FONTE: JULIANA VINES, DE SÃO PAULO (www1.folha.uol.com.br).
O cardápio da moda para
emagrecer inclui colheradas de gordura --o que parece estranho, já que uma
colher de sopa de óleo de coco, linhaça ou cártamo, populares em sites de
dieta, tem cerca de 120 calorias, o mesmo que um bombom recheado.
Mas, segundo os fabricantes,
apesar do alto valor calórico, essas gorduras vegetais aceleram o metabolismo e
aumentam a saciedade, ajudando na perda de peso.
As promessas são vendidas a
preços salgados: 260 ml de óleo de semente de chia, rico em ômega 3, custam R$
59,90 na rede Mundo Verde (preço sugerido).
O sucesso das gorduras para
emagrecer começou com o óleo de coco, que explodiu no verão de 2012. De lá para
cá a lista só cresceu (veja ao lado).
Ainda está longe, porém, de
haver um consenso sobre os benefícios dos produtos.
"A literatura científica
sobre o óleo de coco é ampla", defende Natana Martins, nutricionista do
Herbarium, marca de fitoterápicos e suplementos. Segundo ela, o efeito
emagrecedor é atribuído à propriedade termogênica da gordura do coco (que
aumenta a queima de calorias no corpo).
Mas, para o nutrólogo Edson
Credidio, pesquisador da Unicamp, essa ação ainda não foi comprovada. "As
pesquisas encontraram tanto benefícios como malefícios no alimento e não foram
capazes de explicar o mecanismo envolvido", diz.
A nutricionista Annie Belo,
pesquisadora do Instituto Nacional de Cardiologia, no Rio, orienta um estudo
sobre óleo de coco com 130 voluntários. A pesquisa será apresentada em março,
mas já há uma prévia dos resultados.
"O óleo teve efeito
adjuvante na redução da circunferência da cintura", diz. Ela ressalta que
os participantes seguiram uma dieta acompanhada por nutricionista, porque o
óleo de coco, sozinho, engorda. "Não há milagre."
À espera do efeito milagroso
descrito em blogs, a assessora jurídica Sheilla Lovato, 27 anos, tentou
emagrecer só com óleo de coco, primeiro em colherada, depois em cápsulas.
"Deu muito errado. Passei
mal", conta. Ela tomou 500 gramas de óleo em um mês. "Tentei de todo
jeito: puro, na salada... Não funcionou. Tive diarreia e ânsia. Se emagreci foi
de tanto passar mal."
Tomar o óleo pode mesmo causar
diarreia, principalmente em grandes quantidades, diz a nutricionista e
bioquímica Lucyanna Kalluf.
Ela recomenda no máximo duas
colheres de chá ao dia, aliadas a uma alimentação saudável. "Óleo de coco
é uma gordura saturada --pode aumentar o colesterol."
ÔMEGAS.
Mais novos no arsenal das
dietas, os óleos de chia, cártamo (planta da família do crisântemo), abacate e
linhaça são boas fontes de ômega 3, 6 e 9, gorduras mais saudáveis que as
saturadas e que ajudam na manutenção da saúde cardiovascular.
Mas não emagrecem, de acordo
com a nutricionista Ana Maria Lottenberg, do Laboratório de Lípides do Hospital
das Clínicas de SP. "É uma falácia. Quem emagrece tomando óleo é porque
faz outras mudanças alimentares em conjunto", diz.
A estudante Nicole Olive, 19
anos, toma três cápsulas de óleo de cártamo por dia há quatro meses e perdeu
três quilos. "Dá resultado, sim", diz. Mas, além de tomar o óleo,
Nicole cortou refrigerante e frituras e caminha quase todo dia. "Acho que
as cápsulas ajudam a controlar a fome."
O óleo de cártamo é fonte de
ômega 6, ácido graxo essencial que também é encontrado no óleo de soja, canola
e milho. "Não precisamos consumir ômega 6 do cártamo, que é caríssimo. É
melhor variar entre outros óleos mais baratos", diz Lottenberg.
O ômega 9 do abacate é o mesmo
do azeite, e o ômega 3 do óleo de chia e de linhaça é encontrado nesses
alimentos na forma de semente. "Não faz sentido comprar o óleo, mas as
sementes de linhaça e chia, sim, porque têm fibras e aumentam a sensação de
saciedade", diz ela.
Para a nutricionista Alessandra
Rodrigues, o brasileiro já consome muita gordura. "Tomar um suplemento via
oral ultrapassaria as recomendações diárias." E não importa se a gordura é
boa ou ruim: "Em excesso, vai engordar e fazer mal".
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