Análises de uma pesquisa
americana realizada na Austrália sugerem que há uma ligação entre o consumo de
qualquer tipo de chocolate e melhorias no funcionamento do cérebro.
A pesquisadora
especializada em nutrição Georgina Crichton, da Universidade do Sul da
Austrália, analisou uma pesquisa que teve início na década de 1970 nos Estados
Unidos e observou mais de mil pessoas durante 30 anos.
O objetivo da
pesquisa, chamada Maine-Syracuse Longitudinal Study (MSLS) - pois envolvia a
Universidade do Maine e o Instituto Luxemburgo de Saúde -, era observar a
relação entre a pressão sanguínea das pessoas e o desempenho do cérebro.
Isto foi feito
durante décadas até que os pesquisadores resolveram ampliar o estudo e observar
outros fatores de risco cardiovascular, incluindo diabetes, obesidade e fumo. A
pesquisa teve ao todo sete coletas de dados entre os participantes, feitas com
cinco anos de intervalo.
O pesquisador que
liderou o estudo, Merrill Elias, decidiu perguntar aos participantes o que eles
comiam e incorporou um novo questionário já na sexta onda de coleta de dados,
entre os anos de 2001 e 2006.
As respostas a esse
questionário deram pistas sobre a dieta dos participantes que interessaram os
pesquisadores.
Descobrimos que as
pessoas que comiam chocolate pelo menos uma vez por semana tendiam a ter um
melhor desempenho cognitivo. É significativo, toca vários domínios cognitivos.
A pesquisadora
australiana entrou em contato com Merrill Elias, que liderou o MSLS, para fazer
uma nova análise da pesquisa.
"Examinamos se o
consumo habitual de chocolate estava associado à função cognitiva
(funcionamento do cérebro - memória, concentração, raciocínio, processamento da
informação) em cerca de mil indivíduos no MSLS. Descobrimos que aqueles que
comeram o chocolate pelo menos uma vez por semana tiveram um melhor desempenho
em múltiplas tarefas cognitivas, se comparados àqueles que comiam chocolate
menos de uma vez por semana", disse Georgina Crichton.
O que foi analisado.
Entre os aspectos
analisados estavam memória verbal, memória visual e espacial, organização e
raciocínio abstrato, além da habilidade de recordar uma lista de palavras ou
onde um objeto foi colocado.
"Com exceção da
memória funcional, essas relações não foram atenuadas com o controle
estatístico para fatores cardiovasculares, de dieta e estilo de vida. Isto
significa que independentemente de fatores como idade, sexo, nível de educação,
colesterol, glicose, pressão sanguínea, energia total e consumo de álcool, a
relação entre consumo de chocolate e cognição continuava sendo importante",
afirmou Crichton.
A pesquisadora afirma
que existe uma crença histórica nos benefícios do chocolate, mas baseada apenas
na experiência e observação. Agora a ciência está começando a identificar bases
para estas crenças.
"O chocolate e
os flavonoides do cacau eram associados à melhoria em uma série de problemas de
saúde que vinham desde tempos antigos e os benefícios cardiovasculares já
tinham sido estabelecidos, mas sabíamos muito menos a respeito dos efeitos do
chocolate na neurocognição e comportamento", disse Crichton.
Ao leite.
Outra boa notícia é
que se antes os pesquisadores davam mais ênfase ao chocolate amargo, desta vez
não importa se o chocolate consumido é o mais escuro ou ao leite.
"A maioria das
pesquisas se concentrou nos efeitos intensos do chocolate amargo ou das bebidas
ricas em cacau. Isso acontecia porque o chocolate amargo tem mais flavonoides
do que o chocolate ao leite. Os participantes recebiam chocolate ou cacau para
consumir e seu desempenho cognitivo era testado horas depois", disse
Crichton.
"Nossa pesquisa
é inovadora porque pediu para as próprias pessoas registrarem seu consumo
normal/habitual. Em segundo lugar, essas pessoas teriam consumido todos os
tipos de chocolate, e os dados nacionais sobre a dieta americana mostram que
chocolate ao leite era o tipo mais frequente consumido no momento da pesquisa.
Em resumo: descobrimos essa associação positiva sem isolar apenas o chocolate
amargo."
Apesar do entusiasmo
da pesquisadora, Crichton e Merrill Elias ainda não sabem a causa exata da
melhora no desempenho do cérebro. E Elias vai mais longe.
"Não é possível
falar sobre causalidade, porque isso é quase impossível de se provar com nosso
projeto. Mas podemos falar sobre direção. Nosso estudo definitivamente indica
que a direção não é que a habilidade cognitiva afeta o consumo de chocolate,
mas que o consumo de chocolate afeta a habilidade cognitiva", afirmou o
pesquisador americano.
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