Suicídio é um tema
importante, que precisa ser debatido. Mas muita gente teme que esse debate
acabe servindo de estímulo para quem não está bem. É por isso que a série “13
Reasons Why”, do Netflix, gerou tanta polêmica desde que foi lançada, a ponto
de ter virado tema de alguns estudos, como um que acaba de ser publicado no
periódico Social Science & Medicine.
Para quem não sabe
direito do que se trata: a série conta a história de uma garota de 17 anos que
decide acabar com a própria vida após sofrer bullying e abuso sexual. Depois do
lançamento da primeira temporada, as buscas no Google sobre suicídio cresceram
quase 20%. Na imprensa norte-americana, especialistas alertaram que muitos
jovens estavam criando listas de “13 razões para” se matar. Nos EUA, essa é a
segunda principal causa de morte na faixa dos 15 aos 29 anos de idade, e
notícias do tipo deixaram pais e mães desesperados.
Mas qual foi o impacto
sobre os adolescentes que assistem à série? Pesquisadores da Universidade da
Pensilvânia e de três outras instituições conduziram uma pesquisa com 729
jovens de 18 a 29 anos e detectaram que os efeitos são mistos: para alguns, a
série é benéfica, enquanto para outros, os mais vulneráveis, a ideação suicida
piora.
O trabalho mostrou que
os jovens que pararam de assistir à série após alguns episódios relataram pouco
otimismo em relação ao futuro e apresentaram um risco maior de suicídio. Os
estudantes que participaram do estudo foram que mais sofreram com a influência
negativa.
Já quem viu a primeira
e a segunda temporada inteiras foi beneficiado e apresentou menor tendência a
se automutilar ou apresentar pensamento suicida em relação aos jovens que não
assistiram nenhum episódio da série. Esses telespectadores assíduos também
demonstraram maior interesse em ajudar alguém com ideação suicida a mudar de
ideia.
A equipe também
constatou que o alerta exibido pela Netflix antes da segunda temporada não
evitou que jovens mais vulneráveis deixassem de assistir aos episódios. Na
verdade, a iniciativa só aumentou o interesse deles no conteúdo.
No ano passado, um
outro estudo parecido, feito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul com
base em questionários respondidos por telespectadores brasileiros e
norte-americanos, trouxe resultados parecidos. Uma parte dos telespectadores
passou a ter menos pensamentos suicidas após ter assistido à série, e a maioria
se sentiu menos propensa a cometer bullying por causa dela. Porém, quase 5% dos
jovens sem histórico de depressão disseram ter cogitado se matar depois de ver
os episódios, o que é bem preocupante.
Dois fenômenos que é
preciso levar em conta quando se trata do tema suicídio. Um deles é o chamado
efeito Werther, em alusão a um romance de Goethe que, no século 18, levou
leitores a se matarem da mesma forma que o personagem do livro. Isso também
acontece hoje em dia, depois que a imprensa noticia com detalhes o suicídio de
gente famosa.
Por outro lado,
histórias de pessoas que superaram a vontade de morrer têm efeito positivo
sobre quem está com ideação suicida – é o chamado efeito Papageno, em
referência ao personagem da ópera A Flauta Mágica, de Mozart, que desiste de se
matar.
Abordar o tema do
suicídio exige responsabilidade. O site da série no Brasil conta com um guia de
discussão para que adultos assistam a série com os jovens. Também exibe os
contatos do Centro de Valorização à Vida – CVV (www.cvv.org)
e do Safernet (www.helpline.org.br),
um canal de orientações e ajuda para quem sofre bullying ou é assediado na web.
É difícil saber se essas medidas são suficientes para proteger jovens
vulneráveis. Mas fazer de conta que suicídios não acontecem também não resolve
o problema.
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