“Desde o pronunciamento desencontrado do Bolsonaro na semana passada,
comecei a ter ataques de pânico. Fazia anos que não sentia nada parecido.
Acordei à noite sentindo a cama inteira vibrando com os batimentos do meu
coração. Não sabia se a falta de ar era por causa da crise ou do coronavírus!” (N., mulher, 34, Rio de Janeiro).
“Meu TOC que estava sob controle descompensou. Estou cheio de manias e
rituais de checagem de novo.” (F., homem, 55, Florianópolis).
“Tenho asma e estou muito ansiosa, com medo. Cada vez que ouço as
notícias, minha ansiedade e tristeza crescem. Não quero nem ir ao supermercado.
Você acha que vou ficar ruim de novo?” (C, 45, mulher, São Paulo).
Um efeito colateral das incertezas da pandemia e do próprio isolamento de
quase três semanas em algumas cidades é um aumento importante dos níveis de
estresse e de ansiedade em parte da população. Se essa situação já é complicada
para quem não tem história de transtornos emocionais e impacta diretamente a
qualidade de vida, o que dizer das milhões de pessoas ao redor do globo que
enfrentam ou já enfrentaram alguma dificuldade de saúde mental?
Os relatos acima são algumas das mensagens que pacientes e ex-pacientes
me enviaram na última semana. Crises de ansiedade, sintomas depressivos,
aumento da sensação de alerta permanente, rituais de limpeza e checagem
exacerbados, descontrole dos episódios de bulimia, aumento do consumo de
álcool, são apenas alguns dos sintomas que começam a explodir nos consultórios
reais ou virtuais de psicólogos, psiquiatras e psicoterapeutas.
Incertezas sobre o rumo da pandemia, receio de adoecer ou de perder
amigos e parentes, tensão constante, informações desencontradas, “fake news”
alarmistas, “fake news” negacionistas, confinamento, medo de ficar sem emprego
ou sem dinheiro, perda de contatos sociais, entre outros fatores, são a matéria
prima desse caldo que enche a vida das pessoas de ansiedade e estresse.
Para além do aumento do sofrimento emocional e do maior risco do
surgimento ou do agravamento de quadros de transtornos de ansiedade, depressão
e abuso de drogas, em casos mais extremos, há maior risco de violências de
diversas naturezas (abuso sexual, autoagressão, violência doméstica) e, também,
de suicídio.
Como, então, lidar com nossa saúde mental em meio a esse turbilhão
emocional e às agruras da vida em casa, já que romper o isolamento nesse
momento não é uma opção? Vão aí algumas estratégias possíveis em meio a uma
infinidade de outras possibilidades e caminhos:
1. Não existe um menu
ideal de conduta para todo mundo. Cada um tem que elaborar seu próprio manual que, aliás, pode e deve ser
atualizado de tempos em tempos.
2. Você é sempre o
melhor termômetro! Quando
perceber que não está bem, dispare o alerta! Mas os outros (amigos) podem
ajudar com algumas observações sobre seu comportamento.
3. Regule a quantidade
e frequência de notícias sobre a covid-19, principalmente se você percebe que a exposição está fazendo mal. De
preferência sempre a fontes confiáveis de informação. Cuidado redobrado com
“fake-news” e conteúdos das redes sociais.
4. Crie uma rotina, tentando ordenar as atividades do dia.
5. Tente encarar um dia
após o outro. Não pense em
prazos máximos e e infindáveis de quarentena.
6. Aproveite seu tempo
em casa para fazer coisas que você gosta e que na correria do dia a dia não consegue
realizar.
7. Tente manter
atividade física regular, mesmo
dentro da sua casa (algumas cidades permitem saídas para praticar exercícios,
desde que sejam locais abertos e sem aglomerações).
8. Procure atividades
que ajudem você a desfocar da ansiedade e da preocupação exagerada com sintomas. Ver uma série, ler um livro,
meditar, fazer relaxamentos, enfim, qualquer coisa que mantenha sua
concentração longe das suas preocupações.
9. Não se isole! Esse é o momento de ligar para amigos, fazer
vídeo-chamadas, usar suas redes de apoio. Isolado sim, sozinho nunca!
10. Ao menor sinal de
que as coisas não vão bem, peça ajuda de profissionais de saúde mental ou procure serviços de apoio, como o CVV. Boa parte
deles está atendendo à distância!
11. Não tome remédios
(ansiolíticos, antidepressivos) sem orientação médica, não beba todos os dias para relaxar e,
também, não beba muito de uma só vez!
12. Se perceber que o
isolamento está levando a um aumento de tensão com seu parceiro, tente entender
como melhorar isso. Não deixe essa
tensão crescer e sair do controle para tomar uma atitude!
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