OS JOVENS DE HOJE SÃO MENOS CRIATIVOS?...
FONTE: noticias.discoverybrasil.uol.com.br
Ao longo dos últimos
20 anos, a escrita ficcional produzida por jovens tornou-se menos criativa,
mais linear e menos susceptível a conter elementos mágicos, relata um novo
estudo. Já as obras de artes visuais produzidas por adolescentes tornaram-se
mais complexas e sofisticadas.
Os resultados,
publicados na revista Creativity Research Journal, corroboram evidências
crescentes de que a criatividade está em declínio entre os estudantes
norte-americanos, educados para se sair bem em provas padronizadas em vez de
pensar fora dos padrões.
“Em relação à
escrita, é difícil não questionar as mudanças no sistema educacional dos
últimos 20 anos, sobretudo com o advento do programa No Child Left Behind, que
enfatizou o ensino para a aprovação”, afirma Katie Davis, da Universidade de
Washington, especialista em desenvolvimento humano e educação que analisa como
a mídia digital afeta os jovens do país. ”A ênfase na redação de cinco
parágrafos e em estruturas lineares não deixou muito espaço para a exposição a
riscos”, acrescenta. “Incentivar qualquer tipo de expressão criativa é muito
difícil na era atual, em que há muito em jogo nesses exames”.
A imaginação e a
criatividade são essenciais para alimentar inovações e estratégias pouco
ortodoxas de resolução de problemas no mundo dos negócios, cultura e até mesmo
esportes. Mas embora os cientistas tenham se dedicado durante mais de cem anos
a refinar os meios de mensurar a inteligência, o foco na compreensão da criatividade
só começou há apenas 15 ou 20 anos, recorda Jonathan Plucker, psicólogo
educacional da Universidade de Connecticut, em Storrs.
Uma das explicações
se deve à maior dificuldade de estudar a criatividade. Ela não pode ser
avaliada por meio de questionários de múltipla escolha, e exige discussões
demoradas (e, portanto, dispendiosas) sobre a capacidade humana de resolução de
problemas.
Atualmente, o padrão
mais aceito de avaliação da criatividade é o Teste Torrance de Pensamento
Criativo, que avalia a originalidade na criação de usos incomuns para canetas e
outros objetos cotidianos. Segundo um estudo publicado em 2010, desde 1990 as
pontuações desse teste têm diminuindo nos Estados Unidos. A revelação estampou
as manchetes dos jornais e alimentou temores de uma “crise de criatividade” no
país.
Temendo que o teste
de Torrance não traduza as situações da vida real, Davis e seus colegas
reuniram textos e quadros produzidos por adolescentes ao longo de um um período
de 20 anos, começando em 1990. Nesse intervalo, a internet se popularizou e o
foco foi desviado do sistema educacional dos Estados Unidos. O objetivo dos
pesquisadores era descobrir como essas tendências poderiam influenciar a
produção criativa dos jovens.
Para isso, a equipe
reuniu mais de 350 obras publicadas em uma revista chamada Teen Ink, com
textos, fotos e desenhos produzidos por adolescentes desde 1989. Metade foi
criada no começo dos anos 90, e a outra, mais recentemente. Dois artistas
plásticos treinados avaliaram cada obra de arte usando uma série de códigos,
que avaliaram a composição de fundo, a abordagem estilística e outros detalhes.
Comparadas à arte
produzida há duas décadas, as obras recentes tendiam a preencher toda a tela e
incluíam traços mais estilizados. As figuras eram colocadas fora do centro e
incluíam colagens, objetos encontrados e manipulação digital. Segundo Davis,
todos esses detalhes sugeriram um aumento da criatividade, provavelmente pela
maior exposição proporcionada pela Internet a uma grande variedade de obras de
arte inspiradoras. Atualmente, também há muito mais opções disponíveis para se
produzir arte no computador.
Já a escrita criativa
mostrou a tendência oposta. Quando os pesquisadores codificaram e compararam 25
histórias recentes com 25 antigas, publicadas em uma revista anual literária
por uma escola de artes criativas de New Orleans, descobriram que os textos
antigos eram mais experimentais.
Uma história do
início dos anos 90, por exemplo, descrevia um personagem que visitava um
psicólogo que era um caranguejo. No final da história, o protagonista agarrava
o caranguejo com um par de pinças e o jogava em uma mala , dizendo: “Esta
noite, vou jantar caranguejo cozido”!
As histórias mais
recentes tendiam a se basear na realidade, com cenas monótonas de jantares de
Ação de Graças e disparos acidentais. As histórias recentes também progrediam
em ordem cronológica, em vez de dar saltos no tempo.
Os professores não
devem ser responsabilizados por priorizar os padrões em vez do pensamento
criativo, sugere Plucker. Para que possamos ver um renascimento da
criatividade, todo o sistema educacional precisa mudar, no sentido de dar aos
alunos liberdade para explorar novas ideias. Quer a criatividade seja
aprendida ou determinada geneticamente, as evidências sugerem que todos nós
estamos subutilizando nossa imaginação, acrescenta.
“Analisem qualquer
sistema de responsabilidade do Estado, como o No Child Left Behind, e me
mostrem um único indicador de criatividade ou resolução de problemas”, desafia
Puclker. “Eles não estão lá. Isso é tudo de que precisamos saber”.
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