FONTE: CLÁUDIA COLLUCCI,
DE SÃO
PAULO (www1.folha.uol.com.br).
A americana Gabi Ury,
16 anos, de Boulder, no Colorado (EUA), tenta hoje quebrar o recorde mundial de
mais tempo na posição de prancha (um tipo de abdominal).
Filha caçula do
antropólogo norte-americano William Ury, especialista em negociações de
conflitos, e da brasileira Lizanne, ela nasceu com uma síndrome que leva à
falta de alguns músculos. Por isso, já fez 14 cirurgias.
Ela diz que crianças
com necessidades especiais devem tentar coisas que lhes parecem impossíveis.
*
Nasci com uma síndrome
rara, chamada Vater, que afeta a coluna, músculos, alguns órgãos e membros.
Tenho escoliose grave e falta de alguns músculos na panturrilha, nos glúteos e
em parte do meu abdômen. Passei por 14 cirurgias, a primeira delas aos quatro
meses, na medula espinhal, mas isso nunca me impediu de nada. O único incômodo
eram as internações e as dores da recuperação.
Desde pequena, sempre
gostei do Guinness, o livro dos recordes. Em quase todos os Natais eu ganhava
um.
Comecei a ficar muito
interessada em entrar para o Guinness. Já tentei alguns recordes, como o de
maior número de meias no pé.
Consegui colocar 60
meias no meu pé esquerdo. Lembro que meu irmão entrou no quarto e levou um
susto: "Por que um pé está maior do que o outro?". Mas, infelizmente,
ainda faltaram umas 15 meias para eu quebrar o recorde.
Em agosto de 2013,
passei por uma seleção para o time de vôlei da minha escola. As pessoas tinham
que correr uma milha [1,6 km], mas minha treinadora disse que eu poderia fazer
o exercício de prancha, já que correr às vezes me cansa muito.
Quando meus colegas
terminaram, 12 minutos depois, eu ainda estava fazendo a mesma prancha. Naquela
noite me inscrevi para o recorde do Guinness de abdominal de prancha feminino.
Cerca de seis semanas
depois, recebi um e-mail do Guinness World Records confirmando o recorde atual
[de 40 minutos e um segundo], mas há alguns dias chegou uma mensagem muito
gentil da atual recordista mundial da prancha abdominal, Eva Bulzomi. Ela disse
que há algumas semanas quebrou seu próprio recorde mundial anterior de 40 min.
Esse novo recorde, de 1 hora, 5 minutos e 18 segundos, ainda não foi
oficialmente reconhecido pelo Guinness, mas está em processo. Ela não queria me
desanimar, mas informar que o meu objetivo teria que mudar.
Mesmo com essa notícia,
estou tão determinada como antes para quebrar o novo recorde. Já preparei todos
os requisitos necessários para a prova. Preciso, por exemplo, de duas câmeras
me filmando de frente e de lado.
Em novembro, passei por
mais uma cirurgia e fiquei um mês e meio me recuperando. No início de janeiro
deste ano, comecei a treinar e já no primeiro dia consegui ficar 20 minutos na
prancha.
Meu recorde não oficial
é de cerca de uma hora. Não é fácil, mas tento não ficar olhando para o relógio
e assisto a vídeos da internet.
Hoje, dois dias depois
de completar 16 anos, vou tentar oficialmente quebrar o recorde. Vou fazer isso
por mim, já que deve ser muito legal ser a melhor do mundo, mas também para inspirar
outras pessoas a superar seus limites, além de ajudar a angariar fundos para o
Children's Hospital, em Denver, que tem me ajudado muito.
Gostaria de mostrar às
pessoas que a melhor forma de lidar com as crianças com necessidades especiais
é tratá-las de maneira completamente normal. Se as pessoas as tratam de forma
diferente, elas não experimentam coisas que parecem impossíveis.
As crianças com
necessidades especiais não precisam ser superprotegidas ou mimadas. A maioria
delas é muito mais forte do que se pensa.
Devo muito do que sou
aos meus pais, que sempre me incentivaram a ir além. Eu sei dos meus limites,
não vou fazer nenhuma loucura.
Penso que a qualquer
momento posso ter que voltar para o hospital, então quero aproveitar bem cada
dia em que não estou lá.
Quero inspirar as
pessoas a transformar suas fraquezas em forças. E quero contar a minha história
para que outros possam fazer coisas que nunca esperariam fazer.
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