais cedo a pessoa buscar ajuda, melhor.”
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