Nas sex shops físicas ou on-line, a oferta de produtos que prometem
deixar a vagina "novinha em folha", "como se nunca tivesse tido
relação sexual", é farta. Só que esses géis adstringentes criados com a
proposta de deixar a vagina mais "apertadinha" -- é comum que a
divulgação trate o efeito como "virgem de novo"-- podem causar vários
problemas se forem usados de maneira errada ou excessiva.
A composição varia de marca para marca, mas, de acordo com Caroline
Alexandra Pereira, ginecologista e obstetra da Clínica Viváter, de São Paulo
(SP), a planta medicinal hamamélis é um componente comum, por causa da ação
adstringente. "Combinada a outros componentes, proporciona a impressão de
que o canal vaginal fica mais estreito e enrijecido", conta.
O que quase ninguém conta, de acordo com a ginecologista, é que os
produtos adstringentes são capazes de remover a lubrificação vaginal, pois provocam o ressecamento da vagina, o que,
durante a penetração, dá a sensação de um canal mais justo, fazendo essa
simulação da "vagina virgem". "Por isso, o homem precisa
executar movimentos mais suaves na hora da penetração e ir aumentando a
intensidade aos poucos, com muita paciência, como se fosse mesmo a primeira vez
da mulher. Uma penetração feita de forma bruta pode acabar machucando a
parceira", explica.
Segundo Cristina Carneiro, ginecologista e obstetra, de São Paulo (SP),
não há contraindicação. "Porém, mulheres que apresentam pouca lubrificação
não devem usar, pois o adstringente resseca ainda mais a vagina", afirma.
O mito da vagina larga.
Aqui, cabem algumas reflexões: por que há pessoas que ainda acham que a vagina "se alarga conforme o uso"? E, apesar de a comunicação desses
produtos ser voltada para as mulheres, existe, de fato, a possibilidade de elas
obterem prazer com eles? Para Cristina, o "retorno à virgindade" não
passa de um grande mito. Após a perda da virgindade, a única mudança que
acontece é íntima, pequena e fica bem escondidinha, que é o rompimento do hímen. Não há alargamento da vagina e esses produtos são
mais indicados para o prazer, na maioria das vezes, masculino, pois a sensação
de contração é prazerosa para eles", argumenta.
Apelos à libido masculina à parte, é bom ressaltar que o uso frequente
desses produtos também oferece perigos para os homens. "Há um maior risco
de trauma peniano, caso a vagina exerça uma resistência muito grande contra o
pênis. A falta excessiva de lubrificação pode deixar o órgão mais vulnerável a
traumas e microtraumas, condições que predispõem o desenvolvimento de fibroses
no corpo peniano, com consequente aparecimento de curvaturas, afinamentos e até
mesmo redução do tamanho do pênis", fala Paulo Egydio, urologista formado
pelo HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo) com especializações na Mayo Clinic e na Cleveland Clinic Foundations
(EUA).
A recomendação do médico é que o casal aposte no bom senso para obter uma
lubrificação ideal --nem excessiva, nem escassa-- , pois a proposta do adstringente é causar prazer mútuo e
não unilateral, oferecendo maior satisfação com segurança.
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