O
maior avanço trazido pelo remédio, de acordo com pesquisadores, está
relacionado à forma de uso. Ela reduz a duração do tratamento de sete para um
dia.
A Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou na terça-feira, 29, o registro de um
medicamento com potencial para facilitar de forma expressiva o tratamento da
malária e evitar recaídas. Batizada de tafenoquina, a droga é a primeira
aprovada nos últimos 60 anos para a principal forma da doença no País,
provocada pelo Plasmodium vivax. O maior avanço trazido pelo remédio, de acordo
com pesquisadores, está relacionado à forma de uso. Ela reduz a duração do
tratamento de sete para um dia. Hoje, boa parte dos pacientes, ao sentir uma
leve melhora, acaba abandonando a terapia. "Sem o esquema completo, a
pessoa pode apresentar a doença novamente", conta o médico especialista em
saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz da Amazônia, Marcus Vinícius Guimarães
Lacerda.
Transmitida pela picada
do mosquito anopheles infectado pelo protozoário, a malária provoca febre, mal,
estar, dores de cabeça e no corpo. Entre os meses de janeiro e agosto, foram
identificados no País 87 mil casos da doença. Provocada por um protozoário, a
malária é considerada endêmica no País. O tratamento hoje inclui duas drogas.
Uma delas é indicada para controlar a infecção aguda e outra, de 7 dias, a
primaquina, para a eliminação do parasita que se instala no fígado.
As recaídas acontecem
mesmo que o paciente não tenha tido um novo contato com o agente causador da
doença. Quando o tratamento com a primaquina não é finalizado, o protozoário
fica "adormecido" no fígado e, por razões ainda não conhecidas, pode
novamente se manifestar. Não há padrão para recaídas. Podem tanto ser mais
leves como muito mais graves do que a primeira manifestação da doença.
A tafenoquina foi
desenvolvida há cerca de 40 anos pelo exército americano, a partir da
primaquina. O princípio ativo, no entanto, ficou anos aguardando o
desenvolvimento e pesquisas que demonstrassem sua eficácia e segurança. A
retomada ocorreu há alguns anos, com uma pesquisa feita em parceria entre a GSK
e a organização não-governamental Medicines for Malaria Venture (MMV).
Pesquisas clínicas foram feitas no Brasil para o uso do medicamento. Cerca de
200 voluntários participaram do estudo.
O Brasil é o primeiro
país endêmico a aprovar o uso da tafenoquina. A droga já recebeu registro nos
Estados Unidos e na Austrália. Com o sinal verde da Anvisa, terá início em
janeiro um estudo para a incorporação da droga no Sistema Único de Saúde O
medicamento deverá ser usado nas cidades de Manaus e Porto Velho a partir de
janeiro do próximo ano, com duração de um ano. Se resultados forem considerados
bons, a droga poderá ser incorporada pelo Sistema Único de Saúde.
O registro concedido
pela Anvisa prevê que a tafenoquina seja dada para pacientes com mais de 16
anos. Ela substitui a primaquina e não dispensa o uso de medicamentos para a
forma aguda da doença. O novo medicamento não é indicado para mulheres grávidas
e para pessoas com deficiência na produção de uma enzima, a G6PD. Estima-se que
5% da população apresentam o problema. "Pessoas que com a deficiência que
tomam a tafenoquina podem ter efeitos colaterais graves, como a destruição das
células vermelhas", diz Lacerda.
Para evitar o risco, o
novo medicamento somente será usado depois da realização de um teste rápido,
feito para identificar a deficiência. Diretor do departamento de Vigilância de
Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Júlio Croda, afirma que esse
teste rápido será aplicado nas duas cidades. "Vamos acompanhar de perto
essa implementação, para ver a facilidade do uso do exame, a adaptação dos
profissionais", disse. O aparelho é semelhante ao que identifica as taxas
de glicose no sangue. Portátil e funciona por meio de baterias. Nos casos em
que a deficiência da enzima for identificada, a recomendação será usar o
medicamento tradicional (primaquina), mas de forma monitorada. "Hoje
sabemos que a primaquina também provoca o mesmo risco para pacientes com a
deficiência. O tratamento agora ficará mais seguro."
Médico da GSK, Roberto
Zajdenverg, avalia que a droga tem um potencial promissor. A droga é produzida
na Índia. À frente do estudo clínico realizado no Brasil com a droga, Lacerda
também está otimista com o impacto positivo que a droga pode trazer na redução
de casos no País. "Evitando as recaídas, será possível também reduzir a
circulação do parasita". Com menos pessoas doentes, menor o risco de o
mosquito anopheles se contaminar e passar e transmitir a doença para outras
pessoas. Há ainda outro fator importante, a identificação de novos surtos. "Hoje
não sabemos se um caso identificado é provocado por uma infecção nova ou uma
recaída", conta Croda.
Se resultados forem
positivos, afirma Croda, a nova droga poderá ser usada nas demais áreas onde a
malária é endêmica. Hoje, 38 cidades são consideradas prioritárias para a
doença.
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