FONTE: Maria Fernanda Ziegler - iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
Ana não vacinou e nem pretende
vacinar seus filhos. David e Beatriz, de quatro e oito anos, só tomaram a BCG
ainda na maternidade. “Não teve jeito, infelizmente eles nasceram no hospital e
aí não tem como fugir”, diz. Ela e o marido são contra a vacina por acreditarem
que os filhos devem desenvolver condições suficientes para combater as doenças
sozinhos e que a imunização vinda da seringa tolheria esta capacidade. Por
enquanto, além de gripes e
resfriados, os meninos tiveram apenas catapora e, de acordo com a mãe, são
supersaudáveis.
“A vacina impossibilita que o sujeito
desenvolva condições suficientes para combater o vírus. A médica dos meus
filhos segue a linha antroposófica e eu acredito que isto vai lapidar o
organismo deles e criar uma propriedade muito individual", explica.
Apesar de histórias como a de Ana
ainda serem exceção no País, tem aumentado o número de pais brasileiros que
pensam como ela. Um crescimento que vai na esteira de uma
compreensão mais alternativa da maternidade, que prega, entre outras coisas, o
parto fora do hospital.
Ao não vacinar seus filhos, Ana está
infringindo uma lei nacional. No Brasil, a não imunização pode fazer com que os
pais respondam judicialmente por negligência. No início do mês, a Promotoria da
Infância e Juventude de Jacareí (SP) obteve liminar que obriga os pais de duas
crianças a levar seus filhos de 5 e 9 anos aos postos de vacinação.
Ana sabe disto, tanto que pediu para o nome
ser alterado nesta reportagem. “Sempre tenho que mentir. Quando matriculei meus
filhos na escola, menti que eles tinham todas as vacinas. Aliás, tenho um
atestado da médica das crianças, em que ela também mente. Afinal, como médica,
ela pode ter seu diploma cassado."
Para o pediatra Aroldo Prohman, do
Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria
(SBP), o que Ana faz é negligência. "Ela expõe as crianças a doenças como
meningite meningocócica, sarampo e coqueluche, males que podem levar a
morte", argumenta. "Imunizado, o risco de contrair essas doenças é
muito menor. Não tem comparação."
Além disso, afirma o pediatra, a criança que não
toma vacina põe em risco a vida de outras crianças e adultos. Prohman
explica que a criança não vacinada pode transmitir até mesmo doenças já
erradicadas ou quase erradicadas no País. “Se a criança contrai sarampo em uma
viagem ao exterior e, na volta, tem contato com alguém que não esteja imunizado
ou que sofra de alguma doença que o deixe mais vulnerável, como câncer ou
imunodeficiência, esta criança com sarampo vai transmitir a doença."
Paulo Tavares, presidente da Associação
Brasíleira de Medicina Antroposófica afirma que a indicação da associação é
seguir a cartilha de vacinação do Ministério da Saúde e que médicos que
descumprirem isso devem ser punidos. “A Medicina Antroposófica no Brasil é
totalmente favorável à vacinação em massa instituída pelo Ministério da Saúde
por ser o Brasil um País com população diversificada cultural e
economicamente”, disse. “Seria uma temeridade não vacinarmos nossas crianças
apenas por diletantismo filosófico do século passado", completa.
Ele explica que uma criança de classe média
ou alta poderia até viver muito bem sem a vacinação por conta de seu próprio
ambiente social, praticamente asséptico. Mas ela não ficará confinada 24
horas por dia. "Se a criança rica não vacinada passa a doença para o filho
da empregada, por exemplo, coitado do menino pobre, que não terá condições de
se tratar adequadamente."
Rui Nogueira é médico da família e autor do
livro ‘Atenção as vacinas’. Para ele, a questão da obrigatoriedade da vacinação
extrapola os aspectos preventivos. “A gente sempre acredita no que os gestores
dizem. Mas hoje é um comércio tão grande em relação às vacinas que você não
acredita no que fazem com crianças para conseguir lucrar. Quem não quer vender
um remédio que será usado em massa?”, disse.
Ele usa como exemplo as múltiplas doses de
vacinas para doenças como sarampo, rubéola, varíola e poliomielite, erradicadas
há mais de uma década no País. “Vejo a carteira de vacinação de crianças que
receberam 15 doses contra a pólio e não tem caso da doença no País há mais de
20 anos. Há um excesso. É preciso criar uma comissão de alto nível e sem
conflito de interesses para estudar este assunto”, disse.
“Vacina é uma coisa maravilhosa. Há doenças
que já foram erradicadas, como é o caso da varíola, só por causa da vacina. Mas
precisamos ficar desconfiados com algumas coisas. Nesse caso, os faturamentos
são gigantescos”, completou.
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