Diversos estudos já
mostraram que o uso frequente de substâncias como álcool e maconha pode ter
repercussão na saúde física e mental dos filhos de usuários. Mas uma pesquisa
que acaba de ser publicada pela Universidade de Washington, nos EUA, sugere que
não é só o abuso ao longo da vida que conta – consumir cannabis apenas
durante a adolescência também pode ter impacto para os descendentes.
O trabalho, publicado
no periódico Psychology of Addictive Behaviors, analisou duas
gerações consecutivas. Os pais eram homens e mulheres de 426 famílias
norte-americanas que foram entrevistados a partir de 1980. Em 2002, quando os
participantes tinham cerca de 27 anos de idade, aqueles que tiveram filhos
foram recrutados novamente, e as crianças foram acompanhadas até a
adolescência.
A primeira geração
analisada foi dividida em quatro diferentes grupos: 1) não usuários; 2) pessoas
que usaram maconha somente na adolescência; 3) indivíduos que iniciaram o uso
só por volta dos 20 anos de idade; e 4) usuários crônicos ou frequentes. Os
pesquisadores avaliaram uma série de marcadores de saúde e qualidade de vida,
como uso de outras substâncias (como cigarro e álcool), nível de atenção, notas
na escola ou na faculdade, comportamentos de risco, envolvimento em crime e situação
financeira.
Usuários crônicos
apresentaram piores condições de saúde e qualidade de vida em relação a não
usuários, segundo a primeira análise. E aqueles que limitaram o uso de maconha
à adolescência ficaram no meio do caminho, com desempenho acadêmico e situação
financeira pior que a de não usuários.
Então a equipe foi
examinar a geração seguinte, ou seja, os filhos e filhas desses participantes
do primeiro estudo. Ao todo, 380 famílias foram incluídas na segunda leva. Como
esperado pelos pesquisadores, crianças e adolescentes cujos pais eram usuários
crônicos apresentaram uma tendência maior a usar álcool e maconha.
Mas o que surpreendeu a
equipe foi o comportamento dos filhos de quem usou maconha apenas na
adolescência: eles foram 2,5 vezes mais propensos a usar maconha e 1,8 mais
propensos a consumir álcool em relação aos filhos de não usuários.
Filhos de indivíduos
que começaram a usar maconha mais tarde, por volta dos 20 anos, não
apresentaram a mesma tendência a usar substâncias psicoativas. Porém, o estudo
indica que essas crianças e adolescentes apresentaram problemas de atenção e
notas mais baixas na escola.
Ainda são necessárias
mais pesquisas para confirmar esses resultados e entender essa conexão. É
possível, por exemplo, que o impacto de uma geração para outra tenha a ver com
atitudes em relação à maconha – muitos pais não veem grandes problemas em
flagrar o filho adolescente com a droga porque eles próprios tiveram suas
aventuras na juventude e depois pararam.
Nos EUA, 33 Estados já
legalizaram o uso medicinal e/ou recreativo da maconha, por isso é fundamental
que esse impacto futuro seja bem investigado. No Brasil, a droga ainda é
proibida, mas as opiniões sobre ela têm sido mais moderadas, o que pode
aumentar o acesso dos adolescentes à substância. Seja você contra ou a favor da
liberação, a maconha (assim como álcool) deve ser evitada pelos mais jovens.
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