FONTE: DA BBC BRASIL (www1.folha.uol.com.br).
Um
estudo em curso na Grã-Bretanha está testando o uso de hormônios para combater
a obesidade e substituir cirurgias de redução de estômago em pacientes obesos.
Os
hormônios são praticamente os mesmos liberados naturalmente pelo corpo após
todas as refeições e que indicam ao corpo que a fome foi saciada, explica à BBC
Brasil o líder do estudo, o médico Steve Bloom, chefe do departamento de
estudos sobre diabetes,
endocrinologia e metabolismo do prestigioso Imperial College, em Londres.
Os
médicos perceberam que esses mesmos hormônios são liberados em grandes
quantidades pelo corpo de pacientes que se submeteram à cirurgia bariátrica - e
esse seria um dos motivos para o sucesso da cirurgia em grande parte dos casos.
Agora, a equipe de Bloom quer replicar esse efeito mesmo que o paciente não queira
ou não possa se submeter ao procedimento cirúrgico.
"Ainda
estamos na fase de desenvolvimento, mas já mostramos que a iniciativa funciona.
Agora temos que torná-la disponível", diz Bloom à BBC Brasil.
Ainda
assim, diz ele, ainda serão necessários cerca de nove anos até que o
medicamento hormonal esteja devidamente testado, aprovado e pronto para ser
comercializado.
HORMÔNIOS.
Bloom
prevê que os hormônios devam causar poucos ou nenhum efeito colateral, por
serem "quase naturais" - sua alteração mais significativa é que estão
sendo desenvolvidos para seu efeito durar uma semana no corpo, em vez de apenas
alguns minutos.
Pacientes
obesos receberiam, assim, uma injeção semanal da droga - em alguns casos ao
longo da vida inteira, para controlar seu apetite e assim perder
peso.
Mas
Bloom diz que, até agora, tudo indica que a droga não causará dependência e sua
ingestão poderá ser interrompida, se necessário. "Se a pessoa ficar doente
e perder peso, por
exemplo, pode parar de tomá-lo. Ela também pode tentar uma dieta por conta própria e, se não conseguir emagrecer, voltar a
tomar o hormônio."
O
custo estimado do tratamento, com 52 injeções anuais, é de cerca de 3 mil
libras (R$ 10,2 mil) ao ano.
ESTUDOS
NO BRASIL.
Sua
equipe recebeu 2 milhões de libras (R$ 6,8 milhões) de um centro de
financiamento pesquisas para dar prosseguimento aos estudos e aos testes clínicos,
que podem ser parcialmente feitos no Brasil, diz Bloom.
"Escolheremos
três ou quatro países para os testes internacionais, e o Brasil é uma
possibilidade por ter boa infraestrutura e marcos regulatórios", explica o
médico, lembrando também que o país seria um "grande mercado" em
potencial para a droga em desenvolvimento.
Dados
do ano passado compilados pelo Ministério da Saúde apontam que a proporção de
pessoas acima do peso no Brasil avançou de 42,7%, em 2006 para 48,5%, em 2011.
Um
levantamento do mesmo ano feito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro
calculou em R$ 3,57 bilhões os gastos públicos do Sistema Único de Saúde (SUS)
com doenças relacionadas à obesidade, como males cardiovasculares, diabetes e alguns
tipos de câncer.
Em
março passado, o Ministério da Saúde publicou uma portaria reduzindo de 18 para
16 anos a idade mínima para realizar a cirurgia bariátrica em casos em que haja
risco ao paciente. A operação costuma ser indicada como um último recurso, em
pessoas com outros problemas de saúde associados ao excesso de peso.
Segundo
a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, o procedimento foi realizado 60
mil vezes no Brasil em 2010.
PROBLEMA
GLOBAL.
E o
aumento da obesidade no Brasil está longe de ser uma exceção. A Organização
Mundial da Saúde informa que o índice de obesidade infantil global aumentou de
4,2% em 1990 para 6,7% em 2010. A expectativa é de que quase 10% das crianças
do mundo sejam acima do peso ou obesas em 2020.
Bloom
diz à BBC Brasil que o problema está "cada vez pior" no mundo
inteiro, com consequências preocupantes.
"Por
motivos ainda não compreendidos, notamos que cânceres são duas vezes mais
frequentes em pessoas obesas", diz o médico.
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