SÃO
PAULO - O estilo de vida nas grandes cidades, permeado
por estresse, má alimentação e
sedentarismo, pode estar afetando não só a saúde mental de seus moradores, mas
também o funcionamento do sistema mais importante do corpo: o cardiovascular.
Um estudo da Universidade de São Paulo (USP),
que vem acompanhando há anos os indicadores de saúde de milhares de
paulistanos, revela que só 7% dos moradores adultos da capital paulista têm uma
saúde cardiovascular ideal, condição que diminuiria o risco de problemas como
enfarte ou acidente
vascular cerebral (AVC).
O achado faz parte
do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa), maior pesquisa
epidemiológica do País que monitora, desde 2008, 15 mil adultos de 35 a 74 anos
em todo o Brasil. Só na capital paulista são 4 mil participantes que têm
constantemente seus índices e hábitos de saúde monitorados. “Para definir o que
seria um score de saúde cardiovascular ideal, utilizamos uma metodologia da
Associação Americana do Coração que considera sete indicadores: hipertensão,
diabete, dislipidemia (colesterol alto), índice de massa corpórea (IMC), dieta,
atividade física e tabagismo”, explica Isabela Benseñor, professora associada
da Faculdade de Medicina da USP e uma das pesquisadoras do Elsa.
Para cada um dos sete
indicadores, há cenários considerados ideais. No caso do IMC, o participante
precisava estar abaixo de 25 para que fosse classificado como adequado. No caso
da dieta, o ideal é que ele consumisse quatro porções de frutas e vegetais por
dia, pelo menos duas porções de peixe ou frutos do mar por semana, apenas 450
calorias de bebidas açucaradas por semana, entre outras recomendações. Foram
classificados com a saúde cardiovascular ideal os participantes que apresentaram
de cinco a sete indicadores adequados.
De acordo com a
pesquisadora, os vilões mais comuns são os relacionados a uma má alimentação ao
longo da vida. “Temos o costume de ingerir muito sal e gordura e poucas frutas
e verduras, o que torna comum problemas como hipertensão, diabete e obesidade”,
relata.
Mudança
de hábitos.
Participante do estudo,
a aposentada Joselina Cardoso Menotti, de 64 anos, não tem todos os indicadores
em situação ideal, mas nos últimos anos têm tentado melhorar os hábitos após
uma juventude que classifica como “rebelde”. “Tenho diabete e hipertensão e já
estive com sobrepeso. Tenho um histórico familiar porque minha mãe e irmãs
tiveram esses problemas, mas meu estilo de vida quando era mais jovem piorou a
situação. Eu não me cuidava. Tinha compulsão por doce. Se eu fazia um pudim,
queria comer inteiro.”
Depois que começou a
ser monitorada pelo Elsa, Joselina diz ter ficado mais consciente do seu estado
de saúde e das possíveis consequências de não se cuidar. “Faço caminhada, evito
doces. Eu estava pesando 74 quilos há uns três anos e hoje peso 61”, destaca.
“Mesmo que já tenha desenvolvido a doença, eu sei que posso me cuidar e
mantê-la sob controle. Não quero perder a visão ou ter um membro amputado por
causa de uma diabete.”
Dados.
As doenças
cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil e no mundo. Na cidade
de São Paulo, 24,2 mil pessoas morreram por problemas no aparelho circulatório
em 2017, último dado disponível no Datasus, portal de dados do Ministério
da Saúde. Somente de enfarte, foram 6.397
vítimas naquele ano na capital, uma média de 17 óbitos por dia.
Para Carlos Alberto
Machado, da diretoria da Sociedade Brasileira de Cardiologia, algumas
características comuns das grandes cidades, como trânsito, violência urbana e
longas jornadas de trabalho dificultam a adoção de um estilo de vida mais
saudável. “Com medo da violência, as pessoas se fecham mais, não fazem
atividades ao ar livre. E com a correria comem mais alimentos industrializados,
na maioria das vezes ricos em gordura e sal”, diz o especialista.
Ele afirma que pelo
menos 40% dos casos de enfarte e 80% dos AVCs estão ligados à hipertensão e,
portanto, poderiam ser evitados com uma dieta com pouco sal, exercícios físicos
e controle da doença. “Trinta minutos de exercício por dia já são suficientes
para ajudar na saúde cardiovascular.”
Preste
atenção.
Veja abaixo as
condições ideais em cada um dos sete indicadores utilizados pela Associação
Americana do Coração e pela USP para medir a saúde cardiovascular. Para que
você esteja em uma situação favorável, ou seja, com baixo risco para doenças
cardiovasculares, é preciso que ao menos cinco dos indicadores esteja adequado:
Pressão arterial.
Índice ideal deve ser
de até 120 na máxima e 80 na mínima (12 por 8), sem diagnóstico prévio de
hipertensão.
Glicose/açúcar no
sangue.
O nível de glicose
medido no exame de glicemia de jejum não deve ultrapassar os 100 mg/dL.
Colesterol.
Nível de colesterol
total de até 200 mg/dL, sem diagnóstico prévio de hipercolesterolemia.
Tabagismo.
Não ser fumante
atualmente ou, no caso de ex-fumantes, ter interrompido o uso do cigarro há
pelo menos dois anos.
Peso.
Índice de massa
corpórea entre 18,5 e 25 (o IMC deve ser calculado dividindo o peso pela altura
ao quadrado)
Atividade física.
Pelo menos 150 minutos
semanais de atividade física moderada ou 75 minutos de atividade vigorosa.
Alimentação.
A dieta ideal deve ser
composta por pelo menos 4,5 porções de frutas e legumes por dia, 2 porções de
peixe, marisco ou outro fruto do mar por semana, 3 porções de grãos integrais
por dia, até 1,5 grama de sódio por dia e no máximo 450 calorias de bebidas
açucaradas por semana.
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