Fique
atento aos sintomas e tente ajudar da melhor forma possível.
A vida não é fácil.
Para ninguém. Olhando de longe pode parecer. A grama do vizinho é sempre mais
verde que a nossa. Mas cada um é que sabe o peso que carrega. A dor que isso
lhe traz. Depressão não é frescura. Confira abaixo dez sinais que no
suicídio quem fala, também faz.
No geral, a gente
suporta. Dá um jeito. Reza. Pede a Deus que ajude. E a fé empurra a vida. Mas
cansado? Sem forças? Às vezes, nem isso dá. Tem horas que a alma mingua. E o
desespero toma conta de tudo. Esse é nosso primeiro sinal de aleta.
1- O desespero. Um
tsunami de emoções.
O desespero vem como um
tsunami. Invade. Devasta. Agrava a aflição reinante. Esmaga a alma. Inunda tudo
em volta. Uma angústia amarga e insuportável paralisa qualquer ação. A pessoa
se vê sem saída. É a treva.
Não há esperança. Nem
perspectiva de melhora. O sofrimento parece que veio para ficar de vez. Será
eterno. Não há propósitos. Nem planos de vida. A fé? O tsunami arrastou com
ele.
2- Ruminação intensa de
pensamentos e afetos.
A pessoa remói mágoas e
afetos. Busca erros, mágoas recentes e do fundo do baú. Se sente vítima. Da
vida, do acaso, dos que ela acha que não colaboraram. Ou não se importaram o
suficiente. Se ressente achando que ninguém se importa com ela. Rumina perdas e
rancores. Muitas vezes mostra raiva. Outras, só tristeza. Porque tristeza, a
gente aprende, é muito melhor aceita que a raiva.
3- A impotência frente
à vida.
A tristeza desce como
nevoeiro. Cobre o bom senso. Não permite que se enxergue o caminho à frente.
Tudo fica confuso. Sem nitidez. A apatia dá o tom do momento.
A pessoa se culpa. Acha
que prejudica as pessoas amadas. Se sente inadequada. Um peso. Se envergonha de
tudo. Do que faz e julga errado. E do que deveria, mas não consegue fazer.
O tumulto dos afetos
devora a energia de qualquer um. Irritado. Ansioso. Explosivo, algumas vezes. O
medo de perder o controle é enorme. Cansado. Abatido. Sem forças para lutar.
Nem para resistir. A guerra está perdida. Ele é prisioneiro da dor. Refugiado
de si mesmo.
Se retira. Se isola.
Evita encontros. Some dos amigos, dos vizinhos, da família. A sensação é de
vácuo. Um vazio de alma.
4- Alterações dos hábitos.
Desleixo geral. A
pessoa já não liga para nada. Toca o dane-se. Não liga para banho. Escovação de
dente. Cortes de cabelo. Barba. A higiene pessoal em geral fica um lixo. Quem
está em volta reclama. Fala. Ela não atende. Ou atende de má vontade.
Descumpre ordens
médicas. Não toma a medicação adequada. Ou toma mais do que deveria. Não se
cuida. Passa a comer demais. Ou o contrário, não come.
Pode ficar dias sem
pregar o olho. A insônia é sua companheira. Noites em claro. Dorme quando está
amanhecendo. Ou nem isso. Acordar é difícil. Sair da cama é um tormento. Também
pode dormir dias inteiros. Sem conseguir sair da cama.
5- A baixa na
produtividade.
Se não dorme, não
levanta. Se não levanta, não chega. Ânimo zero. Vontade? Nenhuma. A vida perde
o gosto. Desbota.
Começam as faltas. Os
atrasos. Os descontos. As caras feias dos chefes e dos colegas. A pessoa,
cobrada, se sente um lixo. Desvalorizada. Incompreendida. Mais na lama ainda.
Pequenas
responsabilidades passam a pesar como fardos pesados. Nem sempre possíveis de
se carregar. Esquecimentos são frequentes. A concentração fica comprometida.
Cabeça cheia, cabe mais alguma coisa? Nada. Nem ordem de chefe, nem matéria
nova de escola. A criatividade é fosca. O raciocínio fica mais lento.
O velho e bom tesão,
some. A produtividade na cama também fica prejudicada. No olho do furacão, ter
tesão como? Tudo vira sacrifício. Até as coisas que mais eram prazerosas são
deixadas de lado.
6- Automutilações e
comportamento perigoso.
Pessoas que se
automutilam mostram que estão precisando de ajuda. Há os que se cortam, se
queimam, se batem, se flagelam.
Também há os que se
desprotegem. Pessoas que jogam roleta russa com a vida. Dirigem em altas
velocidades, muitas vezes bêbados. Drogados. Fumam demais. Bebem demais. São
formas de se matar. Num suicídio passivo. Parece que foi por acaso. Olhando
bem, não foi.
7- Despedidas e
preparações de partida.
Pessoas que tentam se
matar se despedem. Pessoalmente ou em redes sociais. Deixam bilhetes,
mensagens, posts. Procuram pessoas queridas que não viam há muito tempo.
Arrumam seus papéis. Organizam seus pertences. Os armários. Doam objetos de
valor ou estimação. Se despedem de alguma forma. Nem sempre a gente percebe.
Nem sempre é claro.
Percebo, no
consultório, que esse processo é mais do que despedida. Na verdade é uma chance
de ver se alguém percebe, e lhe salva a tempo. Ninguém quer morrer de verdade.
As pessoas querem é parar uma dor que não suportam mais. Nessas horas, um
abraço, um olhar amigo, uma conversa aberta pode salvar uma vida.
8- Histórico de
situações graves.
Preste atenção em
histórico de abusos físicos, sexuais, bullying. Perdas recentes. Separações.
Demissões. Crises financeiras. Humilhações. Tudo isso pode desencadear na
pessoa a vontade de morrer para se livrar do sofrimento. De situações que ela
vive como sem saída.
Histórico de suicídios
próximos ou na família. Pequenas tentativas anteriores de suicídio. São fatores
que devem deixar a gente já de orelha em pé.
9- Melhoras súbitas.
Com a terapia e o
tratamento adequado, a tendência é melhorar. Mas quando a tristeza e a apatia
dão lugar a uma rápida melhora, fique atento. É aí que muitos dos suicídios
acontecem. Porque o deprimido, mesmo muito sofrido, não tem forças nem para se
matar.
Mas quando melhora,
tem. Esse é o risco. Nessas horas cuidado redobrado. Presença direto do lado.
Não deixe sozinho, não.
10- Avisos de suicídio.
Nenhum suicídio vem do
nada, de uma hora para a outra. Eles vêm escrevendo uma história. Numa
linguagem cifrada que, nem sempre, a gente consegue ler. Infelizmente.
Eu não aguento mais. Eu
quero sumir. Dormir e não acordar mais. Ir embora numa viagem sem volta. Não
quero mais dar trabalho. Não tenho saída. Eu não queria ter nascido. É melhor
mesmo eu morrer.
É comum as pessoas
próximas desvalorizarem os avisos. Acharem que é só para chamar a atenção. Para
aparecer. Dizem que quem quer se matar não avisa. Não é assim que funciona.
Quem fala não faz?
Engano seu. Cão que ladra, morde também. Quem se mata, avisa. É preciso
reconhecer os sinais. Encarar de frente. Olhar no olho. Esclarecer.
- Você está pensando em
morrer? Você está me dizendo que quer se matar?
Verbalizar a ameaça
assusta. Isso é bom. Faz com que a pessoa leve um susto ao ouvir de outra boca
sua ameaça. Seus medos. Muitos suicídios são cancelados assim.
Fale sem medo. Abra o
verbo. É preciso falar sobre suicídio. Em alto e bom som. Para que pare de ser
tabu. E passe a ser normal. Não é bom. Mas existe e precisa ser enxergado.
Evite o discurso pronto
falando tudo de bom que ele é e tem. Ou pior, falando em como a pessoa é
ingrata por não ser agradecida e feliz com o que tem. Não piore a situação.
Escute sem julgamentos. Um ouvido atento e paciente ajuda mais que uma boca
nervosa.
A morte nunca é fácil
para quem ama. Nunca é suave com quem fica. Mortes sabem ser rascantes. Mas a
morte de quem fez a própria mala para partir, essa é de todas a pior. Porque
deixa a alma ferida em carne viva. Mergulhada em culpas. Culpa de não ter feito
mais. De não ter percebido. De ter errado.
E raivas. Dele ter se
matado mesmo com tudo o que recebeu. Apesar dos seus sacrifícios. Sem pensar no
seu sofrimento.
É comum a família ter
vergonha. Esconder o suicídio. Dar uma desculpa qualquer. Passar a manter
distância segura dos amigos, vizinhos para evitar fofocas. Besteira. Depressão
não é vergonha, é doença. Um câncer na alma. Ter vergonha de que?
É preciso falar sobre o
suicídio. Falar bem alto. Sem medo. Olhar a fera de frente. Só assim ele para
de matar quem a gente ama. Porque a solidão de quem pensa em morrer é enorme. E
nosso silêncio é cruel.
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