O romance de Jorge Amado “Dona Flor e
seus dois maridos” é sempre usado para explicar como seria uma relação
poliamorosa, que envolve mais de duas pessoas de forma consensual. Mas, longe
da ficção, há combinações com muito mais flores nesse jardim do que apenas uma.
Ou várias flores e nenhum marido. Ou vários maridos e muitas flores. Ou só
muitos maridos e nenhuma flor… Enfim, as combinações das chamadas constelações
afetivas são muitas e proporcionais ao preconceito que elas precisam
administrar. É o que explica a pesquisadora Mônica Barbosa, que escreveu e
lança hoje em Salvador, o livro “Poliamor e Relações Livres: do amor à
militância contra a monogamia compulsória”, a partir das 18h, na
Boto-cor-de-rosa livros, arte e café, na Barra.
Mônica ressalta que tanto o poliamor
quanto as relações livres militam pela liberdade de vinculação afetiva e sexual
com mais de duas pessoas. Mas, há diferenças entre as duas práticas. “As redes
relações livres têm algumas divergências em relação ao poliamor. Uma delas é
com relação ao casamento, que quem vive uma relação livre é radicalmente contra
à regulação do estado sobre os relacionamentos.Na prática poliamorosa há a
possibilidade de uma polifidelidade, o que não é uma regra das relações
livres”, diferencia.
Mestre em Desenvolvimento e Gestão
Social pela Faculdade de Administração da UFBa, Mônica acredita que a
existência do poliamor e das relações livres é um reino fértil para a
proliferação do preconceito e do machismo. “As pessoas, de modo geral, quando
um homem está numa relação livre ou de poliamor com outras duas mulheres
colocam ele como um garanhão. Já a mulher sofre um preconceito muito maior
quando assume que não vive uma relação monogâmica. Eu sou mulher e já tive
muitas relações poliamorosas. A pressão social é muito grande com muito
preconceito, principalmente dentro das famílias”, explica Mônica que baseou seu
livro em pesquisas feitas no período em que morava em Porto Alegre, no Rio
Grande do Sul.
O sexo sempre que não é praticado entre duas
pessoas é considerado indecente. Isso é reforçado pelas instituições como
Igreja, Sociedade e mais recentemente pela política.
Mônica conta que
começou, desde a adolescência, a questionar as relações impostas pela sociedade
e daí surgiu sua inspiração para escrever o livro. “Nunca considerei a
exclusividade como uma propriedade do amor”, defende. Ela explica que nesse
tipo de relação não monogâmica o principal questionamento é uma nova forma de
encarar as relações. “A maioria das pessoas monogâmicas fazem um
discurso junto aos seus parceiros de fidelidade, mas acabam tendo relações
paralelas. Quem vive uma relação livre ou poliamorosa não tem isso. É muito
comum os homens aderirem a proposta mas quando a mulher começa a ter outras
relações eles começam a pressionar ela a voltar para a monogamia.
Muitas vezes as mulheres até aceitam e os caras continuam pegando geral”,
defende.
No seu trabalho de pesquisa, Mônica
diz que o público que adere a prática do poliamor ou das relações livres é bem
variado. “Não há uma faixa etária dominante, mas normalmente, vejo pessoas de
meia idade com mais intensidade mas também jovens”, explica Mônica que é
integrante do grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade – CUS/UFBa.
O poliamor é a possibilidade de as pessoas
estabelecerem vínculos afetivos e sexuais com mais de uma pessoa de forma
consensual. A monogamia vem de uma tradição milenar, que são validadas por
instituições como a Igreja
A pesquisadora indica que não há uma
fórmula para escolher a hora certa de aderir à prática das relações livres.
“Cada relacionamento é diferente. É mais provável conseguir fazer essa
transição quando a relação está boa e tem diálogo. Se a relação esta
desequilibrada e conflituosa traz um novo conflito”, argumenta.
A prática do poliamor ou das relações
livres suscita muita curiosidade com relação ao ciúmes. “As pessoas sentem
ciúmes por medo da substituição, de perder o parceiro ou a parceira. As
relações afetivas tem muito controle dos corpos do outro. Tem pessoas que não
veem problema no parceiro ter outras relações, mas tem gente que mão gosta”,
explica Barbosa que transformou sua dissertação de mestrado em um livro, a
partir do convite da Editora Multifoco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário