quarta-feira, 2 de março de 2016

PRODUTOS VENDIDOS SOB O SOL ESCALDANTE PODEM LEVAR À MORTE...

FONTE: Nelson Rocha, TRIBUNA DA BAHIA.


O consumo desses alimentos pode causar diarreia, intoxicação ou até mesmo levar à morte.

Produtos perecíveis como iogurte, margarina e queijos, que deveriam ser postos à venda sob refrigeração, como ocorre nos supermercados e mercadinhos de bairros, são vendidos por ambulantes em ruas centrais da capital baiana pondo em risco a saúde da população. Concentrados principalmente na Avenida Joana Angélica, esquina com a Rua Nova de São Bento, os vendedores fazem a feira despejando nas calçadas caixas até com produtos de limpeza, mas o perigo está nos derivados do leite oferecidos aparentemente dentro da data de vencimento, porém fora de geladeira e, em sua maioria quente, após longas horas de exposição sob o sol escaldante do verão.

“É um perigo para intoxicação alimentar. No calor, a alta temperatura é ideal para a formação de bactérias e micro-organismos, que podem causar infecção intestinal, diarréia, desidratação e pode levar até a morte. Contaminação alimentar é um perigo de vida para o ser humano”, alerta a nutricionista Amélia Duarte, que diz ser o consumo desses produtos “perigoso até para as pessoas sadias”. 

A jovem estudante Luana, 18, que trabalha na calçada da Av. Joana Angélica “de meio dia pra tarde”, diz adquirir a margarina cremosa e o iogurte em caixas e na mão de uma senhora que nem sabe o nome.
O primeiro produto é vendido a R$5, duas unidades, enquanto que o iogurte por R$ 2, a unidade. “Ela já vende aqui há 11 anos”, diz a jovem sobre a dona da mercadoria. “Isto eu não levo porque não está refrigerado”, diz uma consumidora sem se identificar, depois de comprar biscoitos e chocolate. Mas, não falta quem se arisque em levar pra casa os derivados do leite, única e exclusivamente por causa do preço em conta. 
“Eu compro porque no supermercado ta caro. Pobre não ta podendo comer mais queijo. O produto é o mesmo, só não estou pagando o lucro do supermercado. A gente morre de qualquer jeito”, declarou Maria de Lurdes Oliveira, 63, residente na Ribeira, revelando estar “passeando no centro da cidade”. Viviane Medrado, 22, auxiliar de farmácia, resiste à tentação de também comprar o mesmo produto por considerar “impróprio para o consumo, se não estar num refrigerador”. Mas leva salame e mortadela no montante da compra, apenas preocupada com a data de vencimento da mercadoria. A maioria das pessoas, porém, agem como Maria de Lurdes, sem receio de prejudicar a saúde. 
Os vendedores ambulantes expõem os produtos ainda nas caixas, de um lado e outro da avenida, no trecho da saída da Estação da Lapa. Todos parecem fazer parte de um mesmo grupo, apesar de se manterem afastados uns dos outros. O vendedor que se identifica como Zezão, afirma já trabalhar na área ha mais de 10 anos. Ele se baseia na validade para creditar os produtos e afirma que “uma vez ou outra aparecem uns policiais a paisana e levam tudo. A gente tem que sair correndo e deixar a mercadoria prá lá. Na sexta-feira passada eles apareceram. Aí é prejuízo puro”, pontuou. 
A titular da Secretaria Municipal de Ordem Pública, Rosemma Maluf, considera este comercio ativo da Joana Angélica, mas que também prolifera em outras ruas centrais e em alguns bairros da cidade, um crime contra o consumidor. “Uma coisa é ordenamento e outra coisa é vender um produto de forma incorreta. Isto é caso de polícia”, afirma. Para ela, o que se passa na Av. Joana Angélica já é “uma tradição. Eles trabalham de forma irregular”, acrescenta a gestora da Semop. 
A coordenadora de serviços diversos da Semop, por sua vez, revela: “A gente está em constante fiscalização e várias ações já foram efetuadas, mas eles persistem em voltar. Nós estamos sempre programando ações de apreensão de mercadorias. Eles não têm autorização, que não pode ser expedida por conta do condicionamento dos produtos. Todos já foram notificados”, garantiu. 

Já Karina Queiroz, sub-coordenadora da Vigilância Sanitária do município destaca que “a gente faz ações educativas e de fiscalização no comércio formal e em eventos de massa licenciados através da Sucom”.  Quanto à ousadia dos vendedores ambulantes em continuar oferecendo à população produtos que deveria estar refrigerados, ela afirmou que estes “não deveriam estar expostos”, e que ações individuais de orientação à população sobre os riscos das compras, e em conjunto com equipes da Semop, são constantes para inibir a comercialização.

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