FONTE: JOHANNA NUBLAT, DE BRASÍLIA (www1.folha.uol.com.br).
Apesar de o percentual de
fumantes ter caído no Brasil à quase metade do que era no fim da década de
1980, essa diminuição foi consideravelmente menor entre pessoas com baixa
escolaridade.
O dado sugere que políticas
antitabagismo elaboradas nas últimas décadas tiveram alcance maior entre
pessoas de maior escolaridade.
É o que aponta uma análise
lançada ontem pela Fiocruz, ACT (Aliança de Controle do Tabagismo) e
Universidade Federal Fluminense.
O estudo compara as
prevalências de tabagismo na população de 15 anos ou mais encontradas em duas
pesquisas nacionais -uma feita em 1989 e a outra, em 2008.
Nesse intervalo, o percentual
de fumantes passou de 32% para 17,2%. A presença do fumo caiu 57,2% entre
pessoas com pelo menos um ano de ensino universitário (12 anos de estudo no
total). Em 2008, o tabagismo alcançava 10,9% dessa faixa.
Entre brasileiros com oito a
11 anos de escolaridade, a queda do tabagismo foi de 49%, fixando-se em 13,6%.
E, entre pessoas com até sete anos de estudo (até o fundamental incompleto), a
redução registrada foi de 36,7%, ficando em 22,1% em 2008.
"A gente não sabia que a
redução do tabagismo havia sido significativamente maior nas classes mais
altas", afirma Paula Johns, diretora-executiva da ACT.
O estudo coordenado pela Fiocruz
sugere que, apesar de as políticas adotadas por governos e pelo Congresso terem
sido bem-sucedidas como um todo, faltou um olhar focado nas desigualdades.
"[Essa] pode ter sido uma
das razões para a atual concentração da epidemia de tabaco na população mais
desfavorecida", diz a pesquisa.
A preocupação com a concentração de fumantes entre pessoas de menor escolaridade já foi mencionada, mais de uma vez, pelo ministro Alexandre Padilha (Saúde).
MAIS SENSÍVEL.
A análise também considera uma
maior vulnerabilidade dos brasileiros com menor escolaridade às doenças
relacionadas ao tabagismo.
O trabalho destaca que, em
2011, a taxa de mortalidade por câncer de pulmão entre pessoas com até oito
anos de estudo foi 3,8 vezes maior do que entre as com oito anos ou mais de
escolaridade. No caso de doença pulmonar obstrutiva crônica (como enfisema), a
mortalidade no grupo com menos anos de estudo foi sete vezes maior em relação
aos que ficaram mais tempo na escola.
Vera Luiza da Costa e Silva,
pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Fiocruz) e coordenadora do
estudo, diz que há outras situações a serem consideradas, como a menor procura
dos serviços para parar de fumar por pessoas de classes econômicas mais baixas.
"Temos que adequar nossas
políticas, colocar um óculos de equidade, testar mensagens de advertência que
atinjam a população de baixa renda, na zona rural."
A pesquisadora defende
aumentar ainda mais o preço do cigarro, estratégia que se estima especialmente
eficaz entre pessoas de baixa renda.
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